Nascimento de Giambattista Vico

Giambattista Vico foi o precursor do estudo de história, filosofia e demais humanidades como ciência

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Astral Souto
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Segundo Ivan Kowaleski, doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da (FFLCH) USP e especialista em história intelectual: “Ele é considerado o mais importante pensador italiano depois de Galileu Galilei. Vico é um personagem singular”.

No dia 23 de junho de 1668 nasceu o italiano Giambattista Vico. Um historiador, filósofo, jurista e primeiro pensador ocidental a separar ciências da natureza das ciências humanas, fomentando assim a necessidade de se estudar história como uma ciência. Além de ser um contraditor às ideias vigentes no século 18 - o Iluminismo e o cartesianismo -, Vico originou a história ideal eterna, conceito universal para o estudo da história que se estrutura em três fases: a idade dos deuses, a idade dos heróis e a idade dos homens. Essas fases, segundo o filósofo, se repetem por toda a história.

Segundo Ivan Kowaleski, doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da (FFLCH) USP e especialista em história intelectual, Vico é um personagem singular e o mais importante pensador italiano depois de Galileu Galilei. Confira a entrevista com o pesquisador:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Giambattista Vico, para os leitores que ainda não o conhecem?

Ivan Kowaleski Figueira de Barros: Giambattista Vico foi um filósofo, poeta, historiador e jurista italiano. Ele nasceu em Nápoles no dia 23 de junho de 1668 e morreu na mesma cidade na noite de 22 de janeiro de 1744. Ele é considerado o mais importante pensador italiano depois de Galileu Galilei. Vico é um personagem singular. Passou a vida toda lecionando na Universidade de Nápoles, sempre enfrentando muitas dificuldades financeiras. Intelectualmente, sua profunda devoção ao Catolicismo fez com que ele se tornasse um ferrenho opositor do Cartesianismo e do Iluminismo, as correntes de pensamento predominantes durante sua época de vida. Ele falava latim quase tão bem como o italiano, mas recusava falar o francês, língua culta em toda a Europa no final dos seiscentos. Gastou mais da metade de sua vida trabalhando em um único livro chamado Principii di Scienza Nuova d'intorno alla comune natura delle nazioni (Princípios de uma nova ciência relativa à natureza comum das nações), publicado primeiramente em 1725 e depois revisto e ampliado na edição definitiva de 1734. Porém, por ironia do destino, Vico morreu quando sua obra máxima estava no prelo.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam o pensamento do historiador?

Ivan Kowaleski Figueira de Barros: Através de uma leitura original e criativa de autores da Antiguidade, tais como Homero, Moisés, Platão, Tácito, Diodoro Sículo, Estrabão e outros Vico concebeu uma visão histórica totalmente inovadora: a História Ideal Eterna, pela qual passaram todos os povos ao longo dos tempos. Segundo ele, a Humanidade, em seu processo civilizatório, atravessa sempre três fases: A Idade dos Deuses, a Idade dos Heróis e a Idade dos Homens. A cada uma dessas idades corresponde uma forma diferente de vida, com concepções próprias do que sejam as leis, a Religião e a Cultura, entendidas aqui em um sentido amplo e geral.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a história e a filosofia? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Ivan Kowaleski Figueira de Barros: Vico nos fornece um arcabouço teórico sólido para entendermos o mundo em que vivemos hoje. De acordo com ele, que foi o primeiro pensador ocidental a fazer esta divisão, as Ciências da Natureza se baseiam em conceitos absolutos e atemporais (a Lei da Gravidade, a circunferência da Terra), enquanto as Ciências Humanas possuem conceitos relativos, válidos apenas dentro de certos contextos históricos e culturais. Por exemplo, a ideia de Religião nas sociedades cristãs-ocidentais não é a mesma que nas sociedades muçulmanas-orientais; a concepção de Masculinidade na década de 2020 é diferente daquela da década de 1920.

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Ivan Kowaleski Figueira de Barros é doutor em ciências pelo programa de História Social da USP