Lilia Schwarcz é primeira professora mulher da USP eleita para a Academia Brasileira de Letras

Antropóloga e historiadora sucedeu o diplomata Alberto da Costa e Silva; “Estou muito emocionada com a honra e a responsabilidade que recebi”, afirma a professora

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Thais Morimoto
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Editoria

Professora sênior da FFLCH, Lilia Schwarcz foi eleita para assumir uma das cadeiras da casa de Machado de Assis - Foto da Lilia Schwarcz:  Leonor Calasans / IEA-USP - Arte: Renan Braz
Professora sênior da FFLCH, Lilia Schwarcz foi eleita para assumir uma das cadeiras da casa de Machado de Assis - Foto da Lilia Schwarcz:  Leonor Calasans / IEA-USP - Arte: Renan Braz / Serviço de Comunicação Social da FFLCH USP

Em eleição realizada ontem, 7, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), a professora Lilia Moritz Schwarcz foi escolhida para ocupar a cadeira de número 9, sucedendo o diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva, falecido em novembro de 2023. A antropóloga e historiadora recebeu 24 dos 38 votos possíveis e é a primeira professora mulher da Universidade de São Paulo (USP) a se tornar “imortal” da ABL. 

Em depoimento ao Serviço de Comunicação Social da FFLCH, a professora Schwarcz disse:

“Estou muito emocionada com a eleição. Entrei na cadeira do saudoso Alberto da Costa e Silva, que era meu pai intelectual e afetivo. Pretendo dar continuidade, assim, à luta que era dele e é minha, pela equidade racial. Pretendo também trazer a pauta dos femininos e engrossar forças com minhas colegas da Academia. Parece-me muito simbólico ter sido eleita um dia antes do 8 de março — Dia Internacional da Mulher. A ABL só abriu a eleição para as mulheres em 1976. Sou apenas a 11ª mulher, correspondemos a menos de 1% do total de homens eleitos. A ABL é também expressão dessa sociedade brasileira, que precisa ser mais equânime no critério de gênero. Mas apenas fui eleita e não tomei posse. Por isso, falo com a humildade de uma intelectual formada e professora na USP que quer lutar por um país mais plural também nas instituições que constroem a própria identidade do nosso país”. 

O diretor da FFLCH Paulo Martins também celebrou a eleição de Schwarcz: 

“A eleição da professora Lilia Schwarcz para a Academia Brasileira de Letras é de imensa honra para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Ainda que vários dos nossos professores façam parte de outras academias, como a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Brasileira de Letras é de uma expressividade e de uma importância sem tamanho. E, nesse sentido, a casa de Machado de Assis recebe intelectuais e artistas do mais imenso valor. Parece-me até óbvio que a professora Lilia Schwarcz, cuja produção é irretocável, tenha sido eleita para ocupar a cadeira número 9 da academia. Sinto e tenho certeza que todos os colegas, alunos e funcionários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas se sentem imensamente orgulhosos e honrados de ter a professora Lilia nos seus quadros e agora também nos quadros da Academia Brasileira de Letras”.

Quem é Lilia Schwarcz

Nascida em São Paulo em 1957, a professora Lilia Moritz Schwarcz é uma das acadêmicas mais influentes na área de ciências humanas e possui legado significativo para a cultura e literatura brasileira. Ao longo de sua trajetória, Schwarcz fez um exame crítico das estruturas raciais e da formação da identidade nacional brasileira, abordando temáticas como a história do Brasil colonial e imperial, a escravidão, a cultura popular e o racismo.  

Fez graduação em História pela FFLCH, mestrado pela Universidade Estadual de Campinas e doutorado pela FFLCH na área de Antropologia. Obteve o título de Livre-Docente na USP em 1998 e se tornou Professora Titular em 2005. Atualmente é professora sênior do Departamento em Antropologia Social na FFLCH e professora visitante na Universidade de Princeton (EUA).

Schwarcz foi fundadora, junto com seu marido Luiz Schwarcz, da editora Companhia das Letras. Dirigiu a coleção História do Brasil Nação em seis volumes e ao todo tem mais de 30 livros publicados, como As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, Raça e diversidade, Enciclopédia negra e Óculos de cor: ver e não enxergar. Já recebeu sete vezes o Prêmio Jabuti, três vezes o Prêmio APCA, o Prêmio Biblioteca Nacional e o Prêmio da Anpocs de livro do ano em 2019.

Na televisão, a docente já participou do Roda Viva e de programas e entrevistas em veículos como Globo, TV Cultura e UOL. Hoje, Schwarcz também faz parte do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (Iphan) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.