Pesquisa analisou o impacto de eventos climáticos extremos na saúde de pessoas com 65 anos ou mais; fator socioeconômico e situação de moradia também podem intensificar risco de mortalidade
Nos últimos dias, o Brasil vem registrando temperaturas recorde. A última segunda-feira (13) foi o dia mais quente de 2023 na capital paulista, alcançando a máxima de 37,4ºC e superando a temperatura registrada no domingo (12), que era até então a mais alta do ano. Os dados são do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo. Eventos climáticos extremos como este aumentam os riscos à saúde dos indivíduos, de acordo com pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Em tese de doutorado, Sara Lopes de Moraes analisou o impacto das ondas de frio e de calor na mortalidade de pessoas com 65 anos de idade ou mais em São Paulo. A questão das mudanças climáticas tem estado em voga nos últimos anos, e a pesquisadora conta que queria colaborar com políticas públicas na área de clima e saúde.
“As pessoas idosas são as mais vulneráveis, pois seu sistema fisiológico é mais debilitado e elas podem possuir doenças pré-existentes, como hipertensão, problemas cardiovasculares e diabetes”, explica Sara. Por isso, eventos extremos de temperatura aumentam o risco à saúde desse grupo.
Mas a vulnerabilidade não está relacionada apenas às condições genéticas e fisiológicas, como também ao fator socioeconômico e à situação de moradia. A pesquisa revelou que as pessoas mais afetadas pelas ondas de calor e de frio encontram-se nas periferias da cidade de São Paulo. Além disso, as pessoas de baixa renda apresentam maior risco de mortalidade quando comparadas às de classes mais abastadas.
A pesquisadora concluiu, também, que as ondas de frio estão associadas principalmente às doenças cardiovasculares e isquêmicas do coração, enquanto as ondas de calor tendem a causar acidentes vasculares cerebrais.
Para combater os impactos dos eventos climáticos extremos, Sara destaca a importância da criação de áreas verdes e da redução dos gases causadores do efeito estufa. Ela opina, ainda, que os projetos da Prefeitura podem ser expandidos para além das pessoas em situação de rua, protegendo também os moradores das periferias e os trabalhadores que passam muito tempo no transporte público. No Canadá, por exemplo, existem locais de resfriamento durante as ondas de calor, que fornecem ar condicionado e hidratação para aqueles que precisam. Por fim, a pesquisadora sugere que os jornais alertem a população quanto aos riscos gerados pelas mudanças no tempo.