A partir de uma nova classificação climática, pesquisa descobre 87 subtipos climáticos no estado de São Paulo

São Paulo é considerado um estado com clima predominantemente Tropical, caracterizado por verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos. A classificação foi feita em 1966 e vem do sistema internacional de Koppen. Um estudo publicado em 2022 na Revista de Geografia da Universidade de São Paulo, revelou, contudo, que o Estado pode ser dividido em 4 tipos de climas, o Tropical, o Tropical Ameno, o Subtropical e o Temperado, encontrados em diferentes porções do estado: “O [clima] Tropical, por exemplo, acima de 18º, predomina mais ao norte de São Paulo. Já o [clima] Temperado, abaixo de 10º, encontramos em Campos de Jordão, na Serra da Mantiqueira”, explica Giuliano Novais, responsável pelo estudo.

A pesquisa também revelou que, nesses 4 tipos de climas, ainda é possível encontrar 87 subtipos climáticos localizados em regiões específicas do estado. “Isso nos mostra como cada região, serra, vale ou até mesmo mata de São Paulo possui suas particularidades em relação ao clima”, destaca Novais. A descoberta veio através de um novo sistema de classificação climática criado pelo geógrafo em 2019. Nessa classificação, Novais propõe investigar os diferentes climas locais e regionais que existem em São Paulo a partir de uma hierarquia dividida em 6 categorias: (1ª) Zona Climática, (2ª) Clima Zonal, (3ª) Domínio, (4ª)  Subdomínio, (5ª)  Tipo e (6ª)  Subtipo Climático.

A ideia de propor um novo modelo climático veio justamente pela falta de sistemas climáticos atuais, conforme explica Novais:

“A última classificação climática foi feita no século passado, ou seja, os dados são antigos e desatualizados. Em 1960, por exemplo, não tínhamos satélites espaciais e nem detalhes sobre a superfície ou atmosfera da Terra. Eu olhava os mapas antigos do Brasil, baseados na classificação de Koppen, observava o clima de uma forma muito generalista e igual e pensava: não é possível que não exista diferentes climas num mesmo lugar. Foi quando, junto com meu professor de climatologia,  surgiu a ideia de propor uma hierarquia que analisa o clima desde o global até o relevo local”.

O pesquisador escolheu estudar o estado de São Paulo por este estar posicionado na linha do Trópico de Capricórnio, que marca a transição da zona subtropical para a tropical da Terra. Para realizar a pesquisa, Novais construiu, com a ajuda de seu professor de climatologia, uma estação meteorológica no quintal de sua casa. Durante oito anos, todos os dias, 3 vezes por dia, o pesquisador analisou os fenômenos naturais de São Paulo, como a chuva e a temperatura. Dentre outras variáveis, a principal utilizada para sua pesquisa foi a temperatura média do mês mais frio de São Paulo.

Hierarquias: das Zonas Climáticas aos Subtipos

Zona Climática: A primeira hierarquia, zona climática, é definida pela altura do sol no planeta, isto é, a incidência solar nas diferentes partes do globo: “Medimos a altura do sol nas diferentes partes do planeta e definimos as zonas climáticas, que, ao todo, são 5. A zona climática tórrida fica próximo da linha do Equador; a zona climática quente fica entre o Equador e o Trópico; a zona climática moderada entre o Trópico e o Subtrópico; a zona climática fria fica entre o Subtrópico e o Círculo  Polar, e a zona climática polar fica próximo aos Polos”, explica Novais. O estado de São Paulo está localizado entre a zona quente e a moderada.

Clima Zonal: O clima zonal calcula a temperatura média do mês mais frio de São Paulo. “No caso de São Paulo, o mês mais frio é julho, com temperatura média entre 15º e 22º”. Essa temperatura média classifica o estado como um clima moderado para quente.

Domínio Climático: A terceira hierarquia propõe analisar o clima de porções específicas do estado de São Paulo, dando um “zoom” no estado. A partir dos climas zonais descobertos na segunda hierarquia, é feita uma subdivisão desses climas e calculado a temperatura média do mês mais frio em porções diferentes do estado. “Então temos o tropical, com temperatura média acima de 18 graus; o tropical ameno, que fica entre 15º a 18º; o subtropical, que fica entre 10º a 15º e o temperado, com temperaturas abaixo de 10º.”

Subdomínio: A quarta hierarquia realiza mais um “zoom” no estado de São Paulo e analisa a quantidade de meses secos nas diferentes regiões do estado, dentro de cada porção. A partir dos domínios locais encontrados na terceira hierarquia, é feita outra subdivisão desses domínios e calculado os meses mais secos, só que agora, em regiões mais específicas: “Um mês mais seco é quando evapora mais água do que caiu em chuva. Então temos 4 subdomínios, o seco, semi-seco, semi-úmido e úmido”.

Tipos Climáticos: Nessa hierarquia, os domínios e subdomínios são localizados em tipos climáticos, que, por sua vez, são classificados de acordo com o continente: “Aqui, eu analiso a localização dos domínios e subdomínios de São Paulo no continente sul-americano e encontro 3 tipos, o Meridional do Brasil, o Centro-Sul do Brasil e o Litorâneo Sul do Brasil”.

Subtipos Climáticos: Por fim, a última hierarquia analisa o relevo de cada tipo climático encontrado no estado: “É feita uma subdivisão desses 3 tipos climáticos em áreas de geomorfologia, no qual a gente estuda o relevo. Então, por exemplo, o Litorâneo Sul do Brasil é subdividido em Serra do Mar e Ilhas Litorâneas. Com essas hierarquias, conseguimos analisar o clima desde o planeta como um todo, que são as zonas climáticas, até um local em específico, que é essa hierarquia”, completa o pesquisador.

Apesar de ter analisado o estado paulista, Giuliano Novais destaca que essa classificação climática pode ser usada para qualquer lugar do planeta. Seu trabalho, que foi apresentado em Portugal e Espanha e recebeu o apoio de pesquisadores da área de ambos os países, terá um artigo traduzido em espanhol. Em sua agenda de pesquisa, o geógrafo planeja, até 2030, classificar o clima de todos os continentes do globo: “Agora em 2024, pretendo fechar a América do Sul, em 2025 a América do Norte, em 2026 a África e até 2030, classificar todo o planeta”.