Comissão de Pós-Graduação da FFLCH realiza pesquisa sobre ações afirmativas em seus programas 

O intuito foi conhecer melhor as experiências e gerar assim um ambiente de discussão a respeito

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

 

Ações afirmativas na UFJF
De acordo com o site Educação para as Relações Étnico-Raciais do Ministério da Educação, as ações afirmativas são o conjunto de medidas especiais voltadas a grupos discriminados e vitimados pela exclusão social ocorridos no passado ou no presente. O objetivo é eliminar as desigualdades e segregações, de forma que não se mantenham grupos elitizados e grupos marginalizados na sociedade, buscando uma composição diversificada onde não haja o predomínio de raças, etnias, religiões, gênero, etc. Essas ações podem ser feitas por meio de políticas que propiciem uma maior participação destes grupos discriminados na educação, na saúde, no emprego, na aquisição de bens materiais, em redes de proteção social e de reconhecimento cultural - Ilustração: Portal UFJF

​​​
No fim do primeiro semestre, a Comissão de Pós-Graduação (CPG) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) realizou uma pesquisa entre seus 23 programas para conhecer a situação das políticas afirmativas na área.

"O intuito [da enquete] foi dialogar, conhecer melhor quais programas tinham essas experiências e gerar assim um ambiente de discussão a respeito dentro da Comissão de Pós-Graduação", explicou a presidente da CPG, Claudia Amigo Pino.

​​​​​​​O questionário foi respondido pela coordenação de cada programa – há 25 respostas porque dois programas responderam duas vezes. As perguntas foram do geral para o mais específico: se o programa tem política de ações afirmativas, grupos contemplados, identificação deles, o acesso dos alunos dos grupos contemplados à bolsas de pesquisa, e como é realizado o acompanhamento das políticas afirmativas implantadas. ​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​Clique aqui para conferir as as respostas da enquete.
​​​​​​​

image 3
Parte da pesquisa realizada - Foto: Reprodução

​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​
​​​​​​​Os resultados foram apresentados aos membros da CPG, em reunião realizada em 17 de agosto, na qual alguns representantes dos programas de pós-graduação que ainda não possuem políticas afirmativas fizeram questionamentos sobre a implantação e demonstraram vontade de criar iniciativas a respeito.

​​​​​​​​​​​​​​As conclusões obtidas com a enquete foram: 

​​​​​​​ações afirmativas ​​​​​​​ Menos da metade dos programas têm políticas afirmativas (46%),

ações afirmativas Falta acompanhamento dos alunos de grupos desfavorecidos;

ações afirmativas Os programas tendem a ter políticas afirmativas para o ingresso, mas não para bolsas (48% não tem);

ações afirmativas O sistema de pontuação diferenciada ou bônus para ter mais acolhida; 
​​​​​​​
ações afirmativas Há grupos que precisam de edital específico, principalmente de indígenas.

Sobre os dados, a presidente da CPG comenta que foi possível verificar que a reserva de vagas não necessariamente funciona, "porque políticas afirmativas não são reserva de vagas somente". A ação que tem se mostrado mais positiva nos programas de pós-graduação da FFLCH é a pontuação acrescida. Porém, ela frisa que "não adianta só dar a pontuação, tem de dar prioridade na concessão de bolsas, fazer um acompanhamento do estudante durante a realização do mestrado e/ou doutorado. E também deve-se incluir mais grupos nas políticas, como os transgêneros e refugiados, indo além do público chamado PPI [pretos, pardos e indígenas], além de levar informação sobre o ingresso nos cursos para os grupos mais desfavorecidos em geral". 

Com as respostas, a CPG pretende fomentar mais ainda a discussão e a conscientização a respeito, “estimular mudanças e gerar inovações sem impor isso [as políticas de ações afirmativas e as regras em cada programa]”, porque não é o propósito na FFLCH e cada programa vai ver como implantar a questão. Mas a discussão está dada", ressalta Claudia. 

Discussão

​​​​​​​A respeito da discussão, um exemplo de que ela está sendo promovida é a realização do Seminário PPGS/PPGAS - Ações Afirmativas na Pós-graduação, nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, organizado por dois dos programas de pós-graduação da Faculdade: em Sociologia e em Antropologia Social. 

No evento, que contou com a participação de professores e pesquisadores da FFLCH, de representantes de Unidades da USP, de outras universidades e de movimentos sociais também, foram feitas reflexões e desafios sobre ações afirmativas na área da pós-graduação: a presença dos indígenas, as pessoas trans; as relações raciais; as pessoas com deficiência; e as pesquisas e as experiências com as comissões de heteroclassificação.

A mesa de abertura e as discussões das cinco mesas podem ser assistidas no canal do PPGAS no YouTube.

A presidente Claudia também lembrou que foi instituído pela coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA), do qual ela faz parte como docente, uma Comissão de acompanhamento das ações afirmativas, onde até o momento existe a reserva de vagas no ingresso.

E, em julho de 2022, a CPG pretende fazer um novo mapeamento para acompanhar o desenvolvimento das políticas afirmativas na Unidade.
​​​​​​​

evento PPGAS e PPGS

​​​​​​​
Histórico 

Os 23 programas de pós-graduação são geridos pelos 11 Departamentos da Faculdade, de acordo com a área e por isso possuem particularidades. 

O debate sobre a implantação de políticas de ações afirmativas na pós-graduação da Faculdade vem sendo feito na Comissão de Pós-Graduação há algum tempo. Porém, por avaliar que cada programa tem suas especificidades, preferiu-se não adotar uma política neste sentido que fosse obrigatoriamente adotada de forma única em todos os programas.

Sendo assim, alguns programas implantaram uma política de ações afirmativas para candidatos que se autodeclararem do público PPI – uns também incluem transgênero, pessoas com deficiência, número de dependentes, renda, residência: Antropologia Social, Ciência Política; Geografia Física; Geografia Humana; Filologia e Língua Portuguesa; Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades; e Sociologia.​

O primeiro a implantar alguma ação foi o de Antropologia Social, em 2017 (no qual há dois editais: um destinado à ampla concorrência, no qual também há uma reserva de vagas para candidatos autodeclarados pretos e pardos e com deficiência; e outro destinado somente aos indígenas).

A partir do ingresso em 2019, no processo seletivo realizado no segundo semestre de 2018, os programas de Pós-Graduação em Ciência Política e em Sociologia implantaram ações para os candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas. ​​​​​​​
​​​​​​​
Pós-Graduação em números

Atualmente, a FFLCH é a Unidade de Ensino e Pesquisa da USP que tem o maior número de alunos de pós-graduação e de programas. São mais de 2.900 [consulta ao site Dados FFLCH em 05/10/2021 apresenta o número de 2.940] estudantes no mestrado, doutorado direto e doutorado nos 23 programas. 
​​​​​​​
Os processos seletivos para ingresso no mestrado ou doutorado costumam ser realizados semestralmente, tendo novos estudantes no primeiro e segundo semestre do ano. Em média, são cerca de 800 vagas oferecidas, não sendo obrigatório o preenchimento total deste número, pois a Faculdade reserva-se a esse direito caso os candidatos não atinjam os requisitos mínimos para aprovação.
    
Nos últimos anos, de 2018 a 2020, foram realizadas 1.643 defesas, sendo 906 dissertações de mestrado e 737 teses de doutorado. Neste ano, até o início de outubro, aconteceram 320 defesas: 183 dissertações, 137 teses, sendo 7 delas por doutorado direto.