Seminário Cosmologias

Início do evento
Final do evento
Início da inscrição
Final da inscrição
E-mail
centrodepesquisaeformacao@sescsp.org.br
Telefone
(11) 3254-5600
Docente responsável pelo evento
Marina Vanzolini
Local do evento
Outro local
Auditório / Sala / Outro local
Centro de Pesquisa e Formação Sesc - Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar Bela Vista - São Paulo.
O evento será gratuito ou pago?
Evento pago
É necessário fazer inscrição?
Com inscrição prévia
Haverá emissão de certificado?
Sim
Haverá participação de docente(s) estrangeiro(s)?
Sim
Descrição

Ao produzir um discurso sobre o mundo, uma cosmologia, a ciência moderna cria também uma forma de observá-lo que assume uma divisão básica: somos observadores de um universo que existe independente de nós. Porém, ao mesmo tempo em que isso acontece, a cosmologia científica, além de ainda não ter conseguido construir um modelo fechado para o que procura representar, possui uma característica peculiar que perturba a ordem científica: sujeito e objeto de conhecimento são inseparáveis. Aquela estrutura de pensamento, própria à grande divisão da filosofia moderna ocidental entre sujeito e objeto, e indissociável da compreensão de que homens produzem Culturas, enquanto a Natureza é única, gera também um modo de viver. De acordo com as evidências das últimas décadas, e cada vez mais atuais, algo presente nessa maneira de viver vêm produzindo não apenas o óbvio esgotamento dos recursos naturais do planeta - gerando uma crise climática sem precedentes -, mas uma ampla crise de nossas vidas, que atinge as muitas dimensões na nossa existência - políticas, estéticas, afetivas.

Ao nos aproximarmos de alguns regimes de pensamento estudados pela antropologia - disciplina que tem por objetivo traduzir em termos que nos sejam compreensíveis diferentes regimes de existência, e que vem nas últimas décadas apontando para aqueles problemas de forma enfática -, descobrimos maneiras radicalmente outras de pensar o cosmos, outras cosmologias. De que modo esse encontro com a alteridade nos obriga e ajuda a repensar nossos modos de conhecer e agir? Os modos de vida indígenas têm ocupado um papel central nesta discussão, à medida em que a compreensão das filosofias ameríndias revela como, de seu ponto de vista, a própria separação entre homem e natureza, da qual falamos acima, perde sentido. Radicalizando o compromisso de “levar a sério” o pensamento dos sujeitos que estuda, alguns antropólogos vêm defendendo que esses outros discursos sobre o cosmos não podem ser tratados como visões alternativas sobre um mesmo (o nosso) mundo, mas outros mundos em si mesmos.

No sentido de imaginar ainda outros modos de existência possíveis, as diversas práticas artísticas, que também se configuram como diálogos do ser humano com seu ambiente, ocupam um lugar de liberdade que pode nos transportar para um perto-longe de nós mesmos, criando condições de se refletir e viver em meio às questões colocadas por nossas experiências. Entre tantas outras maneiras de compreendê-la, talvez seja possível pensar na arte como aquela que, através de suas diferentes práticas, tenta criar um discurso sobre um mundo que, já que ele mesmo, extrapola as fronteiras da linguagem.

Assim, tomamos aqui a liberdade de usar o termo cosmologias para designar essas múltiplas - existentes ou imaginadas - formas de vida, colocando em diálogo ideias que vêm sendo desenvolvidas dentro da ciência, da antropologia e da arte a partir das práticas que definem cada um desses campos. Tendo em vista a necessidade que se coloca hoje diante de nós, e evidenciando as consequências que diferentes modos de pensar engendram, algumas questões surgidas desse questionamento geral deverão servir de guia para as reflexões e discussões que terão lugar ao longos dos três dias do encontro. Entre elas, estão: de que maneira a ciência moderna construiu a separação entre sujeito e objeto com a qual opera, e como essa divisão que acontece ali é parte fundadora do pensamento moderno? Como a cosmologia científica, a antropologia e a arte se posicionam diante dessa questão? Sobre que pressupostos a cosmologia científica estrutura o discurso científico sobre a origem do universo? De que maneira ela se diferencia da física enquanto prática científica? Como as variadas práticas de conhecimento indígenas lidam com isso que chamamos natureza? Que outras formas de organização política engendram? Quais as implicações políticas e estéticas dessas cosmologias? Qual o papel do pensamento mítico para essas e outras práticas? Qual o papel da arte no cenário em que vivemos hoje? De que maneira as práticas artísticas podem propor reflexões que lidem com a impossibilidade que temos de criar uma única imagem para o cosmos? Por fim, o que significa resistir - uma maneira mais elegante - para esses diferentes regimes de pensamento?

Acreditamos que, a partir do encontro entre essas diferentes práticas, e que aqui escolhemos apenas algumas, pode ser possível refletir um pouco sobre nossos próprios pressupostos no sentido da busca de um caminho de re-união (coexistência?) entre homem e cosmos.

***

Curadoria: Maria Borba (artista), Marina Vanzolini (antropóloga - usp) e João Paulo Reys (produtor audiovisual)

Imagem