Projeto de pesquisa precisa de voluntários com deficiência visual

O objetivo é investigar o reconhecimento de metáforas e em qual complexidade de usos nas pessoas com deficiência visual congênita e as que enxergam

Por
Eliete Viana
Data de Publicação


*Matéria atualizada em 06/03/2023, às 19h39

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP oferece vagas para voluntários em pesquisa sobre leitura audiodescrita para pessoas com deficiência visual.

Os voluntários vão participar do projeto de pesquisa interdisciplinar Recursos inferenciais na metáfora situada e audiodescrição – estudo contrastivo, que busca compreender como as conexões neuronais se configuram durante o reconhecimento de metáforas a partir da leitura audiodescrita por pessoas com deficiência visual congênita comparadas a pessoas que enxergam.

A coleta de dados será realizada por meio de ressonância magnética funcional no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

A ideia é selecionar 10 participantes, 5 homens e 5 mulheres, que cumpram as condições indicadas abaixo.

 Podem participar da pesquisa as pessoas:

- A partir de 18 anos, independentemente do gênero;

- Com deficiência visual congênita – segundo os critérios médicos oftalmológicos, são pessoas que deixaram de enxergar antes do desenvolvimento do córtex visual cerebral, que ocorre durante os primeiros anos de vida.


 Há restrições de participação para as pessoas com:

- Alterações cognitivas, sensoriais e/ou psíquicas;

- Implantes metálicos fixos localizados do quadril para cima, colocados com mais de 20 anos: pino, prótese, implantes dentários, etc;

- Implantes eletrônicos: marcapasso ou implante coclear;

- Suspeita de gravidez (principalmente o primeiro trimestre);

- Claustrofobia severa (pessoas que não conseguem usar elevador ou pegar um objeto embaixo da cama), já que terão que permanecer dentro do equipamento de ressonância magnética, que lembra um pouco um tubo, durante o exame. 


Pesquisa 

"Estudamos como os cegos congênitos reconhecem metáforas e em qual complexidade de usos. Os resultados desse projeto potencialmente vão auxiliar na compreensão de como as pessoas reconhecem metáforas e como podemos identificar métodos mais eficazes de fazer audiodescrições para pessoas com alguma deficiência de visão", comenta a coordenadora do projeto, Maria Célia Lima-Hernandes, professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV) da FFLCH. 

Com a pesquisa, espera-se monitorar a fluência verbal de leitura passiva, na competência de sinonímias e inferências de metáforas situadas e seus efeitos na região rotulada "caixa de letras". Como método, será utilizada a combinação de audiodescrições com ressonância magnética funcional. Tanto as pessoas com deficiência visual quanto as videntes utilizarão máscaras escuras para impedir qualquer interferência decorrente de visão ambiental.

Este projeto de pesquisa é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido em conjunto com a Associação Brasileira de Assistência à Pessoa Deficiente (Laramara) e com o Instituto Jundiaiense Luiz Braille de Assistência ao Deficiente da Visão, entidades que possuem a expertise de profissionais no campo da deficiência visual.

E, dentro da USP, por ser um projeto interdisciplinar, tem a parceria de unidades em diversas áreas, como: Instituto de Física, através do Laboratório de Ressonância Magnética, com os professores Said Rabhani e Hernán Joel Cervantes; Instituto de Psicologia, na área de Psicologia do Desenvolvimento, com a professora Fraulein Vidigal de Paula; e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, através do Departamento de Radiologia e Oncologia do Instituto de Radiologia, representando por Mariana Penteado Nucci da Silva.

Em cada área de pesquisa (Física, Psicologia, Linguagem, Neurociência, Medicina), os resultados poderão gerar dinâmicas próprias em novos projetos ou ações voltadas à acessibilidade. No campo central e interdisciplinar da linguagem, os resultados poderão trazer contribuições para o campo do ensino/aprendizagem escolar, seja na produção de materiais adaptados, seja na forma de criar audiodescrições mais ajustadas a esse perfil de indivíduos.

Os resultados também poderão contribuir com o conhecimento em ciência básica, especialmente no que tange à evolução lexical e gramatical de construções linguísticas guiadas por mentes de deficientes visuais congênitos em contraste com a de videntes, cujos inputs visuais estão em sintonia com os materiais mais comumente veiculados. No campo técnico da audiodescrição, os resultados poderão auxiliar nos insumos para a formação de profissionais audiodescritores.

Mais informações sobre a pesquisa na página do projeto

As pessoas interessadas em participar como voluntárias do projeto de pesquisa devem entrar em contato pelo e-mail: leitura.audiodescrita.usp@gmail.com