Incêndio no Museu da Língua Portuguesa

Em 2015, incêndio destruiu boa parte do museu, que “é único no país e prioriza o rigor científico na apresentação da história de nossa língua e de nossa cultura”

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Gabriela Ferrari Toquetti
Data de Publicação

“Os consultores do museu são professores universitários, alguns da FFLCH, e contribuíram com a concepção de sua expografia, que elege a diversidade linguística e o português brasileiro como centro, valorizando escritoras, escritores, compositoras e compositores do país”, de acordo com Vanessa Martins do Monte – Arte: Gabriela Ferrari Toquetti

Na tarde de 21 de dezembro de 2015, a Estação da Luz em São Paulo foi tomada pelo fogo. Um incêndio de grandes proporções havia atingido o Museu da Língua Portuguesa, aberto ao público pela primeira vez em 2006. Quando o incêndio foi controlado, já era tarde: grande parte do museu estava destruída. O bombeiro Ronaldo Pereira da Cruz, que atuou no local, morreu após ter sofrido uma parada cardiorrespiratória.

O laudo da perícia constatou que o incêndio foi iniciado por um refletor instalado em uma das salas do edifício. O problema é que esse refletor, assim como toda a Estação da Luz, não tinha auto de vistoria do Corpo de Bombeiros. O incêndio causou grande perda para a cultura brasileira, pois o Museu da Língua Portuguesa valoriza a diversidade linguística e os escritores, proporcionando aos visitantes uma imersão em vários aspectos do português.

Quase seis anos depois, em 2021, o museu foi reaberto, reafirmando sua importância em nossa cultura. A reinauguração conta com novas experiências audiovisuais e melhorias de infraestrutura e segurança, de acordo com o site do museu.

“Penso que seria interessante que a população fosse consultada a respeito do museu e do que ele deveria mostrar. Determinadas variedades linguísticas, por exemplo, poderiam ser melhor representadas caso houvesse um contato mais estreito com o público. Cada vez mais considero fundamental essa aproximação entre o museu, a cidade e o público”, afirma Vanessa Martins do Monte, professora do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Qual é a importância do Museu da Língua Portuguesa para o nosso país?

Vanessa Martins do Monte: O Museu da Língua Portuguesa é único no país e prioriza o rigor científico na apresentação da história de nossa língua e de nossa cultura. Os consultores do museu são professores universitários, alguns da FFLCH, e contribuíram com a concepção de sua expografia, que elege a diversidade linguística e o português brasileiro como centro, valorizando escritoras, escritores, compositoras e compositores do país. Além disso, cabe destacar a importância das exposições permanentes que convidam as/os visitantes a uma imersão na etimologia, por exemplo, área que suscita muita curiosidade do público em geral e sobre a qual, infelizmente, ainda se lê muitas inverdades e histórias fantasiadas.

Serviço de Comunicação Social: Em sua análise, o incêndio que ocorreu em 2015 revela um descaso com a preservação da nossa cultura?

Vanessa Martins do Monte: Penso que o incêndio revela um descaso mais amplo, com a segurança de quem transita pelo espaço público. Ficou constatado pelo laudo da perícia que o causador das chamas foi um refletor instalado em uma das salas do edifício, que não tinha auto de vistoria do Corpo de Bombeiros, assim como não o tem todo o complexo da Estação da Luz. Ou seja, permitir a circulação do público e dos trabalhadores por um edifício antigo, cujas lajes são em madeira, e que não possui uma vistoria é um descaso com a vida dessas pessoas.

Serviço de Comunicação Social: A reabertura do museu em 2021 trouxe uma nova esperança para a esfera cultural?

Vanessa Martins do Monte: Certamente, a reabertura traz nova esperança, na medida em que se reafirma a importância de um museu dessa natureza. Penso que seria interessante que a população fosse consultada a respeito do museu e do que ele deveria mostrar. Determinadas variedades linguísticas, por exemplo, poderiam ser melhor representadas caso houvesse um contato mais estreito com o público. Cada vez mais considero fundamental essa aproximação entre o museu, a cidade e o público.

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Vanessa Martins do Monte é mestre e doutora pela FFLCH-USP, é professora do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa da USP e coordena o Projeto MAP - Mulheres na América Portuguesa e o NEHiLP - Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa. Participa do ETeP - Edição de Textos em Português, grupo de pesquisa que prepara edições conservadoras e realiza estudos sobre a produção, transmissão e preservação do texto escrito, além de ministrar regularmente oficinas de paleografia. Integra o C4AI - Centro de Inteligência Artificial da USP (FAPESP/IBM), trabalhando com a constituição de córpus para o processamento de linguagem natural em português. Atua na área de Filologia, Paleografia, Codicologia, História da Língua Portuguesa e Humanidades Digitais. Desenvolve pesquisas junto a arquivos, como o Arquivo do IEB-USP e o APESP.