Nascimento de Emily Brontë

Autora de "O Morro dos Ventos Uivantes", o romance de Emily Brontë é considerado um clássico da literatura mundial

Por
Alice Elias
Data de Publicação

Nascimento de Emily Brontë
Segundo Vinícius de Oliveira, o principal aspecto de importância do romance de Emily Brontë "é a elaboração complexa e refinada de uma estrutura narrativa ambiciosa para o tempo." (Arte: Renan Braz)

 

Emily Brontë nasceu em 30 de julho de 1818, no Reino Unido. Foi uma romancista e poeta britânica, conhecida pelo romance O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights, em inglês), atualmente considerado um clássico da literatura mundial. Apesar de possuir apenas um romance publicado, a autora deixou grandes contribuições para a Literatura através de recursos avançados para seu tempo, como moldura narrativa, flashback, e personagens com profundidade psicológica.

Conversamos com Vinícius Domingos de Oliveira, mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH ) da USP e doutorando em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, também pela FFLCH, sobre o legado de Emily Brontë. Confira:

 

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Emily Brontë, para os leitores que ainda não a conhecem?

 

Vinícius de Oliveira: Emily Brontë foi uma romancista e poeta inglesa da primeira metade do século XIX. Filha de Patrick, reverendo anglicano, e irmã de Charlotte e Anne, também elas romancistas e poetas. Trabalhou como governanta e professora. Teve uma vida extremamente caseira. Fez pouquíssimas viagens para fora da cidade onde morava, Haworth. Morreu muito jovem e em decorrência de doença respiratória, assim como quase todas as pessoas da família.
Tinha muito apreço pela literatura, pelo desenho e pelas artes de modo geral. Não se casou e não teve filhos. Teve uma vida simples, porém sem passar necessidades. Sempre viveu em meio a dualidades: cultura letrada e trabalho manual; modernidade e atraso; industrialização e campesinato; campo e cidade; religiosidade e laicidade; mundo feminino e mundo masculino etc. Esse lugar social específico, a meu ver, enriqueceu seu talento literário e contaminou, de forma enérgica e vigorosa, sua obra, em especial seu único romance Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes).

 

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?


Vinícius de Oliveira: A principal contribuição de Emily Brontë para a Literatura está, sem sombra de dúvida, em seu romance Wuthering Heights. Publicado em 1847, pouco menos de um ano antes de seu falecimento, teve, em seu tempo, uma recepção morna, mas, com o passar do tempo, tornou-se mais e mais prestigiado pelos críticos e alcançou posição de destaque até mesmo no alto cânone da literatura inglesa.
Foi publicado sob o pseudônimo (masculino?) Ellis Bell, mas, alguns anos depois, através de um prefácio escrito pela própria irmã Charlotte, foi divulgado que a autoria era, na verdade, de Emily Brontë. O romance possui muitos aspectos de importância. A meu ver, o principal deles é a elaboração complexa e refinada de uma estrutura narrativa ambiciosa para o tempo (trabalho com moldura narrativa, flashback, multiplicidade narrativa, não confiabilidade do narrador, temporalidades alternadas, entre outros), embora também mereça destaque o inovador trabalho para com as personagens (dotados de uma psicologia profunda, motivações obscuras, moral incerta e deslizante etc.) e os materiais artístico-literários, utilizados de forma crítica e auto reflexiva - o Gótico, o Romântico e outras formas artísticas "antigas" foram sagazmente articuladas com formas e temas novos e recentes no âmbito do romance realista vigente no período.
Atualmente, tais contribuições podem repercutir nos leitores e na crítica interessados nas possibilidades que a forma literária tem de ser auto reflexiva e consciente quanto à sua própria historicidade e multiplicidade de materiais que a constitui. Dando um passo ainda maior, acredito que a obra possa ter ressonância atual para quaisquer interessados nos resultados literários vibrantes e explosivos que nascem a partir de uma consciência conectada, ainda que inconscientemente, ao seu processo sócio-histórico complexo, contraditório e pulsante, como acredito ser o caso de Emily Brontë.

 


Vinícius Domingos de Oliveira é mestre em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela FFLCH e doutorando em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês (FFLCH) e atua principalmente nos seguintes temas: Estudos Literários, Literatura e Sociedade, Cinema e Sociedade, Materialismo Histórico e Cultural e Crítica Cultural Materialista.
Para quem se interessar sobre o assunto, Vinícius escreveu, sob orientação do professor Marcelo Pen Parreira, dissertação de mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH), disponível em Entre e vá para o diacho: O morro dos ventos uivantes enquanto obra dialética.