Nascimento de Annie Ernaux

Autora de obras como "O Lugar", "O Acontecimento" e "Os Anos", Annie Ernaux é uma das escritoras contemporâneas mais importantes na França

Por
Alice Elias
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Nascimento de Annie Ernaux
Segundo Claudia Pino, "a partir de um trabalho da técnica narrativa, [Annie Ernaux] permite um engajamento maior do leitor em relação ao que está sendo contado". (Arte: Alice Elias)

Em 1º de setembro de 1940, nasceu Annie Ernaux, atualmente uma das escritoras contemporâneas mais importantes da França. Autora de obras como O Lugar, O Acontecimento e Os Anos, Annie Ernaux trata temas como sexualidade, aborto, repressões sociais, assédio e outras pautas feministas.

Na França, Annie Ernaux “é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da autoficção, uma vertente da autobiografia que se atém mais ao trabalho da narrativa que da história de uma vida”, explica Claudia Consuelo Amigo Pino, professora de literatura francesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa sobre a autora:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Annie Ernaux?

Claudia Pino: Annie Ernaux é uma das escritoras contemporâneas mais importantes da França hoje em dia. Nascida em 1940, se torna conhecida sobretudo a partir dos anos 2000 e da valorização dos temas recorrentes na sua obra: a sexualidade, o aborto, as pautas feministas. Já ganhou prêmios importantes na França, como o prêmio Renaudot, em 1984, e o prêmio Marguerite Yourcenar, em 2017. Seus livros começaram a ser recentemente traduzidos no Brasil: O Lugar, O Acontecimento e Os Anos, foram publicados pela editora Fósforo, entre 2021 e 2022.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Annie Ernaux?

Claudia Pino: Annie Ernaux recorre sobretudo à escrita autobiográfica, mas está longe de se ater à história de sua vida. A partir de um trabalho da técnica narrativa, ela permite um engajamento maior do leitor em relação ao que está sendo contado. É o caso de Os Anos, por exemplo, em que a narrativa é feita na primeira pessoa do plural. Assim, os fatos narrados não parecem pertencer a ela em particular, mas a toda uma geração que viveu acontecimentos semelhantes e mesmo às gerações que a sucederam. Ela também recorre em diversos momentos a elementos audiovisuais, como fotos ou filmes. É o caso de L'usage de la Photo (o uso da foto), em que narra uma história de amor (a dois, com Marc Marie), a partir das fotos de objetos e roupas que se espalham pela casa.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Claudia Pino: Annie Ernaux é uma das grandes responsáveis na França pelo desenvolvimento da autoficção, uma vertente da autobiografia que se atém mais ao trabalho da narrativa que da história de uma vida. Há também sempre um jogo em relação à sua identidade na obra: trata-se da autora realmente ou de outra entidade, algo mais próximo do leitor? Ela também foi responsável por trazer a tona temas que em geral são escondidos, fruto de "vergonha" (nome de uma de suas obras mais importantes) ou repressões sociais, como a falta de desejo sexual no casamento, o assédio sexual, o aborto, a humilhação sexual, o desejo obsessivo. Sua obra dialoga com a linguagem audiovisual e foi adaptada diversas vezes ao cinema, como é o caso do filme de 2021, O Acontecimento, de Audrey Diwan, centrado em sua experiência com o aborto.

Claudia Consuelo Amigo Pino é doutora em Letras pela FFLCH, membro da equipe editorial das revistas “Criação & Crítica” e “Manuscrítica”, e Presidente da Comissão de pós-graduação da mesma instituição. Para quem se interessar, publicou os livros A Ficção da Escrita (2004), Escrever Sobre Escrever (2007) (com Roberto Zular), Roland Barthes: A Aventura do Romance (2015) e Apprendre et Désapprendre. Les Séminaires de Roland Barthes (1962-1977) (2022), além de vários artigos, números especiais de revistas e coletâneas.