Lançamento: Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade

Autor discute os automatismos do discurso humano em obra baseada no filme alemão O enigma de Kaspar Hauser

Por
Lara Tannus e Paulo Andrade
Data de Publicação
Editoria

 

A obra Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade, de Izidoro Blikstein, Professor Titular do Departamento de Linguística da FFLCH USP, foi relançada no último mês de setembro em evento na Livraria da Vila, em São Paulo.

Baseado no filme alemão O Enigma de Kaspar Hauser, de 1974, dirigido por Werner Herzog, o livro aborda o uso da linguagem e chama atenção para os automatismos do discurso humano. “Observei como as pessoas utilizam termos, expressões e narrativas tão incorporadas à nossa mente que passam por serem naturais, quando na verdade elas têm uma origem puramente sólida e cultural”, explica o professor. 
 
Blikstein desenvolveu a pesquisa a partir do enredo apresentado no filme: um indivíduo que é inserido na sociedade após passar os primeiros 18 anos de sua vida isolado de qualquer contato humano. 

Cena do filme O Enigma de Kaspar Houser
“A realidade preside do nosso ponto de vista e Kaspar Hauser comprova isso. Ele é o contraponto do nosso universo estereotipado” explica Izidoro Blikstein. (Cena do filme O Enigma de Kaspar Hauser (1974), dirigido por Werner Herzog. Fonte: Cineplex.com)


Por sua criação livre de padrões e estereótipos, a personagem enfrenta dificuldades na convivência em sociedade e passa a questioná-la em diversos sentidos como religioso, lógico e linguístico. “O que me chamou atenção foi o choque entre a percepção de Kaspar Hauser pelo modo como as pessoas enxergam o mundo e o modo como elas produzem o seu discurso. Ele pôs em xeque as certezas da sociedade em que ele convive”, explica o autor.
 
Linguistas como Johann Heinrich Lambert e Ferdinand de Saussure foram base de apoio para o docente em sua análise. Lambert pela ideia de que é pela linguagem que aprisionamos a mente dos outros e, portanto, ela pode ser considerada fascista. Como exemplo, o docente relembrou o discurso nazista que categoriza padrões de raça e antirraça. “Isso foi incutido na mente das pessoas a tal ponto que o judeu era sinônimo de algo diabólico, destrutivo, e assim por diante”, comenta. 
 
Saussure é lembrado pela ideia de que o ponto de vista é que precede o objeto. Assim, Blikstein explica que essa ideia quer dizer que enxergamos a realidade de acordo com uma série de padrões de percepção que acumulamos ao longo da vida, e que, sem esses padrões, praticamente não enxergamos a realidade.
 
A obra pode ser adquirida no site da Editora Contexto.

capa do livro Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade