FFLCH faz homenagem à Marina Kohler Harkot

Nova sala de estudos interdisciplinares recebeu o nome da ex-aluna de graduação em Ciências Sociais e que era doutoranda na FAU

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

Matéria atualizada em 08/11/2021, às 9h46

Marina
Marina Kohler Harkot - Foto: Arquivo Pessoal


Na manhã desta sexta-feira, dia 5 de novembro, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP inaugurou a Sala de Estudos Interdisciplinares – Marina Kohler Harkot, que está localizada no prédio de Filosofia e Ciências Sociais, conhecido também como “prédio do meio”. 

O nome da sala é uma homenagem à ex-aluna de graduação em Ciências Sociais da FFLCH (2010 – 2015), que faleceu aos 28 anos, vítima de atropelamento enquanto pedalava na primeira faixa à direita da Avenida Paulo VI, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, no início da madrugada de 8 de novembro de 2020.

A bicicleta era o principal meio de transporte de Marina e isso a levou ao cicloativismo há oito anos, adotando a mobilidade ativa para discutir as relações de gênero.

Marina era mestra pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP com a dissertação A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo, com orientação da professora Paula Freire Santoro, defendida em 2018. 

Ela atuava como pesquisadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) e estava no doutorado também na FAU na área de concentração Planejamento Urbano e Regional e linha de pesquisa Políticas Públicas Urbanas. A pesquisadora vinha se aprofundando no debate sobre segregação socioterritorial a partir de abordagens de gênero, raça e sexualidade, costurando debates com a geografia das emoções, sociologia, psicologia social, entre outros. 
 

placa
Direção da Faculdade e familiares de Marina após o descerramento da placa da sala de estudos interdisciplinares. (Da esq. p/ dir.) Emerson Galvani, Felipe Burato, Maria Claudia Mibielli Kohler, Paulo Harkot, Ana Paula Torres Megiani e Paulo Martins - Foto: Fábio Nakamura/ Audiovisual FFLCH-USP


Homenagem 

A inauguração da sala coincidiu com a proximidade da data que marca um ano de falecimento de Marina, no dia 8, porque a Direção da FFLCH quis aproveitar a vinda dos pais dela à cidade de São Paulo, que moram no Rio de Janeiro, para participarem de outras homenagens que serão realizadas ao longo deste final de semana e começo da outra semana.

Na noite desta sexta-feira, às 19h30, será realizado o sarau on-line Pedale como Marina. No sábado, dia 6, vários eventos relacionados a andar de bicicleta acontecerão em algumas cidades do Brasil, denominados algumas vezes como bicicletada e outras como pedalada. Confira mais detalhes sobre as atividades no perfil no Instagram Pedale como Marina, criado em honra à memória e ao seu legado. 

O diretor da FFLCH, Paulo Martins, iniciou a cerimônia falando que o espaço de convivência é fundamental para os estudantes. Ele lembrou que a nomeação da sala foi aprovada pelos Colegiados da Faculdade no final do ano passado – a sugestão foi feita na 304ª sessão do Conselho Técnico Administrativo (CTA), em 3 de dezembro, aprovada por unanimidade pela Comissão de Graduação, no dia 8, e informada a nomeação na 389ª sessão da Congregação, no dia 10.

A vice-diretora da FFLCH, Ana Paula Torres Megiani, ressaltou que a inauguração da sala é emocionante pela homenagem e também importante porque marca a retomada das atividades presenciais na Faculdade, mesmo que as aulas permaneçam de forma remota ainda. “Estamos muito emocionados de oferecer este espaço em homenagem à memória de Marina”, destacou a vice-diretora.

O presidente da Comissão de Graduação da FFLCH, Emerson Galvani – que esteve envolvido com o projeto da sala desde o início, pois era o vice-presidente na época – contou um pouco do histórico da sala e como surgiu a ideia de nomeá-la. 

A Direção convidou a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da FFLCH, Tessa Moura Lacerda, docente do Departamento de Filosofia e que estuda gênero, feminismos, entre outras questões, para falar um pouco sobre a trajetória acadêmica de Marina.

Tessa frisou que a trajetória de uma pessoa é a construção de sua essência, por cada ação e escolha que realiza em sua existência, segundo a filosofia de Jean Paul Sartre. 

“A curta vida de Marina Harkot, cuja trajetória foi tragicamente interrompida em novembro de 2020, foi grande: coerente com suas buscas, suas pesquisas e sua militância, ela foi mais uma vítima daquilo contra o que lutava. (...) A trajetória teórica de Marina Harkot e sua militância estavam ambas voltadas para uma mudança da sociedade e da cidade ou da sociedade através da mudança de espaços da cidade”.
 

adesivo Pedale como Marina
Adesivo do projeto Pedale como Marina


Familiares  

A professora Elizabeth Harkot de La Taille, do Departamento de Letras Modernas, que também é tia de Marina, disse estar representando a transição do evento acadêmico para o afetivo e sentir-se orgulhosa da homenagem. 

“A apresentação sendo dupla, eu venho justamente fazer a ponte entre o acadêmico e o pessoal, a iniciativa da minha Faculdade, a FFLCH, de transformar um espaço, inicialmente, acadêmico em um espaço acadêmico e vivo. (...) Marina era uma sobrinha, a da família a pessoa que seguiu a carreira acadêmica, assim como eu segui. Esta sala então representa uma comunhão, acho que bem ideal para as Humanidades, entre o pensar, o discutir, o construir, o agir em sociedade e transformar, principalmente, ajuda a família a conseguir transformar o luto da perda em lutar. Que a gente faça bom uso da sala. Muito obrigada! Que orgulho da minha Faculdade!”.

