Atuação dos sindicatos se fortaleceu nos governos petistas

Entrevistas com sindicalistas nortearam pesquisa da FFLCH, desenvolvida na área de sociologia do trabalho

Por
Gabriel Gama
Data de Publicação

Manifestação sindicalista em Brasília, no ano de 2015
Foto: Jonas Perreira/Agência Senado

A tese de doutorado de Thamires Silva, intitulada “Somos Governo! Uma Análise do Sindicalismo Brasileiro nos Anos de 2003 a 2016”, analisou o amadurecimento do movimento sindical nas últimas décadas e o papel que desempenhou nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Thamires é socióloga, com mestrado e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Sua pesquisa surgiu da vontade de compreender o contexto da atuação sindical que antecedeu o choque institucional do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, um marco divisório na relação de diálogo que ocorria até então entre os sindicatos e os governos petistas.

“A maior contribuição da tese é pensar no processo de institucionalização dos sindicatos que se cristalizou nos governos do PT, mas resultou do fortalecimento das experiências sindicais de décadas passadas”, diz a pesquisadora.

A tese focou na atuação de três organizações: o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o Sindicato dos Químicos de São Paulo e o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e região — todos representados pela Central Única dos Trabalhadores.

Thamires destaca que seu olhar sobre os sindicatos partiu da ênfase nas ações e respostas às perdas trabalhistas do período, em vez de explorar apenas as dificuldades da luta sindical. “O diagnóstico [da situação atual dos movimentos] já é conhecido, eu queria entender as formas de intervir na realidade, conhecer para qual rumo os sindicalistas apontam.”

Com dedicatória aos próprios trabalhadores, a tese foi desenvolvida a partir de entrevistas com dirigentes dos três sindicatos e especialistas de áreas diversas — metade das entrevistas foram realizadas com mulheres e a outra metade com homens. Thamires enfatiza que essa foi uma escolha ousada, já que as mulheres enfrentam mais dificuldades para acessar as estruturas de poder.

Segundo a autora, a importância da pesquisa reside na retomada do papel do sindicalismo para a consolidação da democracia brasileira e das liberdades civis. “As pessoas se incomodam com as discussões sobre o sindicalismo, mas não temos como desvincular a história dos nossos direitos do processo de amadurecimento do movimento sindical, que ocorre desde a década de 1970 e a redemocratização.”

Dinâmicas dos sindicatos e projeção de futuro

A chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder em 2003 alterou a dinâmica do diálogo entre o governo federal e os sindicatos. Com um presidente ex-sindicalista, algumas reivindicações dos movimentos foram facilitadas, o que não significou falta de mobilização.

Na avaliação da pesquisadora, a inserção dos sindicatos no novo governo Lula é mais modesta em relação às primeiras gestões do PT, embora a recomposição do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, criado em 2003 e extinto por Jair Bolsonaro, seja um indicador da ampliação da interlocução com a classe trabalhadora no governo.

Hoje, a sociedade enfrenta mudanças radicais no mundo do trabalho, cada vez mais digitalizado e com altos índices de informalidade. “Há uma reestruturação do trabalho, o emprego está cada vez mais escasso. No passado, os sindicatos foram muito importantes para falar das perdas salariais, porque havia potencial para assegurar direitos, mas parte disso se perdeu.”

Thamires aponta que será necessária uma atualização nas formas de interagir com os problemas sociais. “Os sindicatos vão sobreviver e manter sua relevância, desde que tenham maturidade para perceber que as experiências do passado constituíram repertórios para projetá-los para o futuro, no qual haverá mais dificuldade de representar os trabalhadores em um mercado de trabalho heterogêneo como o do Brasil.”

Apesar das dificuldades, a pesquisadora mantém o otimismo. “O futuro do trabalho e da sociedade é um futuro onde cabem sindicatos e organização dos trabalhadores. Cabem reflexões que podem ser transformadas em ações para melhorar a qualidade de vida das pessoas.”

A tese completa pode ser acessada na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.