A Operação Barbarossa foi um dos fatores para que a Alemanha perdesse a Segunda Guerra
O dia 22 de junho de 1941 marca o começo da invasão alemã contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), trazendo a morte de 80% dos soldados do exército alemão, que mudou os rumos da Alemanha nazista na Segunda Grande Guerra. A Operação Barbarossa, como é nomeada, foi conduzida pela vontade de Adolf Hitler de assegurar mantimentos para seu país na guerra, principalmente minerais. Logo, ao mesmo tempo que acontecia um grande conflito ao oeste da Europa, a Alemanha se organizava para, simultaneamente, adentrar em outra rivalidade ao leste.
Nesse cenário, o exército de Hitler e seus aliados começam um combate que terminaria depois de três anos com a vitória da URSS. “Como foi na frente Oriental que a Alemanha sofreu suas maiores perdas, a URSS obteve um grande prestígio internacional pelo seu sacrifício para a derrota de Hitler", afirma Angelo de Oliveira Segrillo, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP. Confira a entrevista completa:
Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre o que foi a Operação Barbarossa, para os leitores que ainda não conhecem?
Angelo de Oliveira Segrillo: A Operação Barbarossa foi a invasão da União Soviética pela Alemanha nazista (e exércitos seus aliados) a partir de 22 de junho de 1941 no contexto da Segunda Guerra Mundial. Ela foi extremamente importante por vários motivos. Foi a maior operação ofensiva da história e se revelou a parte mais decisiva da Segunda Guerra Mundial, pois foi nela que a grande maioria das mortes de soldados alemães (mais de 80%) ocorreu. Ela foi uma decisão controversa de Hitler (inclusive contra a opinião de muitos de seus generais), pois representava a abertura de uma segunda frente de guerra simultânea aos combates na frente da Europa Ocidental.
Serviço de Comunicação Social: Quais as motivações para a Alemanha Nazista Invadir a URSS? Por quais fases passaram esse ataque?
Angelo de Oliveira Segrillo: Hitler já deixara claro anteriormente em seu livro "Mein Kampf" que ele via o espaço do Leste Europeu como o Lebensraum ("Espaço Vital") que garantiria minerais e suprimentos para o futuro da Alemanha. Durante a guerra, muitos de seus generais eram contra abrir uma segunda frente além guerra que já se desenrolava na Europa Ocidental. Mas quando ficou claro que a Alemanha não conseguiria derrotar a Inglaterra e a luta seria longa, Hitler achou importante a Alemanha invadir a URSS para conquistar suas riquezas minerais (especialmente petróleo) para garantir o suprimento da Alemanha nesta guerra longa. Talvez influenciado pela experiência de Napoleão (que conquistou Moscou, mas perdeu a guerra), Hitler se decidiu não por um ataque único direto a Moscou, mas a uma divisão dos exércitos em quatro grupos em direções diferentes: 1) o Exército da Noruega (para o norte da Escandinávia); 2) o Grupo de Exércitos Norte (para o Báltico e Leningrado); 3) o Grupo de Exércitos Centro (em direção a Moscou); 4) o Grupo de Exércitos Sul (pela Ucrânia até conseguir conquistar os poços de petróleo do Cáucaso). Esta estratégia enfatizava a conquista das riquezas minerais (especialmente petróleo ao sul), mas atrasou a chegada a Moscou, o que acabou se revelando fatal, pois ocorreu um forte inverno prematuro que salvou os russos da derrota naquele ano e deu-lhes um período de recuperação por alguns meses. Em 1942 todas essas frentes (exceto a da Noruega) ficaram paralisadas, sem vitórias decisivas no primeiro semestre. No segundo semestre, os alemães jogaram o ímpeto principal de suas forças na batalha de Stalingrado, que durou de agosto de 1942 a fevereiro de 1943. Stalingrado se revelaria o ponto de viragem da guerra. A partir da dificílima vitória soviética ali, a Alemanha passou da ofensiva para a defensiva: lentamente o exército soviético iria agora empurrando o exército alemão de volta para seus territórios. Em 1944 os soviéticos expulsam os alemães definitivamente de seu país e passam a persegui-los Europa Oriental adentro em direção à Alemanha. Em 1945 tomam Berlim e terminam a Guerra na Europa.
Serviço de Comunicação Social: Quais foram as consequências desse evento para a história da URSS?
Angelo de Oliveira Segrillo: Deixou marcas profundas na URSS. Segundo as estatísticas oficiais da URSS na época, cerca de 28 milhões de soviéticos morreram durante a Guerra. Como foi na frente Oriental que a Alemanha sofreu suas maiores perdas, a URSS obteve um grande prestígio internacional pelo seu sacrifício para a derrota de Hitler. Como consequência da Guerra, a URSS também expandiu o campo socialista para a Europa Oriental também no pós-Guerra, criando as novas condições do mundo bipolar da Guerra Fria.
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Angelo de Oliveira Segrillo é responsável pela disciplina História Contemporânea com ênfase em Ásia. Coordena o Laboratório de Estudos da Ásia do Departamento de História da USP.
