Livro expõe transição da velha para a nova sensibilidade sonora na cidade de São Paulo

Obra organizada pelo professor José Geraldo Vinci de Moraes mostra evolução e particularidades históricas na cultura sonora paulistana

Por
Nilda Pais
Data de Publicação
Editoria


Dia 28 de outubro, às 19 horas, ocorrerá o lançamento do livro Cidade (dis)sonante: Culturas sonoras em São Paulo (séculos XIX e XX)  (Editora Intermeios Cultural, 403 páginas, R$ 67,00). A sessão de autógrafos será no Bar Canto Madalena, Rua Medeiros de Albuquerque, 471 – Vila Madalena, São Paulo.

O início do século 20 registrou uma inusitada metamorfose no horizonte sonoro contemporâneo. Nos grandes centros urbanos o regime de produção e recepção dos sons estava em transição para uma outra ordem associada a novas culturas e sensibilidades sonoras, sem que isso significasse demover completamente as antigas práticas ainda em uso. A cidade de São Paulo apareceu como um privilegiado laboratório de elaboração cultural deste incrível processo modernizador. O ritmo bem mais acelerado que o pequeno núcleo urbano paulista oitocentista viveu no início daquele século e a extraordinária miscelânea cultural que ali se estabeleceu, permitiram o aparecimento de um panorama sonoro e musical bastante fragmentado e de múltiplas características. 

Essa surpreendente dinâmica cultural em escala metropolitana movimentava as rumorosas ruas centrais da cidade, invadidas cotidianamente pelos gritos e algazarras dos trabalhadores de calçada e os sons de centenas de ambulantes e pregoeiros. Nelas os ruídos das máquinas modernas disputavam espaço com os relinchos, zurros, mugidos, latidos e cacarejos de centenas de animais. Muitas vezes as vias paulistanas eram ocupadas por dezenas de bandas com seus vibrantes “pa, pa, pa, pum” e “ta, ra, ta, tchim”, como identificou Mário de Andrade. 

O calendário fixo ou móvel das festas populares também colaborava com seus variados sotaques e estímulos sonoros. Somavam os rumores produzidos nos reluzentes cafés espelhados e nos ruidosos e boêmios cafés cantantes. Os animados teatros e os movimentados salões musicais apresentavam todos os tipos de vozes, dicções e gêneros. As taciturnas igrejas católicas ainda mantinham ambiente para práticas musicais permanentes. Os tradicionais pianos e vozes já conviviam com outros tipos de instrumentos, principalmente os violões e os violonistas de várias características e formação. 

Toda essa incrível força sonora foi absorvida de diversos modos pelas nascentes indústria fonográfica e radiofônica, que de maneira estonteante captaram, registraram e difundiram esse universo para patamares ainda desconhecidos, mudando definitivamente as sensibilidades e culturas sonoras. Ocorre que a historiografia de modo geral e a da música de maneira especial, pouca importância deram a esse movimentado e ruidoso quadro. Este livro pretende justamente identificar e discutir alguns aspectos desta rica história da cultura sonora, especialmente da cidade de São Paulo, permitindo ao leitor penetrar e escutar um pouco desse passado.

O organizador, José Geraldo Vinci de Moraes, é professor de Metodologia e Teoria da História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Tem Pós-doutorado pela Université Paris-Ouest Nanterre (2015) e doutorado em História Social pela FFLCH (1997). Possui graduação (1985) e mestrado (1989) em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Editor da Revista de História (2013-2017). Coordenador do Grupo de Pesquisa CNPq Entre a Memória e a História da Música e membro do Ludens - USP (Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas). Realiza pesquisas sobre História da Cultura Brasileira, com ênfase na cultura musical. Pesquisa também aspectos da cultura da cidade de São Paulo, sobretudo a musical no período da Primeira República. 

O livro poderá ser adquirido no site da Intermeios Cultural.

Com informações do organizador, professor José Geraldo Vinci de Moraes