VI Colóquio Internacional Áfricas, Literatura e Contemporaneidade – Memória, imaginário e narrativa: trânsitos

Início do evento
Final do evento
Início da inscrição
Final da inscrição
E-mail
coloquioafricaliteratura@gmail.com
Docente responsável pelo evento
Rita de Cássia Natal Chaves
Local do evento
Outro local
Auditório / Sala / Outro local
Sala 14 do Prédio de Ciências Sociais e outros locais (auditórios do Prédio de História e Geografia)
O evento será gratuito ou pago?
Evento pago
É necessário fazer inscrição?
Com inscrição prévia
Haverá emissão de certificado?
Sim
Haverá participação de docente(s) estrangeiro(s)?
Sim
Descrição

Em um momento como o presente, no qual reflexões aprofundadas encontram tantos obstáculos ao seu exercício, o empenho de dar continuidade a projetos que apostam no diálogo aberto e mais próximo entre universidade e sociedade se apresenta como resistência necessária.

Neste cenário, avesso à diversidade e pluralidade que caracterizam o debate intelectual, o rebaixamento do pensamento convoca os mais distintos expedientes para legitimar narrativas autoritárias e empobrecedoras. Assim, História e memória passam a ser novamente objeto de disputa, resultando em distorções e revisionismos alarmantes. Como remédio contra o maniqueísmo que facilmente acirra tensões estéreis, é preciso que também o meio acadêmico se posicione, reafirmando o compromisso de investigar complexidades, estar sempre atento às contradições e não elidir as relações de poder sempre em jogo quando se toma a palavra. Neste sentido, o VI Colóquio Internacional Áfricas, Literatura e Contemporaneidade busca dar prosseguimento a debates que já tinham como característica central desafiar olhares acomodados, privilegiando a diversidade, as especificidades e a pluralidade de saberes provenientes de um espaço usualmente tratado como receptáculo em vez de rico produtor de sentidos.

Tendo em vista os resultados alcançados pelas edições anteriores do Colóquio Internacional Áfricas, Literatura e Contemporaneidade, cuja realização foi considerada Destaque das Atividades de Cultura e Extensão Universitária da FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a disciplina de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e o Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa propõem esta nova edição do evento, que pretende ocupar o mês de outubro de 2019 com uma programação diversa, situada também em espaços para além dos muros da universidade, com o objetivo de fortalecer as articulações entre pesquisa, ensino, difusão e extensão.

Este ano, sob o tema Memória, imaginário e narrativa: trânsitos busca-se, ao mesmo tempo, responder a apropriações levianas da memória coletiva e contemplar debates que têm tomado dimensão central na academia. Elegendo uma perspectiva que parte da interdisciplinaridade, pretende-se um aprofundamento da investigação em torno de problemas contemporâneos que encontram projeção na produção cultural, desafiando a capacidade de artistas, críticos, intérpretes e público.

Vale mencionar que a iniciativa de abrigar o tema da memória em debate surgiu de uma parceria com a Universidade de Coimbra, na figura de Margarida Calafate Ribeiro, reconhecida pesquisadora do Centro de Estudos Sociais, coordenadora do Projeto “Memoirs: Filhos de Império e Pós-memórias Europeias”, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, cujo olhar tem também contemplado as complexas relações entre memória, narrativa e sociedade, com foco na conformação do imaginário e em seus efeitos complexos na realidade social. Considerando que a atenção alongada aos objetos culturais que traduzem expectativas e idiossincrasias tem a faculdade de iluminar também disputas políticas que não podem ser ignoradas, optou-se por privilegiar a reflexão sobre os sentidos que assumem a História e a memória em contextos de tensão, suas relações com formas de resistência, suas relações com a narrativa no continente africano e seus ecos na literatura e em outras linguagens.

As discussões, ainda, procurarão refletir acerca das heranças históricas que continuam a atuar no presente do continente, lembrando também a complexidade dos sentidos que nortearam os processos de libertação com ênfase nas tensões e contradições presentes no interior das produções literárias africanas ou que tratam de temas ligados ao continente. Com o foco nos elos entre estética e sociedade, os debates contemplarão o difícil papel da crítica, que, num quadro global pouco favorável ao reconhecimento das literaturas emergentes, defronta-se com o desafio de pesquisar e examinar a matéria artística, com profundidade, sem sucumbir aos riscos de uma celebração que uniformiza. Desse modo, serão examinadas culturas e letras africanas em um quadro internacional marcado por profundas transformações, incertezas, com os sentidos abertos ao preconceito institucionalizado que, infelizmente, tem encontrado solo fértil para crescer entre nós.

Importa também reforçar que, embora haja um interesse crescente na academia brasileira em verticalizar a leitura dos laços históricos que nos unem, é necessário ampliar o espectro histórico usualmente abrangido pelas discussões e chegar à contemporaneidade, cujos fluxos ainda são pouco abordados, para procurar subverter o olhar que, entre nós, costuma buscar origens em uma África mítica atemporal. Nesse sentido, pretendemos envolver a contribuição de autores e estudiosos de diversos campos, cujos aportes têm se mostrado decisivos para melhor compreensão do contexto africano e de suas produções culturais. A participação de alguns importantes autores africanos de língua portuguesa da atualidade e de especialistas estrangeiros busca fortalecer um olhar renovado sobre o continente, avesso às formulações de natureza eurocêntrica que têm fornecido, ainda nos dias que correm, ferramentas intimamente ligadas aos passados imperiais. A iniciativa permitirá aprofundar o debate em torno de problemas contemporâneos que, vividos pelas sociedades dos vários países, projetam-se de formas complexas na produção cultural.

Tal como os anteriores, o evento é aberto a interessados em geral, atendendo ainda à demanda de professores das redes pública e privada de ensino – em acelerado crescimento desde a implantação das leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que preconizam a obrigatoriedade da inclusão de conteúdos da História e das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas em todos os níveis de ensino. Sensíveis à importância de insistir na legitimidade de diretrizes fortemente ameaçadas no momento presente, reforçaremos o debate sobre o lugar da África no Brasil, bem como sobre os processos de invisibilização do pensamento negro em nosso contexto sociocultural. O encontro atuará, assim, também na capacitação de agentes multiplicadores, possibilitando, simultaneamente, a difusão de obras africanas a um público mais vasto, além do contato direto com alguns de seus mais representativos produtores.

Em síntese, com base na focalização em fenômenos da História recente e da atualidade dos países africanos e orientados para a articulação entre a universidade e a sociedade, os encontros pretendem produzir e difundir conhecimentos que superem os estereótipos, ainda recorrentes no tratamento dado aos conteúdos relativos à África. Como vem ocorrendo nas edições anteriores do Colóquio, o objetivo é verticalizar o debate acerca de questões de natureza variada que envolvem as relações transdisciplinares na formação do conhecimento sobre as realidades do continente, com forte projeção no campo do imaginário.

Comissão organizadora:

Profa. Dra. Rita Chaves (DLCV)
Profa. Dra. Tania Macêdo (DLCV)
Ludmila Guimarães Maia (pós-doutoranda)
Bruna Del Valle de Nóbrega (doutoranda)
Jacqueline Kaczorowski (doutoranda)
Aline da Silva Lopes (mestranda)
Matheus Vieira dos Santos (mestrando)

Imagem
https://africasemtransito.wixsite.com/coloquio