Publicação de "Assim falou Zaratustra", de Nietzsche

Obra representa transição para fase madura de Nietzsche

Por
Larissa Gomes
Data de Publicação

HOMEM BARBUDO COM PAISAGEM ATRAS
A obra traz uma perspectiva inovadora para se pensar nos temas atuais da cultura. Segundo Eduardo Brandão. (Arte por: Larissa Gomes)

Considerado, pelo próprio autor, como o ponto alto de sua produção bibliográfica, Assim Falou Zaratustra, obra de Friedrich Nietzsche foi escrita entre 1883 e 1885. É considerada por muitos intérpretes como o ponto de virada para a transição do que viria a se tornar o período de maturidade intelectual do filósofo. Escrita em linguagem poética e de difícil compreensão, a obra representa a reviravolta para o terceiro período da produção intelectual de Nietzsche.

Pode-se dizer que a obra trata de um poema trágico. O exemplar tem como temática a jornada de Zaratustra, personagem principal do livro, caracterizada pelo próprio filósofo como “um tipo nietzschiano inspirado na mitologia persa”. Além disso, no enredo são apresentadas as fundamentais ideias da sua filosofia, como, vida, poder, niilismo, o eterno retorno e além-do-homem (Übermensch, termo que é mal traduzido por super-homem) entre outras.

O que gera atenção é que o livro não causou impacto no momento em que foi publicado, porém, tornou-se um dos textos mais famosos de Nietzsche. Por ser de difícil compreensão, geralmente exige do leitor uma atenção especial na leitura, além de algumas referências a outras obras do filósofo.

Segundo Eduardo Brandão, professor de filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Assim Falou Zaratustra ocupa um lugar muito importante no pensamento contemporâneo e influenciou vários autores como Foucault, Heidegger, Horkheimer, Adorno, entre outros. Além disso, traz uma perspectiva inovadora para se pensar nos temas atuais da cultura, a sua importância é dada tanto pela sua centralidade como pela compreensão da filosofia nietzschiana, além das discussões que são trazidas com o livro.

Confira o texto sobre a obra que Eduardo Brandão concedeu ao serviço de Comunicação Social:

Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, foi escrito entre 1883 e 1885, e é colocada pelo próprio filósofo como o ponto alto de sua produção bibliográfica, de modo que – como ele mesmo sugere – muitos de seus outros livros podem ser considerados ou como preparações ou como comentários a esse seu texto central. Seu tema principal poderia ser indicado como a apresentação de Zaratustra como o mestre do eterno retorno, mas em torno desse ponto surgem várias ideias que também são fundamentais na filosofia de Nietzsche, tais como a vontade de poder (ou potência) e o niilismo. Em suma, os grandes temas da filosofia madura de Nietzsche surgem nesse texto e ganham seus contornos a partir de sua elaboração. Nesse sentido, a maioria dos intérpretes de Nietzsche considera Assim falou Zaratustra como o ponto de virada para o terceiro período da produção intelectual do filósofo (o da maturidade; nessa divisão, haveria o período correspondente aos textos elaborados pelo “jovem Nietzsche” e o momento intermediário de sua filosofia).

Escrito em linguagem poética, Assim falou Zaratustra não causou impacto na ocasião de sua publicação, mas depois se tornou um dos textos mais famosos de Nietzsche. Repleto de imagens, metáforas e temas (por exemplo, a solidão, ou os animais de Zaratustra) é um livro de difícil compreensão que muitas vezes exige para sua interpretação a remissão a outras obras de Nietzsche e uma atenção especial na leitura devido ao uso que nele o autor faz da linguagem. Poderíamos dizer que se trata de um poema trágico: a jornada de Zaratustra (personagem central do livro, um tipo nietzschiano inspirado na mitologia persa) é caracterizada dessa forma pelo próprio Nietzsche.

Dado o destaque de Nietzsche, Assim falou Zaratustra ocupa um lugar muito importante no pensamento contemporâneo, seja pela centralidade para a compreensão da
filosofia nietzschiana, seja pelas discussões que o livro movimenta. O modo como no texto surgem suas questões – vida, poder, niilismo, o além-do-homem (o Übermensch, termo que também se traduz – mal – por super-homem), o eterno retorno, entre outras – traz uma perspectiva inovadora para se pensar nos temas atuais da cultura, que influenciou vários autores (como Foucault, Heidegger, Horkheimer, Adorno, entre outros) e exerce grande influência até os dias de hoje.

Eduardo Brandão possui graduação em Filosofia pela FFLCH, mestrado e doutorado em Filosofia pela mesma instituição. Atualmente é professor de filosofia da FFLCH. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia.