CEstA Dupla com Cliverson Pessoa e Márcia Rodrigues
03/10/2025 - 17h30
Sede do CEstA - Rua do Anfiteatro 181, Colmeia - favo 8
Cliverson Pessoa – Doutor em arqueologia
Paisagens de movimento no interflúvio Madeira-Purus
Nos modelos sobre a ocupação da Amazônia, os grandes rios têm sido tradicionalmente
privilegiados como principais eixos de circulação, fundamentais para compreender processos de migração, dispersão e expansão de pessoas, objetos e ideias no passado. O interflúvio Madeira-Purus, no sudoeste da Amazônia, oferece outras possibilidades para pensar a relevância das rotas terrestres construídas pelos povos indígenas ao revelar um conjunto de evidências arqueológicas de estradas e estruturas de terra que desafiam interpretações centradas apenas nos cursos fluviais. Este trabalho analisa as principais características da formação dessa paisagem, continuamente transformada ao longo dos últimos quatro milênios, até alcançar o período da economia da borracha, quando seringueiros estabeleceram diferentes formas de relação com as comunidades indígenas da região. Trata-se de uma história de longa duração, cujos vestígios vêm sendo severamente ameaçados pelo avanço recente do desmatamento, o que reforça a urgência de seu reconhecimento como patrimônio arqueológico.
Márcia Rodrigues – Doutoranda em Ciências do ambiente e sustentabilidade na Amazônia
Terra Preta Amazônica: arqueologia, antropogização e sustentabilidade
Nessa apresentação, pretendo falar do meu projeto de tese, que retratará a sustentabilidade da Terra Preta Antropológica da Amazônia. Esse assunto pode ser visto como relativamente recente e complexo, por ainda guardar grandes mistérios acerca dos processos de formação e da permanência das características desses solos. Entretanto, tenho consciência de que essa não pode ser a única preocupação a orientar o projeto. Em outras palavras, não existe solo antropológico sem mãos humanas, mãos essas que não lhes cabem o apontamento de inimigas ou parte que deva ser impedida ou cortada para que não toque no meio ambiente. Pois parto do princípio de que esses solos resultam de processos de antropização realizados pelos povos originários. Além disso, nos muitos sítios arqueológicos, os chamados “povos da floresta”, nos dias atuais, continuam o manejo dessa terra. Sendo assim, deixo explícito que o objetivo geral desta pesquisa é analisar a sustentabilidade temporal e a capacidade de armazenamento de nutrientes da Terra Preta Amazônica, com foco nos sítios arqueológicos Laguinho e Caldeirão, em Iranduba (AM), e Teotônio, em Porto Velho (RO). Mas cabe destacar que o termo “sustentabilidade” não se restringe ao cuidado com um espaço isolado. Para que ela ocorra de fato e de direito, é necessária a cooperação entre diversos seres vivos e não vivos.
Assim, embora o solo seja o centro da análise, reconheço que ele se integra a um todo, do qual o humano é parte fundamental em todas as trocas e relações estabelecidas.