Jorge Schwartz receberá título de Professor Emérito pela FFLCH

Professor titular aposentado da USP, Schwartz tem reconhecimento internacional na área acadêmica

Por
Gabriela Ferrari Toquetti
Data de Publicação
Editoria

Na próxima sexta-feira, 1º de março, Jorge Schwartz receberá título de Professor Emérito pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A cerimônia de outorga será realizada no Auditório Nicolau Sevcenko, no prédio de História e Geografia. Schwartz é professor titular aposentado, credenciado junto ao Programa de Pós-Graduação de Literatura Espanhola e Hispano-Americana da USP.

Autor de obras como Vanguarda e Cosmopolitismo na Década de 20: Oliverio Girondo e Oswald de Andrade (1983) e Fervor das Vanguardas: Arte e Literatura na América Latina (2013), Jorge Schwartz graduou-se em Estudos Latino-Americanos e Inglês pela Universidade Hebraica de Jerusalém em 1970. Fez mestrado em Letras entre 1971 e 1976 e doutorado entre 1976 e 1979, ambos na área de Teoria Literária e Literatura Comparada na USP. Possui, ainda, dois títulos de pós-doutorado: um deles pela USP, em Linguística, Letras e Artes, e o outro pela Universidade do Texas em Austin.

Schwartz atuou como professor e pesquisador em diversas universidades, como na Universidade da Califórnia em Irvine, na Universidade Johns Hopkins e na Universidade do Texas em Austin, além da livre-docência na USP. Especialista em vanguardas latino-americanas, também trabalhou no Memorial da América Latina e foi diretor do Museu Lasar Segall de 2008 a 2018.

Ao longo de sua carreira acadêmica, o futuro Professor Emérito escreveu mais de 150 produções bibliográficas entre artigos, livros, capítulos de livros e textos em jornais e revistas. Participou, ainda, de diversos eventos, congressos, exposições e feiras em suas áreas de atuação, que englobam principalmente as vanguardas, a relação da literatura com as artes plásticas, os estudos latino-americanos e o modernismo. Por suas inúmeras contribuições, recebeu prêmios como o ABEU, oferecido pela Associação Brasileira de Editoras Universitárias, e o Jabuti.

“Sem dúvida nenhuma, a trajetória de Jorge Schwartz [...] mostra o intelectual completo que, para além de sua atividade acadêmica e docente, conseguiu transpor as fronteiras institucionais e ampliar o escopo da Universidade de São Paulo em direção a esferas socioculturais mais abrangentes”, de acordo com Laura Janina Hosiasson, Professora Associada da Universidade de São Paulo. A docente escreveu um texto de apresentação do título de Professor Emérito de Jorge Schwartz. Confira o texto completo a seguir:

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Nascido em 1944 em Posadas, Argentina, Jorge Schwartz migrou com a família para São Paulo, em 1960. Iniciou seus estudos na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde se graduou em Estudos Latino-Americanos e inglês, em 1970. Obteve seus títulos de mestrado (1976) e doutorado (1979) no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Professor Antonio Candido. Em 1971, iniciou a carreira docente, ingressando no Departamento de Letras Modernas da USP, área de Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana. Ali realizou a livre-docência, em 1989, chegando ao cargo de professor titular em 1992. Aposentou-se em 2003.

Como docente e orientador, Jorge Schwartz formou dezenas de mestres e doutores que são hoje professores em universidades brasileiras e estrangeiras. Nesse sentido, cabe destacar que dentre os cinco docentes que integram hoje a disciplina de Literatura Hispano-Americana da área de Espanhol do Departamento de Letras Modernas desta Faculdade, quatro foram seus orientandos.

No âmbito do Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispanoamericana, cabe ressaltar que idealizou os Cuadernos de Recienvenido, série de publicações voltada para o registro de palestras e intervenções de professores convidados do Programa ao longo dos anos. Até 2004, dirigiu essa coleção que continua sendo editada pelos docentes do Programa, agora em formato digital.

Ainda no que diz respeito à sua atuação em âmbito institucional, entre 1991 e 1994, o professor Schwartz assumiu a Presidência do Sistema Interno de Bibliotecas (SIBiUSP). Durante sua gestão, entre outras iniciativas destacáveis, implementou-se o Dedalus (Banco de Dados Bibliográficos da USP) que centraliza as operações bibliográficas da universidade até hoje; habilitaram-se as monitorias de alunos de graduação nas bibliotecas do campus; e organizou-se, junto à Biblioteca Cultural de São Paulo, o disque-braile, que facilita o acesso de pessoas cegas aos catálogos. Entre 1990 e 1992, o professor presidiu a Comissão de Pesquisa da Faculdade.

Após décadas como pesquisador A1 do CNPq, é atualmente pesquisador sênior da instituição. Essa bolsa lhe permitiu a contratação de alunos de graduação e pós-graduação em alguns dos projetos que coordenou, dentre os quais é preciso destacar a coordenação da tradução da Obra Completa de Jorge Luis Borges, a edição de Borges no Brasil, e do ambicioso Borges Babilônico: uma enciclopédia. Esses projetos significaram anos de trabalho em conjunto com equipes de pesquisadores pelo mundo afora e são hoje bibliografia obrigatória para quem se debruça sobre a obra do escritor argentino.

O amplo espectro das áreas de pesquisa de Jorge Schwartz vai das vanguardas literárias latino-americanas às relações entre literatura e artes plásticas. Em ambos os domínios, ele publicou títulos de impacto nacional e internacional, organizou eventos, coletâneas, coleções, além de ocupar postos de destaque, como o de Diretor do Museu Lasar Segall em São Paulo, entre 2008 e 2018. Durante esses anos na direção da entidade, foi responsável por mais de trinta exposições e duas dezenas de publicações.

