Carta aberta à comunidade da FFLCH

Paulo Martins, diretor da FFLCH-USP, falou sobre suas ações no dia 18 de setembro de 2023 e nos dias subsequentes

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Redação
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Carta aberta à comunidade da FFLCH

Dirijo-me a vocês para esclarecer algo que venho maturando ... na verdade, matutando, há semanas desde o dia 18/09/23, portanto, vale dizer, esta minha carta trata de minhas ações e pronunciamentos nesse dia à noite junto ao prédio da administração da FFLCH e também nos dias subsequentes daquela semana.

Toda ação política pressupõe atores que trabalham em prol de suas causas, donde, muitas vezes, consensos são construídos, ou não, no dissenso natural. Há que supor que opiniões diversas existem e tensões devem ser sempre minimizadas a partir do diálogo.

Pois bem, em face da obstrução dos prédios da FFLCH, por conta de uma greve que se avizinhava, tomamos, de ofício, a atitude de fechar os prédios a fim de garantir sua acessibilidade por parte dos alunos, professores e funcionários.

Tal ação provocou a ocupação do prédio da administração da FFLCH. Nesta intempestiva ação fui chamado para negociar quando fui recebido por muitas pessoas encaloradas que proferiam termos que não são aqui convenientes dizer.

Diante disso, expressei-me em igual medida - um erro. Humanamente reagi. Usei termos de baixo calão, inapropriados, sobretudo, ao diretor. Considero, também, que o calor do momento e a forte recepção que tive levaram-me a esta atitude impensada, mas compreensível, principalmente, diante de um público desproporcional - eu estava só.

Se somos uma comunidade afeita ao embate público - e somos, a FFLCH é -, tal fato pode ser comum, mas ações violentas não podem ser naturalizadas. Agressões verbais ou físicas são impensáveis na Universidade. São sua contradição. O já conhecido cancelamento também não deve ser incentivado ou empreendido, afinal pode nos trazer más lembranças. Todas essas ações, inclusive as minhas, neste caso, são pouco afeitas ao diálogo, logo danosas.

Sempre tive laços fraternos com os estudantes que pautaram minha postura nesses 7 anos e 1 mês em que estou na diretoria da FFLCH, como vice-diretor e, agora, como diretor. Esses reverberam meu engajamento no Movimento Estudantil nos anos 80 na UNE e na UEE e no Andes-SN na década de 90, além de também espelharem minha trajetória docente na USP (desde janeiro de 1999). Dessa maneira, espero sinceramente que em breve esses laços possam ser reatados.

No mais, é inegável que conquistas importantes foram obtidas pelos estudantes, a saber, mais contratações de docentes, melhores oportunidades para estudantes em vulnerabilidade socioeconômica e outras tantas numa dinâmica em que a negociação com a reitoria foi fundamental, árdua por óbvio, mas no pleno exercício daquilo que é fundamental, o diálogo.

Por tudo isso, estou convencido de que estão dadas as condições para que possamos retornar aos nossos diálogos nas salas de aulas.
Até breve,

Prof. Dr. Paulo Martins
Diretor da FFLCH/USP