Letícia Lindenberg Lemos, arquiteta, cicloativista, contou como se tornaram amigas e colegas da vida acadêmica – pois Marina passou a fazer parte do mesmo grupo de pesquisa dela na FAU. 

“Era uma pessoa que esteve tão presente na minha vida acadêmica quanto eu estive na dela. E a perda foi muito difícil. Era uma pessoa que fazia pontes, plantava árvores e lançava raízes pelo mundo. E quando eu recebi o convite e vi o nome da sala eu pensei “não podia ser melhor’. Marina era isso, era essa interdisciplinaridade”.

O companheiro de Marina, Felipe Burato, declarou que Marina personifica a ideia de Paulo Freire de que discurso e prática devem andar juntos, e que ela passou a usar a bicicleta como instrumento de liberdade, ativismo. 

“Não era o objeto de pesquisa da Marina, mas uma ferramenta. Marina ocupava os espaços e se colocava em tudo. Espero que esta sala proporcione os encontros, as trocas, que ela possa promover o legado e os pensamentos dela”.

Em seguida, foi a vez da mãe, Maria Claudia Mibielli Kohler, que demonstrou que a família ficou muito feliz com a homenagem, relembrou de como a filha se sentiu orgulhosa por ter ingressado na USP, de que ela vivia intensamente, inclusive o período de graduação. 

De acordo com o pai, Paulo Harkot, desde criança ela gostava de livros, teve sua biblioteca particular e dizia que seria professora. Ele disse que não tinha nem palavras para descrever a honra de Marina ser eternizada em um lugar que formou tantas pessoas importantes e citou nomes como o de Aziz Ab'Saber, Milton Santos, Antonio Candido e Fernando Henrique Cardoso.

Sobre a sala, o pai comentou que o espaço não é só para estudos, mas também para convivência, por ter um espaço para reunião, café, porque tudo é junto. “Esta sala possibilita integração”. 

Confira como foi a cerimônia de inauguração em homenagem à Marina:



Novo espaço 

A Sala de Estudos Interdisciplinares – Marina Kohler Harkot ficou pronta há um ano, entre o final da gestão da Diretoria passada e a atual, mas não foi inaugurada antes porque todas as atividades estão sendo realizadas remotamente. O espaço é para uso dos estudantes dos cinco cursos de graduação da Unidade. Eles poderão realizar suas leituras e atividades, em estudos individuais ou em grupo, nos intervalos de aula e nos horários vagos. 

A sala tem 122 m² de área total, que contém três espaços: 
-duas salas multimídia, com capacidade de 7 lugares cada, contando com: smart TV, wi-fi, USB, HDMI e ar condicionado;
-sala de estudos com capacidade para 48 lugares, com wi-fi, USB, HDMI e ar condicionado;
-espaço de socialização (café), com capacidade de 25 lugares, com wi-fi.

Veja como é a nova sala:



A sala obteve parte dos recursos do Edital Pró-Reitoria de Graduação (PRG)/Santander Universidades: Santander e-Grad Edição 2019, para o qual a Comissão de Graduação da Faculdade submeteu um projeto que consistia na adequação de um espaço disponível no prédio de Filosofia e Ciências Sociais transformando-o em uma sala de estudos interdisciplinares. 

Os custos financiados pelo E Grad foram de R$49.500,00 (49 mil reais), os quais contemplaram a aquisição de mobiliário como cadeiras e mesas para estudos individuais e em grupo, além da divisão do espaço por meio de divisórias, configurando salas de estudo individuais e em grupo. Como o valor máximo de custeio do edital era de até R$50.000,00 (50 mil reais), a Faculdade investiu como contrapartida para o projeto os serviços de instalação e adaptação da rede elétrica, pintura e acabamento, por meio do setor de Serviços Gerais e de recursos próprios.

A FFLCH é a maior unidade de ensino da USP, recebe 1.669 novos alunos por ano na graduação e conta atualmente com quase 9 mil alunos nesta modalidade, distribuídos em cinco cursos, que circulam pelos espaços nos três turnos: matutino, vespertino e noturno; isso sem contar os cerca de 3 mil na pós-graduação. 

Esses estudantes ocupam os diferentes ambientes de estudo da Unidade, como as salas pró-aluno, a biblioteca Florestan Fernandes, os laboratórios e núcleos de estudos e até mesmo os vãos livres dos prédios e espaços de socialização. Por isso, apresentou-se a necessidade de ampliar tais ambientes em quantidade e qualidade, papel que a inauguração da sala de estudos interdisciplinares vem a cumprir, mas com a ideia de ter outros espaços como esse na Unidade. 

Na cerimônia, estiveram presentes também alguns amigos da família de Marina, presidentes de Comissões da Faculdade, chefes de Departamento, funcionários e representantes discentes da FFLCH e da USP. O evento foi realizado respeitando os protocolos sanitários contra o novo coronavírus (Covid-19), com o uso de máscara e álcool em gel.  

Poesia
Poesia entregue pela família aos convidados