Pronunciamento da diretora sobre as atividades acadêmicas

Em comunicado gravado no dia 31 de março de 2020, a diretora Maria Arminda do Nascimento Arruda esclarece algumas questões sobre este momento que a FFLCH, assim como toda a USP, está enfrentando

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Redação
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Confira o pronunciamento da diretora Maria Arminda do Nascimento Arruda em áudio aqui e, abaixo, a transcrição de sua fala:

 


Caros e caras colegas, estudantes e funcionários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,


Dirijo-me a vocês para tentar esclarecer algumas questões referentes à situação que a Universidade, e particularmente a FFLCH, está enfrentando. Não é preciso reafirmar o que todos sabem, que essa situação da pandemia atingiu duramente a Universidade, como todas as universidades do mundo e, não seria diferente, atingiu também a Faculdade de Filosofia. 


Nossa Faculdade tem uma particularidade que é a sua riqueza, mas que também envolve pensar questões dentro da diversidade, o que nunca é simples. A FFLCH não só conta com um grande volume de pessoas, de estudantes, professores e funcionários, como ela é muito diversa internamente. Temos desde as ciências — Ciências Sociais, História e Geografia — e a área da cultura propriamente dita, que também é ciência, as Letras, e dentro das Letras, várias habilitações e muitos departamentos. Enfim, cada uma dessas habilitações e desses departamentos são realidades em si. Evidentemente, essa diversidade é boa, pois é a nossa riqueza, e isso também nos confere força. Mas é sempre muito difícil articular a instituição quando situações como esta terrível que estamos vivendo neste momento se apresentam. Por isso, optei por conversar um pouco com vocês.


A Diretoria não tem se omitido, contrariamente, eu tenho estado o tempo todo conectada com os órgãos da FFLCH: a Assistência Acadêmica e as Comissões. Eu quero chamar a atenção para isso. Inclusive, nós temos procurado dar corpo a certas medidas construídas pela Reitoria e ver quais são as nossas possibilidades de inserção nessas determinações, dada a nossa diversidade. Ora, a nossa diversidade, que eu reafirmo ser a nossa riqueza, também nessas situações pode ser a nossa dificuldade. 


O momento exige que tenhamos uma resposta institucional diante das questões que se avolumam na Universidade e no Brasil, que possui características muito próprias — um país que conta com uma desigualdade social assombrosa e que está passando, também, por questões políticas muito complicadas, e todo mundo sabe disso. Então, não há uma solução simples, tampouco, é necessário copiar outras soluções, por melhores que elas sejam. Porque soluções que unidades e faculdades têm dado dentro da USP dizem respeito a uma instituição integrada do ponto de vista da formação que oferece. Nós temos, contrariamente, a diversidade — isso que eu disse que é a nossa riqueza e a nossa dificuldade. 


Diante desse quadro e da dificuldade de construir um certo consenso, ontem foi feito um comunicado no qual a diretoria recuperava a comissão responsável pela elaboração pelo projeto acadêmico, que recebeu todo o aplauso da Faculdade dado ao alto nível do nosso projeto e dos resultados. Hoje, essa comissão é responsável igualmente pelo acompanhamento, na qual foram agregados os presidentes das duas comissões que são responsáveis por cursos — a Comissão de Graduação, com a professora Mona [Mohamad Hawi], e a Comissão de Pós-Graduação, com o professor Edélcio [Gonçalves de Souza]. Qual foi a decisão que embasou essa medida? Foi trazer para o centro do debate não só essa comissão, que eu continuo afirmando ser competente para tal, mas que pudesse construir um chão comum — e ela é muito diversa, pois representa todos os departamentos — para que pudéssemos recomeçar o nosso diálogo interno e encontrar saídas que sejam institucionais. Reafirmo: institucionais. As saídas coletivas e institucionais dão força à instituição. As saídas particulares enfraquecem a instituição. Isso é uma platitude, todos nós sabemos disso. Essas saídas institucionais têm sido difícil em um contexto tão diversificado e, ao mesmo tempo, submetido a uma pressão inimaginável como esta que hoje estamos vivendo.


