Tendo em vista que o tema do aborto é ainda discutido de forma incipiente pela historiografia, a despeito de sua relevância social tanto em tempos pretéritos quanto na contemporaneidade, propomos a realização de uma aula aberta, cujo objetivo é abordar o assunto por meio de pesquisas e trabalhos cientificamente concebidos e que possam fomentar uma discussão esclarecida sobre perspectivas que abordam a questão.
O aborto em perspectiva histórica:
Tendo como mote o livro de Giulia Galeotti “História do aborto”, pretende-se apresentar as três etapas sugeridas pela autora para estabelecer uma possível história do aborto. A partir de tal periodização, nos embasaremos em obras e leituras complementares que auxiliam na abordagem do tema.
Primeira etapa (até o século XVIII):
Tomaremos como base o livro “Calibã e a bruxa”, de Silvia Federici, que discute a passagem da Idade Média para a Moderna, enfatizando a chamada caça às bruxas entre os séculos XV e XVII, quando as mulheres teriam sido alvo privilegiado de perseguição em função dos chamados “crimes reprodutivos”, em que o aborto aparece como central.
Segunda etapa (do século XVIII à segunda metade do século XX):
Para esta etapa nos basearemos no livro “Um amor conquistado: o mito do amor materno”, de Elizabeth Badinter, que discute as mudanças nas concepções sobre a maternidade, além das transformações no que se refere ao apagamento do papel exercido pelas mulheres na contracepção, gestação, parto e aborto, que passam a ser medicalizados e conduzidos preferencialmente por homens.
Terceira etapa (segunda metade do século XX):
Período marcado pela proliferação de movimentos feministas de “segunda onda”, em que assuntos de ordem íntima se tornam motivos de ação política. O aborto surge como urgência nas novas agendas dos movimentos. Tomaremos como suporte textos de Amelinha Teles (sobre a imprensa feminista) entre outros.
Propomos uma quarta ou nova etapa, que se pauta nas últimas décadas: abordaremos as relações entre a política e o aborto, tendo como base publicações atuais, tais como as de Flávia Birolli e Débora Diniz, cujos trabalhos se voltam para as complexas relações entre as leis, a democracia e o controle dos corpos femininos.
Subjetividades: para finalizar, nos debruçaremos sobre alternativas de abordagem do tema, enfatizando o potencial da história oral para o registro das subjetividades e as possibilidades de proposição de políticas públicas baseadas nas realidades envolvidas em sua pluralidade.
A atividade será finalizada com a dramatização de trechos das histórias de vida coletadas durante a pesquisa de doutorado “Dilemas da (sobre)vida: o aborto”, da Profa. Dra, Marcela Boni Evangelista.