Mais do que somente melancolia e tristeza – tão presentes, por exemplo, nos poemas de Álvares de Azevedo (1831-1852) –, o que caracteriza o Romantismo literário brasileiro são a heterogeneidade, o pluralismo e a diversidade. É o que mostram dois livros da professora Cilaine Alves Cunha, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que serão lançados nesta sexta-feira, dia 26, às 19 horas, na Livraria da Travessa, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Publicados pela Editora da USP (Edusp), os livros são intitulados Estranhezas do Século Romântico e Fragmentos de Humor. No lançamento das obras haverá uma conversa entre a autora e a professora de Literatura Brasileira Mirhiane Mendes de Abreu, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), seguida de sessão de autógrafos. A entrada é grátis.
Cilaine começou a pesquisa que gerou os dois livros após o seu doutorado, concluído na FFLCH em 2000, sob orientação do professor João Adolfo Hansen. Baseada na ideia de que o Romantismo no Brasil é diverso e contraditório, ela demonstra, nas duas obras, que poetas desse movimento literário não deixaram de criticar a estética da época e seu tempo histórico – um período de forte racionalismo, estabilização do regime monárquico, nacionalismo, escravismo e indianismo. “Os românticos estão em luta contra as convenções morais e os princípios objetivos da arte, essa noção de que a arte possui regras claras”, afirma Cilaine Cunha, em entrevista publicada no site da Edusp. “Eles se posicionam contra isso. Para eles, a obra de arte deve expressar a reflexão profunda do gênio sobre o mundo.”
Em Estranhezas do Século Romântico, Cilaine discute os princípios que os poetas Gonçalves Dias, Sousândrade e Gonçalves de Magalhães oferecem, ou deixam de oferecer, para superar os dilemas do Brasil monárquico e escravocrata. A obra também destaca as estratégias usadas por eles – principalmente Gonçalves Dias e Sousândrade –, tanto para criar um sentimento nacionalista e de pertencimento e ficcionalizar culturas indígenas e africanas quanto para problematizar esses atributos, ressaltando a miscigenação e o sincretismo cultural do País.
Fragmentos de Humor, por sua vez, mostra como Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães e Manuel Antônio de Almeida usam da ironia romântica para satirizar assuntos sérios, tendo como alvo do riso gêneros, personagens, estilos, tópicos e temas candentes no circuito artístico de então. Em uma inversão de ideologia e princípios éticos, políticos e artísticos, os autores tornam as contradições sociais motivo de piada. A inovação das obras desses escritores, para a época, é a negação de que o objetivo do gênero satírico é corrigir e repor a ordem moral e social vigente. “É rir da miséria e das ilusões humanas sem pôr nada no lugar. Já que o ser humano não deu certo, o jeito é rir”, afirma a autora na entrevista à Edusp.
O lançamento dos livros Estranhezas do Século Romântico e Fragmentos de Humor, da professora Cilaine Alves Cunha, será nesta sexta-feira, dia 26, às 19 horas, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros, em São Paulo). Entrada grátis.
Reportagem de Manuela Trafane estagiária sob supervisão de Marcello Rollemberg e Roberto C. G. Castro
* Texto original:https://jornal.usp.br/cultura/livros-da-editora-da-usp-mostram-a-divers…