Portugal e os 60 anos da guerra colonial

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Francisco Palomanes Martinho
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Descrição

Os conflitos desencadeados em 1961 assinalaram o início de um período de guerras no então espaço colonial português. Numa época em que um expressivo número de territórios em África libertava-se do jugo colonial, começava em Angola, seguida pela Guiné e por Moçambique, os mais longos ciclos de guerras de independência do continente, disputadas em diversas frentes e diversas formas em cada um destes espaços e que chegariam a termo apenas com a revolução de 25 de abril de 1974.

Urdida durante o Estado Novo, a guerra colonial se desenrolou sob um regime de censura que se acirrou ainda mais nos primeiros anos do conflito, fazendo com que a população portuguesa na metrópole recebesse notícias selecionadas e esparsas sobre o curso dos acontecimentos, quase sem imagens ou sons. Ao longo dos seus treze anos, a guerra colonial mobilizou cerca de 1% da população residente na metrópole. Durante o seu período, entre os países ocidentais, esta porcentagem só não excedeu o contingente militar mobilizado por Israel [1] . Cabe ressaltar ainda que o recrutamento para o exército português não se limitou ao perímetro do território metropolitano: nos últimos anos dos conflitos, 38,7% dos combatentes eram recrutados in loco. Em Moçambique representavam 53,6% do contingente militar; em Angola chegavam a 42,4% e na Guiné eram 20,1% do total [2].

Nas últimas décadas, tanto os estudos historiográficos como os realizados em outras áreas das ciências humanas sobre a guerra colonial têm redimensionado o debate a partir de novas abordagens metodológicas e da abrangência de fontes históricas diversificadas, a fim de transpor as limitações dos registros oficiais. Em Angola, Guiné e Moçambique, os efeitos da guerra se estenderam sobre as dezenas de milhares de vítimas, entre elas, militares, guerrilheiros e civis e encetaram uma dinâmica de migrações, assim como crises econômicas e sociais diversas. Para o planejamento, articulação e viabilização da guerrilha nestes cenários de operações, foi indispensável aos movimentos de libertação contar com redes de apoio transnacional, que envolviam os países adjacentes, além de outros países dentro e fora do continente.

Como resultado dos desgastes advindos da guerra colonial, o Movimento das Forças Armadas (MFA), protagonista dos acontecimentos de 25 de abril de 1974, colocou termo ao regime ditatorial do Estado Novo. A partir daí, ascendeu em Portugal um período revolucionário, marco inaugural da democracia portuguesa, ao passo que em Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e São Tomé teve início o processo transição para independências, sob o governo dos movimentos de libertação.

Ainda que o fim da guerra tenha assinalado a desagregação do império português, seus efeitos ecoaram pelas décadas subsequentes e ainda hoje se fazem sentir. Nos países africanos recém-independentes, os desdobramentos da guerra colonial foram determinantes para os rumos dos jovens regimes, na construção de alianças nacionais e transnacionais, e em alguns casos, no desenrolar de novos ciclos de conflitos. Já em Portugal, o fim da guerra legou, entre outros desdobramentos políticos e sociais, um contingente de portugueses que regressava das antigas colônias ou do exílio. Aproximando-se à casa dos dois dígitos percentuais da população que então vivia em Portugal, esta expressiva alteração no quadro populacional está inscrita em um período de reelaboração da identidade nacional e do despontar de novos olhares em torno da memória e da narrativa histórica.

A partir da efeméride dos sessenta anos do início da guerra colonial, o Webnário Portugal e os 60 Anos da Guerra Colonial propõe reexaminar este processo e seus desdobramentos na construção da memória pública, do imaginário social e das narrativas historiográficas sobre seus efeitos em Portugal.

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[1] CANN, John P. Counterinsurgency in Africa. The Portuguese way of war, 1961-1974. Westport,

Connecticut: Greenwoord Press, 1997, p. 106.

[2] DOMINGUES, Francisco Contente; MONTEIRO, João Gouveia; TEIXEIRA, Nuno Severiano. História

Militar de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2017, p. 542.

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