Esta comunicação revela a contra-história da ‘contraviagem’ no mundo luso-atlântico e o protagonismo da mulher negra. A atenção historiográfica concentrou-se recentemente nas viagens do tráfico negreiro sentido oeste da África Ocidental - Novo Mundo, que eram fundamentais no processo de escravização para milhões de africanos. No entanto, esta comunicação expõe constantes mobilidades marítimas cativas navegando para o leste em direção à Europa a partir das Américas, conceituadas como ‘contraviagens,’ e examina como silêncios institucionais e nos documentos históricos obscureceram a multiplicidade de mobilidades geográficas cativas que resistiram a rotas pré-definidas para corpos negros. Relata dois casos: o primeiro de uma escrava afro-brasileira que faz uma contraviagem para a emancipação legal em Lisboa, e o segundo de uma africana forra embarcada pela Inquisição para ser encarcerada na metrópole. Utilizando livros de impostos de importação, processos inquisitoriais e petições de casamento legal para localizar mulheres afro-brasileiras residentes em Portugal, este artigo argumenta que a contraviagem foi particularmente transformadora nas vidas de mulheres escravizadas no mundo luso-atlântico, permitindo-lhes traçar cartografias alternativas da atividade diaspórica transimperial. Conclui considerando como podemos começar a teorizar a contra-história das contra-viagens para formar uma futura ferramenta conceitual e analítica (a “contra-viagem”) que efetivamente utiliza as epistemologias do Atlântico Sul para uma aplicação mais ampla.
