Nascimento de Luís Carlos Prestes

Símbolo revolucionário comunista e uma das figuras mais emblemáticas do século 20, Prestes foi líder da Coluna Prestes

Por
Alice Elias
Data de Publicação

Nascimento de Luís Carlos Prestes

 

Em 3 de janeiro de 1898 nasceu Luís Carlos Prestes, símbolo revolucionário comunista e uma das figuras mais emblemáticas do século 20. Militar do Exército brasileiro, converteu-se em um dos principais líderes da Coluna Miguel Costa-Prestes, movimento que procurou mobilizar a população brasileira contra o domínio oligárquico vigente durante a República Velha.

Difamado pela elite e glorificado pela esquerda, a trajetória de Prestes se confunde com a história política brasileira do século 20. “É impossível falar sobre a Era Vargas e o período militar, por exemplo, sem falar em Prestes, em sua liderança, em seu simbolismo... até mesmo seus equívocos e contradições são importantes, pois expõem a natureza e sua trajetória marcada no século 20”, explica Bruno Gaudêncio, doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Luís Carlos Prestes?
Bruno Gaudêncio: Prestes foi uma das personalidades mais significativas do século 20. Militar de origem, converteu-se em líder e símbolo revolucionário comunista a partir do final da década de 1920, transformando-se em uma espécie de sinônimo do seu partido, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), da década de 1930 à década de 1970.

Serviço de Comunicação Social: O que foi a Coluna Miguel Costa-Prestes?

Bruno Gaudêncio: Sou dos historiadores que defendem a denominação Coluna Miguel Costa-Prestes, por uma questão de justiça deste importante acontecimento. É verdade que a denominação Coluna Prestes prevalece. Entretanto, é fato que, a partir dos anos 1990, cresceu a adesão ao nome Coluna Miguel Costa-Prestes dentro da própria historiografia brasileira a partir da ideia de que essa nomenclatura seria mais justa, visto que as duas principais lideranças da Coluna foram justamente Miguel Costa (o general-comandante) e Luiz Carlos Prestes (coronel-chefe do Estado-Maior).

De maneira direta podemos definir a Coluna Prestes ou Coluna Miguel Costa-Prestes como a marcha que percorreu o interior do Brasil entre os anos de 1925 e 1927 e procurou mobilizar a população brasileira contra o domínio oligárquico. Foi liderada por jovens oficiais de baixa e média patente do Exército brasileiro, em sua maioria tenentes.

Sobre Prestes especificamente, existem várias motivações que levaram a marca a ter o seu nome, visto que sua memória está intrinsecamente ligada ao movimento que ficou conhecido pelo seu nome. Segundo o historiador Rodrigo Motta (2004), com o término da marcha, surgia nos noticiários cariocas a figura do jovem capitão ao qual foi atribuída a alcunha que o acompanharia por décadas: “Cavaleiro da Esperança”. Surgia ali uma mitologia política que acabou se modificando ao longo do século 20, mas que se manteve constante apesar das perseguições a Prestes em vários períodos.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram as principais contribuições de Prestes? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Bruno Gaudêncio: Prestes incomodou bastante a elite brasileira, que nunca o perdoou por sua opção revolucionária comunista. Mesmo com todas as campanhas de difamações e as tentativas de apagamento de sua memória, sua simbologia ainda permanece viva. Até porque sua trajetória meio que se confunde com a história política brasileira do século 20. É impossível falar sobre a Era Vargas e o período militar, por exemplo, sem falar em Prestes, em sua liderança, em seu simbolismo... até mesmo seus equívocos e contradições são importantes, pois expõem a natureza e sua trajetória marcada no século 20. A rigidez, a coerência, a adesão ao comunismo o transforma atualmente em um símbolo de fortaleza, que precisa sempre ser mobilizado para repensarmos nossa história política.

Serviço de Comunicação Social: Em sua tese de doutorado, você fez um estudo comparativo de quatro biografias distintas de Prestes. A que conclusão você chegou a partir disso?

Bruno Gaudêncio: Concluo minha tese com uma citação retirada do narrador do conto O Apocalipse Privado do Tio Geguê, presente na coletânea Cada Homem é uma Raça, do ficcionista moçambicano Mia Couto (2013), que afirma o seguinte: “a história de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, em todo tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens”.

Prestes foi bastante biografado ao longo do século 20, porém sua memória ficou bastante presa à memória empreendida por Jorge Amado, publicada inicialmente em 1942, e que até hoje possui dezenas de edições. Uma visão idealizada, mítica e romanesca. Só recentemente, de forma crítica, sua biografia vem sendo repensada, em especial pelo historiador Daniel Aarão Reis. Por outro lado, de certa forma dentro de um certo continuísmo de Jorge Amado, sua filha, Anita Leocádia Prestes, continua o processo de mistificação criada por Amado e outros tantos comunistas ao longo do século 20. Ela assume uma espécie de função de herdeira e defensora do pai. Faz isso muito bem, com muito rigor e competência, mas isso interfere bastante visto que sua concepção de biografia é bastante restritiva.

Na verdade, priorizou-se muito o lado político de Prestes, esquecendo-se o homem. Talvez devido à reserva pessoal que ele teve em vida. Seus biógrafos ainda não conseguiram vencer neste aspecto.

Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio é historiador, escritor e professor. É doutor em História Social pela FFLCH e mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Enquanto professor-pesquisador possui experiência em História do Brasil e da Paraíba, com ênfase nos estudos sobre história biográfica, história dos intelectuais, história do livro, história da imprensa e história institucional.