Palestra: História e estórias, polifonia e escombros: Mikhail Bakhtin, leitor de A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitc

Início do evento
Final do evento
E-mail
tupiano@usp.br
Docente responsável pelo evento
Jean Pierre Chauvin (ECA/ECLLP/USP)
Local do evento
Edifício Prof. Antonio Candido (Letras) - Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 - Cidade Universitária - São Paulo-SP
Auditório / Sala / Outro local
Sala 266
O evento será gratuito ou pago?
Evento gratuito
É necessário fazer inscrição?
Sem inscrição prévia
Haverá emissão de certificado?
Sim
Haverá participação de docente(s) estrangeiro(s)?
Não
Descrição

Em A guerra não tem rosto de mulher (1985), a escritora bielorrussa (de origem ucraniana) Svetlana Aleksiévitch (1948 – ) procura resgatar, de entre os escombros fuliginosos da memória, as vivências das mulheres soviéticas que lutaram na Grande Guerra Patriótica (1941-1945) contra os invasores nazistas e a ela sobreviveram. Para tanto, a autora leva às últimas consequências o expediente polifônico, que o filósofo da linguagem e crítico literário Mikhail Bakhtin (1895-1975) erige em Problemas da poética de Dostoiévski (1929/1963): ao invés de compor personagens, que, no limite, alcançam uma liberdade relativa que bem pode se voltar contra a cosmovisão do próprio autor, Aleksiévitch cede a voz autoral às mulheres que entrevista, de modo a fazer submergir, radicalmente, a mediação autoral: “Vou escutando... Cada vez mais vou me transformando em um grande ouvido, sempre voltado para outra pessoa. ‘Leio’ a voz”.

Em sua tentativa de compor uma história feminina da guerra – por excelência, uma posição de alteridade e dialogia, já que a guerra é historicamente disputada e narrada pelo prisma masculino –, Svetlana Aleksiévitch torna-se, esteticamente, uma maestra de vozes polifônicas que já não lhe pertencem, de modo a reconfigurar as categorias poéticas de enformação da polifonia.

Em nossa palestra, veremos, então, como Mikhail Bakhtin leria A guerra não tem rosto de mulher, na mesma medida em que apreenderemos como Svetlana Aleksiévitch reconfigura, entre os escombros da história e da memória, a polifonia bakhtiniana.

Flávio Ricardo Vassoler, escritor, professor do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias da Univesidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-doutorando em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH-USP, é doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (EUA). É autor das obras O evangelho segundo talião (nVersos, 2013), Tiro de misericórdia (nVersos, 2014), Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo (Hedra, 2018) e Diário de um escritor na Rússia (Hedra, 2019). Colabora, periodicamente, para o caderno literário “Aliás”, de O Estado de S. Paulo, para o caderno “Ilustríssima”, da Folha de S.Paulo, e para a revista Veja.

Imagem