O Professor Leôncio Martins Rodrigues foi um dos principais responsáveis pela criação e pela consolidação da moderna sociologia industrial e do trabalho no Brasil, tendo levado adiante o trabalho de pesquisa e os achados de pioneiros como Azis Simão, Juarez Brandão Lopes, José Albertino Rodrigues e Evaristo de Morais Filho. Mas, para além da sua contribuição à análise da formação da sociedade urbano-industrial - algo que esteve no centro de suas continuadas pesquisas sobre os trabalhadores industriais e o sindicalismo brasileiro -, em décadas recentes Leôncio também se voltou para a análise das bases sociais dos partidos e das elites políticas brasileiras, e mostrou o efeito de importantes transformações verificadas no país.
A sua análise sobre a relação entre as origens sociais e o comportamento político desses atores contribuiu de modo importante para ampliar o nosso conhecimento sobre o funcionamento do sistema político brasileiro. Em todos esses desenvolvimentos, a sua contribuição teve uma extraordinária capacidade de inovar e de desafiar as interpretações correntes sobre o Brasil que estava emergindo nos anos 50 e 60, e sobre o país cujas estruturas econômicas, sociais e políticas tanto se aprofundaram e se transformaram nas últimas décadas do século XX e nas primeiras do atual.
O Professor Leôncio Martins Rodrigues foi mestre, doutor e livre docente em sociologia, e professor titular de Ciência Política pela USP, onde se formou e iniciou as suas atividades de ensino e pesquisa como aluno de Florestan Fernandes, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que tinha sede no saudoso prédio da rua Maria Antônia, em São Paulo. Foi também titular de Ciência Política pela Unicamp e Membro da Academia Brasileira de Ciência, membro da Ordem Nacional do Mérito Científico na classe de mestre e comendador, e recebeu o Prêmio Florestan Fernandes da Sociedade Brasileira de Sociologia.
Na área de Sociologia, pesquisou principalmente as relações de trabalho, o comportamento das classes trabalhadoras e as peculiaridades do sindicalismo brasileiro. Mais recentemente, na área de Ciência Política, estudou os partidos políticos, as eleições e a classe política e, mais especificamente, as fontes sociais do recrutamento partidário. Sua leitura do processo eleitoral da representação proporcional mostrou até onde foi a dinâmica de mudança e renovação das elites parlamentares da Câmara dos Deputados com a democratização.
Os resultados desses estudos e pesquisas foram publicados em dezesseis livros, dentre os quais, destacam-se: “Conflito Industrial e Sindicalismo no Brasil”; “Industrialização e Atitudes Operárias”; “Trabalhadores, Sindicatos e Industrialização”; “CUT: os militantes e a ideologia”; “Partidos, Ideologia e Composição Social” e “Mudanças na Classe Política Brasileira”. Em anos recentes, trabalhava numa pesquisa sobre o Senado Federal.
Seu falecimento foi uma enorme perda para a academia e para o pensamento crítico, mas, sobretudo, foi também uma perda para os seus amigos com quem ele tinha uma relação de grande acolhimento e generosidade. Seu permanente bom humor e a sua atitude positiva diante da vida tornavam o encontro com seus familiares, amigos e pessoas mais próximas um momento de alegria.