Essa sua atividade de curadoria levou-o a realizar exposições marcantes tanto em âmbito nacional como internacional. Saliento dentre elas, De la Antropofagia a Brasilia 1920/1950 (Valencia, IVAM, 2000); Da Antropofagia a Brasília 1920/1950, que recebeu o Prêmio APCA de Pesquisa (São Paulo, Museu de Arte Brasileira Faap, 2002); e Horacio Coppola. Fotografía, que obteve o 1° Premio Visual de Diseño Editorial pelo catálogo (Madri, Fundación Telefónica, 2008).

Da produção bibliográfica, sem mencionar tudo, destaco quatro títulos incontornáveis para o debate literário e cultural latino-americano, os quais constituem hoje bibliografia obrigatória em universidades nacionais e estrangeiras: Murilo Rubião: a poética do Uroboro (São Paulo: Ática, 1981), fruto de sua dissertação de mestrado, que se debruça de forma pioneira na produção do escritor mineiro em sua totalidade, destacando sua dimensão existencial e fantástica; Vanguarda e cosmopolitismo na década de 20: Oliverio Girondo e Oswald de Andrade. São Paulo: Perspectiva, 1983 - Prêmio APCA – (da Associação Paulista de Críticos de Arte - em espanhol pela Ed. Beatriz Viterbo, 1993) que decorre de sua tese de doutorado e se inscreve entre os primeiros trabalhos de literatura comparada a estabelecerem fortes relações entre a literatura brasileira e a literatura hispano-americana, tecendo vasos comunicantes da criação literária com aspectos da sociologia da cultura; Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos. (Em espanhol por Cátedra, 1991, 2ª ed. Fondo de Cultura, 2002; e em português por Iluminuras/Edusp, 1995, reedição ampliada, Edusp 2008 e reimpressão em 2022) que se transformou com o tempo em bibliografia básica dos estudos sobre as vanguardas latino-americanas. Nele foram recompilados, agrupados e descritos textos dispersos e de difícil acesso, como ensaios, prólogos, manifestos e poemas, em torno das muitas correntes do vanguardismo das primeiras décadas do século XX em América Latina; e, por último, Fervor das vanguardas: arte e literatura na América Latina. (São Paulo: Companhia das Letras, 2014 – Prêmio Jabuti, Teoria e Crítica Literária, 1º lugar) que reúne ensaios do crítico ao redor dos variados destinos dos movimentos vanguardistas latino-americanos, através do estudo de artistas decisivos do período de fundação da modernidade tanto no Brasil, como na Argentina e no Uruguai.

Já como organizador de coletâneas e publicações coletivas, a produção de Schwartz é considerável, frisando-se ainda aqui os interesses combinados do pesquisador das artes plásticas em diálogo com o crítico literário: Madalena Schwartz. Personae: fotos e faces do Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 1997); Borges no Brasil (São Paulo: Unesp/Fapesp/Imprensa Oficial, 2000); Caixa Modernista (Edusp/UFMG/Imprensa Oficial, 2003 e reimpressão em 2022 pela Edusp); Do Amazonas a Paris: Légendes, Croyances et Talismans de l´Amazone e Quelques visages de Paris, de Vicente do Rego Monteiro (São Paulo: Edusp, 2005); Nuevo Homenaje a Girondo (Buenos Aires: Beatriz Viterbo, 2007); Crisálidas: Madalena Schwartz (São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012); O cavaleiro azul -Der Blaue Reiter (São Paulo: Museu Lasar Segall/Edusp, 2013). Os últimos dois títulos merecem consideração à parte pela envergadura de seu objeto e alcance: Borges Babilônico (São Paulo: Companhia das Letras, 2017/2ª ed. no prelo e Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2023/2ª ed. 2024), um trabalho de caráter enciclopédico que contou com 75 colaboradores especialistas e alunos dirigidos pelo professor Schwartz. Foram elaborados mais de mil verbetes de entrada à obra do escritor argentino que pode agora ser lida com o apoio desse material. Oswald de Andrade: Obra Incompleta (São Paulo: Edusp/Archivos, 2022) em dois volumes se coloca como uma edição crítica com vocação de referência para os estudos oswaldianos, reunindo parte significativa da produção modernista do poeta, ensaísta e escritor paulistano. Fecha o volume uma minuciosa cronologia, do estabelecimento dos textos e um aparato crítico consagrado no Brasil e no exterior.

Caberia, finalmente, chamar a atenção para o reconhecimento internacional de Jorge Schwartz, com convites de diversos museus e universidades de prestígio na América Latina, Europa e Estados Unidos para ministrar cursos e conferências em torno das vanguardas e suas relações com as literaturas latino-americanas.

Sem dúvida nenhuma, a trajetória de Jorge Schwartz que em 2019 o tornou patrono da Flipoços, mostra o intelectual completo que, para além de sua atividade acadêmica e docente, conseguiu transpor as fronteiras institucionais e ampliar o escopo da Universidade de São Paulo em direção a esferas socioculturais mais abrangentes.

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O evento de outorga ocorre no dia 1º de março, às 14 horas, no Auditório Nicolau Sevcenko, no edifício de História e Geografia, na Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo.

O Serviço de Comunicação Social produziu um vídeo contando parte da trajetória de Jorge Schwartz por meio de depoimentos dele e de seus amigos e colegas de trabalho. Confira a minibiografia em vídeo abaixo: