Pessoas de classes altas são as que mais escolhem estilo de vida minimalista

Pesquisa da FFLCH identificou que pessoas privilegiadas são as que mais optam por consumir menos
Por
Isadora Batista
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Foto: Unsplash
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O minimalismo é a ideia de que não é necessário muito para viver e que é preciso descartar o excesso e ser mais consciente nas suas escolhas — comprar menos sendo exigente. Esse estilo de vida tem ganhado força em diversos meios, como moda, culinária, arquitetura e redes sociais.

De acordo com resultados da dissertação de mestrado de Vanessa Nobre Nunes, intitulada Minimalismo: gosto, estilo de vida e distinção e orientada por Edison Ricardo Emiliano Bertoncelo, esse estilo de vida tem se tornado popular entre a elite jovem. A pesquisa buscou esclarecer qual a relação entre minimalismo e consumo conforme as definições de Pierre Bourdieu, sociólogo francês.

Gosto e estilo de vida

Para a pesquisadora, simplificar a vida consumindo menos é uma escolha lógica e racional e os próprios minimalistas entendem que ter menos é ter uma qualidade de vida melhor.

Ao analisar dados e perfis de leitores da revista Vida Simples, a pesquisa identificou que o público que mais se interessa por assuntos minimalistas estão entre as classes A e B, de faixa etária entre 18 e 24 anos e com formação superior.

Vanessa reconhece o minimalismo como posição social a partir de duas informações obtidas no quadro de leitores da revista. A primeira é que o minimalismo é um gosto que não reflete pobreza, já que é uma escolha. Isso mostra a distinção social entre uma pessoa que tem o privilégio de escolher ser minimalista e outra que tem menos por consequências financeiras.

A segunda é que existe um recorte de classe, etário e educacional entre as pessoas que se interessam por assuntos minimalistas, recorte que reflete uma classe social privilegiada no contexto brasileiro. “A partir dessas duas linhas de pensamento, podemos chegar à conclusão de que, principalmente no Brasil, o minimalismo representa um gosto distintivo. Um gosto que mostra a diferença entre classes sociais, sendo até um termo mais comum em certos espaços da sociedade”, explica.

Pierre Bourdieu diz que a hierarquia social se expressa no gestual, no jeito de falar e nos interesses pessoais, sendo assim, os gostos das pessoas revelam sua posição na sociedade. A pesquisadora utiliza esse conceito para entender o minimalismo como representação de um gosto que reflete as necessidades materiais de cada grupo social, estabelecendo-o como “gosto distintivo”.

Vale para todos?

Se é só ter menos, por que as pessoas pobres não são minimalistas? Apesar de incentivar a ideia do consumo não excessivo, o minimalismo não se aplica àqueles de menor poder aquisitivo. “Você escolhe esse minimalismo, ele não é uma imposição da necessidade. As escolhas vão ser baseadas no seu gosto. Então, quem escolhe o minimalismo, de alguma forma, está representando uma certa posição social”.

“Eu tinha a hipótese de que o minimalismo representava alguma coisa diferente, porque nós não vemos, é um termo que não é comum a todos. Mas nós vemos que quem se autodenomina minimalista é um grupo diferente do resto”, Vanessa conclui em sua dissertação que o minimalismo de fato representa um determinado espaço social e diferenças socioeconômicas entre as pessoas.