Laboratório inova ao estudar o papel e suas implicações

Novo laboratório da USP usa a tecnologia para estudar a fundo documentos com suporte em papel

Por
Eliana Bento e Thais Morimoto
Data de Publicação
Editoria

Capa mostra a marca d'água de uma das folhas
Desde o século XIII, as marcas d’água estão presentes nos papéis, garantindo sua procedência e qualidade. A imagem original ao canto foi destacada para a melhor visualização da marca d'água. Fonte: Acervo do Embira. Foto: Renan Braz e Thais Morimoto/Comunicação Social da FFLCH

Cavalo, cruz, coroa, partes do corpo… Houve uma época em que esses e outros elementos constituíam o processo de produção do papel, a fim de identificar o fabricante. O resultado desse método deu origem ao que chamamos de marca d’água, de certa forma, única, o que, junto a outros elementos,  garantia a autenticidade do papel. 

Logo do Embira
Logo do Embira. Imagem: Embira

Criado em 2023, o Embira, laboratório com sede na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, reúne diversos pesquisadores da Universidade em uma empreitada para estudar documentos em suporte de papel, tendo como um dos eixos a análise de marcas d’água, além de  outras características que constituem a materialidade dos documentos.

O grupo também busca entender as implicações do papel na sociedade, “o laboratório estuda e analisa documentos históricos com diferentes marcas d’água, pertencentes a arquivos brasileiros e portugueses, para identificar a produção, o uso, a circulação de papéis e suas mudanças ao longo do tempo”, explica o coordenador do Embira, o professor Phablo Roberto Marchis Fachin.

Por meio do trabalho do laboratório, evidencia-se como o papel é um objeto de diferenciação social. “Grande parte dos testemunhos escritos preservados em papel foram produzidos por apenas uma pequena parcela da sociedade, justamente aqueles que, por estarem em uma posição privilegiada, trataram de compor uma história apenas sob seu ponto de vista”, destaca o professor. 

 

Acervo do Embira
Acervo do Embira contém vários documentos de papel antigos. Fonte: Acervo do Embira. Foto: Thais Morimoto/Comunicação Social da FFLCH

Origem do Embira

O laboratório nasceu a partir de um trabalho de longa data com intensa atividade de pesquisa interdisciplinar, envolvendo pesquisadoras e pesquisadores do Instituto de Física, do Museu Paulista e da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, de acordo com Fachin. Uma dessas atividades é desenvolvida no âmbito de um Acordo de Cooperação entre a FFLCH e a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência da Cidade de São Paulo. Por meio do laboratório também se analisam manuscritos de diversos acervos, entre eles, o do Museu Republicano Convenção de Itu, do Arquivo Público do Estado de São Paulo e do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, para oferecimento de cursos e atividades de pesquisa. 

O laboratório reúne pesquisadores das áreas de História, Filologia, Conservação, Restauro e Física. “O trabalho realizado por meio do Embira também se sustenta no próprio tripé da Universidade de São Paulo: Ensino, Pesquisa e Extensão”, acrescenta o professor. As atividades do laboratório fazem parte do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, na Graduação e na Pós-Graduação, o que dialoga com as disciplinas ministradas na área de Filologia e de Língua Portuguesa. De acordo com Fachin, essa união “potencializa o modo de olhar os textos, acolhendo alunos de diferentes níveis em seu corpo de pesquisadores e promovendo atividades que alcançam a comunidade externa, a sociedade em geral”.

Marca d'água
A marca d'água está no Manuscrito de 1640 - Freguesia de Veçadas. Fonte: Acervo do Embira. Foto: Thais Morimoto/Comunicação Social da FFLCH​​​​​​

O nome Embira surgiu a partir de um documento de 1809 que aborda a fabricação e uso do papel no Brasil, até então uma novidade no país. "Remeto huma amostra do papel bem que não alvejado, feito em primeira experiência da nossa embira", está escrito na carta de Frei Vellozo ao Conde de Linhares, de 22 novembro 1809. Embira é “uma forma de constituir um elo entre a história de fabricação de papel no Brasil e a natureza do laboratório”. 

O Embira conta também com um acervo próprio composto atualmente por documentação datada do século XIV ao XX, abrangendo diferentes tipologias documentais, entre cartas, procurações, certidões, etc. Além disso, equipamentos para análise documental e oferecimento de oficinas. 

A inovação do laboratório está tanto no uso de equipamentos para ampliar o estudo dos textos escritos quanto na abordagem interdisciplinar e interinstitucional das questões postas pelos manuscritos. Ambos os aspectos manifestados pelas produções já alcançadas, pelos convênios e parcerias já mencionadas, com a participação de membros de diferentes áreas.

A equipe do Embira é formada atualmente por: 

Docentes:
Phablo Roberto Marchis Fachin - Letras - FFLCH (Coordenador)
Maria Aparecida de Menezes Borrego - História - Museu Paulista
Márcia de Almeida Rizzutto - Física - IF

Discentes:
Elisa Silveira Martins - Letras
Gabriel Henrique Furtunato Silva - História
Igor Alexandre Silva Cassemiro - História
Jean Gomes de Souza - História
Juliana Bittencourt Bovolenta - Física
Lucas Albertini Leal - História
Regina Jorge Villela Hauy - Letras

Colaboradora técnica:
 Wanda Gabriel Pereira Engel - Física

Mesa do Embira com diversos equipamentos do laboratório
Equipamentos do Embira. Foto: Thais Morimoto/Comunicação Social da FFLCH
A sede do laboratório ainda está em construção
A sede do laboratório ainda está em construção. Foto: Thais Morimoto/Comunicação Social da FFLCH