O minimalismo é a ideia de que não é necessário muito para viver e que é preciso descartar o excesso e ser mais consciente nas suas escolhas — comprar menos sendo exigente. Esse estilo de vida tem ganhado força em diversos meios, como moda, culinária, arquitetura e redes sociais.
De acordo com resultados da dissertação de mestrado de Vanessa Nobre Nunes, intitulada Minimalismo: gosto, estilo de vida e distinção e orientada por Edison Ricardo Emiliano Bertoncelo, esse estilo de vida tem se tornado popular entre a elite jovem. A pesquisa buscou esclarecer qual a relação entre minimalismo e consumo conforme as definições de Pierre Bourdieu, sociólogo francês.
Gosto e estilo de vida
Para a pesquisadora, simplificar a vida consumindo menos é uma escolha lógica e racional e os próprios minimalistas entendem que ter menos é ter uma qualidade de vida melhor.
Ao analisar dados e perfis de leitores da revista Vida Simples, a pesquisa identificou que o público que mais se interessa por assuntos minimalistas estão entre as classes A e B, de faixa etária entre 18 e 24 anos e com formação superior.
Vanessa reconhece o minimalismo como posição social a partir de duas informações obtidas no quadro de leitores da revista. A primeira é que o minimalismo é um gosto que não reflete pobreza, já que é uma escolha. Isso mostra a distinção social entre uma pessoa que tem o privilégio de escolher ser minimalista e outra que tem menos por consequências financeiras.
A segunda é que existe um recorte de classe, etário e educacional entre as pessoas que se interessam por assuntos minimalistas, recorte que reflete uma classe social privilegiada no contexto brasileiro. “A partir dessas duas linhas de pensamento, podemos chegar à conclusão de que, principalmente no Brasil, o minimalismo representa um gosto distintivo. Um gosto que mostra a diferença entre classes sociais, sendo até um termo mais comum em certos espaços da sociedade”, explica.
Pierre Bourdieu diz que a hierarquia social se expressa no gestual, no jeito de falar e nos interesses pessoais, sendo assim, os gostos das pessoas revelam sua posição na sociedade. A pesquisadora utiliza esse conceito para entender o minimalismo como representação de um gosto que reflete as necessidades materiais de cada grupo social, estabelecendo-o como “gosto distintivo”.
Vale para todos?
Se é só ter menos, por que as pessoas pobres não são minimalistas? Apesar de incentivar a ideia do consumo não excessivo, o minimalismo não se aplica àqueles de menor poder aquisitivo. “Você escolhe esse minimalismo, ele não é uma imposição da necessidade. As escolhas vão ser baseadas no seu gosto. Então, quem escolhe o minimalismo, de alguma forma, está representando uma certa posição social”.
“Eu tinha a hipótese de que o minimalismo representava alguma coisa diferente, porque nós não vemos, é um termo que não é comum a todos. Mas nós vemos que quem se autodenomina minimalista é um grupo diferente do resto”, Vanessa conclui em sua dissertação que o minimalismo de fato representa um determinado espaço social e diferenças socioeconômicas entre as pessoas.