Interesses financeiros influenciam a educação em escolas particulares

Instituições de ensino privadas exploram professores e tratam o local como mercadorias que precisam ser vendidas

Por
Thais Morimoto
Data de Publicação

Sala de aula com uma professora e algumas crianças sentadas em carteiras
Imagem: Pexels

Sem a atuação de sindicatos, professores da rede particular de ensino ganhariam cerca de 30% menos no ABC Paulista. O dado vem de uma pesquisa de doutorado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Na tese Peso do saber - relações jurídicas e econômicas entre capital e trabalho docente no ABC Paulista 1986 - 2016, André Aparecido Bezerra Chaves estudou a relação entre o trabalho de professores e o funcionamento de escolas particulares por meio da teoria marxista. Segundo ele, “a escola particular é uma empresa que explode o setor econômico e que visa enriquecer o capital”.

Para uma análise mais aprofundada do assunto, é necessário separar a educação pública e a privada econômica, o que nem sempre ocorre. De acordo com Chaves, “as pessoas não enxergam muito a escola particular como uma empresa lucrativa que está vendendo uma mercadoria com todos os fetiches”. Mas, desde o surgimento de qualquer escola particular, as preocupações são as mesmas que em outras empresas, como o pagamento de impostos. Existe a necessidade da escola criar a imagem de ser uma mercadoria desejável e consumível.

Ainda segundo o pesquisador, “o fetiche que existe da educação é maior quanto menor a escola. Escola pequena é uma empresa e ela está tentando na medida do possível fazer o melhor que pode para ganhar dinheiro”. 

Professora escrevendo em uma lousa
O professor normalmente trabalha muito e ganha pouco pela quantidade de trabalho. Imagem: Pexels​

A figura do professor no capitalismo

O pesquisador também defende que existe um idealismo criado em relação à figura do professor. Na escola particular, não é apenas um profissional preocupado em passar o conhecimento, ele também precisa do sistema capitalista para sobreviver e a maior parte do lucro obtido com o trabalho deles se direciona a outras pessoas, muitas vezes, aos donos da empresa. O pesquisador enfatiza que "o professor embora seja um intelectual é um proletariado".

Para entender melhor essas relações, Chaves analisou 900 processos trabalhistas e descobriu características em comum entre eles. “Poucas vezes o professor tentava ganhar algo ilícito sobre a empresa”. Segundo ele, o mais usual é o oposto: “a empresa que quer deixar de pagar um direito trabalhista ao professor, o que já é uma grande realidade”. 

Chaves também critica a legislação educacional brasileira. De acordo com o pesquisador, não existe limite para quantidade de alunos em sala de aula, há apenas orientações pedagógicas. Algumas escolas usam esses fatores para ganhar dinheiro com a quantidade de alunos, o que pode interferir na qualidade de ensino.

Para auxiliar na conquista de direitos pelos professores, é essencial a atuação dos sindicatos, segundo o pesquisador. A luta organizada é capaz de ter força para melhorar a condição de trabalho do professor tanto na escola particular, quanto na pública.