Eu creio que o mundo que sairá desse trauma será um mundo muito diferente. E eu auguro que seja um mundo muito melhor e que este país tão desacertado que estamos vivendo hoje também consiga um mínimo acerto. Ora, as universidades públicas têm um papel central no meio de todas essas questões que acicatam o Brasil, sobretudo uma instituição como a FFLCH, pois ela é inclusiva. Nós já atingimos 50% dos nossos alunos, nos diferentes cursos, como cotistas. Em alguns até mais. A educação é uma das formas, coisa que todos sabemos, de minorar a desigualdade social ou de construir canais possíveis para que no futuro essa desigualdade seja diminuída. Eu fico pensando o que é uma pandemia nas periferias das grandes cidades, que não têm um mínimo para sobreviver. Isto terá um efeito, se não se tomar cuidado, arrasador sobre essas comunidades. Então, nós temos que zelar pela formação que oferecemos. Zelar significa ao mesmo tempo zelar pela qualidade e zelar para a possibilidade de formar os estudantes. 


Foi por essa razão também que foi feito um comunicado no qual a diretoria avisava que estavam suspensas avaliação e frequência, e que faríamos um esforço para mapear as questões dos nossos estudantes. Fizemos três questões gerais para depois aprofundar. Em quinze dias, a nossa ideia seria ter uma visão mais completa dessas dificuldades. Quinze dias vai terminar lá para o dia nove, dez de abril. Nós ainda temos tempo. Diante de tantos problemas, a gente tem que procurar ter um mínimo de calma e de condição de tentar equacionar aquilo que parece impossível de ser equacionado. Isso já foi suspenso.


O que a Reitoria determinou? E a Faculdade está dentro da Reitoria. Determinou que nós mantivéssemos as nossas atividades. A suspensão das avaliações e da frequência, que acho que é uma boa medida que a Faculdade tomou, pode se estender. Aliás, eu não sei por quanto tempo vai se estender isso que nós estamos chamando de isolamento — quarentena é até inadequado porque acho que vamos ultrapassar quarenta dias. Então, preservar o contato com os estudantes é central e fazer atividades mesmo que por via eletrônica é importante. Até porque nós precisamos dar respostas públicas e nós lidamos com estudantes que vêm de condições, muitas vezes, que precisam de assistência. Isso não quer dizer necessariamente dar conselhos.


Então, aquelas três questões, que se disse que eram insuficientes, eram para começar a tomar alguma medida que seria incrementada ao longo do tempo. A Faculdade tem se preocupado muitíssimo, eu particularmente, com a condição dos nossos estudantes no CRUSP [Conjunto Residencial da USP]. Inclusive, estamos em contato com a SAS [Superintendência de Assistência Social] para ajudar na distribuição de computadores para que os estudantes possam tentar manter as suas atividades. Pusemos à disposição da SAS alguns aparelhos e estamos tentando resolver os problemas de internet. Nós temos um alto contingente de estudantes da Faculdade que moram no CRUSP. Esse levantamento foi feito há alguns dias a meu pedido e constatamos que esse contingente é alto, bem significativo


A outra questão que eu queria dizer para vocês é que essa diversidade existe dentro do corpo docente. Há professores que estão ministrando cursos e seguindo protocolos para ministrar em todos os departamentos. Por isso é que é preciso mapear e ter alguma tranquilidade diante disso. Esse tempo será longo na minha opinião. Ele não vai acabar imediatamente. Então, uma vez se chegando a uma espécie de ordenamento geral e institucional, nós poderemos ter o mapa das atividades da Faculdade e poderemos tomar as medidas necessárias. 


A Diretoria não fraquejará diante da necessidade de responder às diferentes questões. A Faculdade não precisa copiar ninguém. Ela tem cérebros importantíssimos. Nós temos uma massa de pessoas pensantes. Nós devemos pensar essas pessoas com orgulho. E a Faculdade, na sua diversidade, é diversa de muitas outras instituições. Essa diversidade tem que ser agasalhada. A diretoria está pronta para isso. Estou com o professor Paulo Martins, que está deixando o seu luto, o tempo todo em ação. Eu estou do lado da FFLCH e nunca abri mão da minha responsabilidade, todo mundo sabe disso.

 

Então, eu exorto a todos que se protejam. Nós felizmente não temos um número significativo de pessoas infectadas, mas até quando? Eu desejo saúde a todo mundo, a todos nós. E eu desejo também que nós tenhamos uma certa tranquilidade para que possamos enfrentar esse momento desesperador, em todos os sentidos. Se nós nos atropelarmos e buscarmos soluções ad hoc, isso não será bom para ninguém. Muita saúde para todo mundo. Tenham certeza que o tempo todo estamos tentando responder aos anseios da comunidade da Faculdade, que tem muitas direções e todas precisam ser contempladas. Muito obrigada.