Debate na USP mobiliza estudantes e público externo em temas da diplomacia e nova ordem mundial

Experiência pedagógica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) vai seguir o modelo de debates internacionais para incentivar a análise crítica da sociedade atual e democratizar o estudo das Relações Internacionais
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Redação
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Um dos debates na edição de 2024 do SimuLAI – Foto: Divulgação LAI Bertha Lutz
Um dos debates na edição de 2024 do SimuLAI – Foto: Divulgação LAI Bertha Lutz

No próximo final de semana, dias 23 e 24 de agosto, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP vai reunir estudantes do ensino médio e superior, comunidade universitária e público externo para uma ampla troca de ideias, pesquisas, reflexões e sugestões sobre o tema Mudança na Ordem Mundial: a Instabilidade da Diplomacia e suas Contradições. “É uma experiência pedagógica que permite aos participantes aplicar conhecimentos teóricos em uma dinâmica de simulação MUN (Model United Nations), que são debates no modelo realizado nas organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU)”, explica Janina Onuki, professora do Departamento de Ciência Política da FFLCH e orientadora do Laboratório de Análise Internacional Bertha Lutz (LAI), grupo de extensão universitária criado pelos estudantes do curso de Relações Internacionais, responsável pela organização do evento. O evento acontece das 8 às 18 horas, no Edifício de Ciências Sociais, na Avenida Prof. Luciano Gualberto, 315, no bairro do Butantã em São Paulo. 

Janina Onuki, professora da FFLCH, e Maria Clara Hernandes dos Santos, estudante de Relações Internacionais e secretária-geral do SimuLAI – Foto: Arquivo pessoal
Janina Onuki, professora da FFLCH, e Maria Clara Hernandes dos Santos, estudante de Relações Internacionais e secretária-geral do SimuLAI – Foto: Arquivo pessoal

Chamado SimuLAI, o projeto busca aumentar o acesso ao conhecimento da área das Relações Internacionais. “Por meio do diálogo, do pensamento crítico, da negociação e da diplomacia, a conferência buscará ‘furar’ bolhas sociais e unir estudantes de diferentes graus de ensino e de diferentes instituições em prol da pesquisa e da criticidade”, observa Maria Clara Hernandes dos Santos, estudante de Relações Internacionais e secretária-geral do SimuLAI 2025. “Espera-se que o evento abarque essa meta de impactar positivamente realidades, incentivar a análise crítica da sociedade atual e de conjunturas passadas e democratizar o estudo das Relações Internacionais. Com comitês contemporâneos e históricos, os delegados poderão embarcar em espaços simulados, porém importantes para a formação de cidadãos críticos e bem engajados nas principais pautas da atualidade.”

Expectativas

“Essa é a maior edição do evento já realizada. Foram abertas 100 inscrições, para cinco comitês distintos, o que representa um aumento expressivo do porte do evento”, explica Maria Luisa Pimenta Amichi, estudante de Relações Internacionais e secretária de Organização do SimuLAI. “Nossa primeira edição foi em 2023, quando abrimos 40 vagas. No ano seguinte, foram disponibilizadas 50 vagas. Nas duas ocasiões, houve apenas um comitê, o que significa que todos os delegados inscritos debateram sobre uma única possibilidade de tema.”

Na versão atual, o leque de possibilidades foi ampliado. “Agora, os delegados podem escolher entre cinco comitês diferentes: Assembleia Geral da ONU, que irá discutir a guerra digital e como a tecnologia transformou as RIs; Tribunal Penal Internacional sobre o genocídio em Ruanda; Gabinete de Guerra do Peloponeso; United Nations Conference on International Organization (UNCIO), que simula a criação da ONU e o Comitê de Imprensa e Intervenção, responsáveis por criar crises e produzir materiais jornalísticos que simulem discussões internacionais reais”. 

Participantes na última edição do evento de debates – Foto: Divulgação/LAI USP
Participantes na última edição do evento de debates – Foto: Divulgação/LAI USP

Maria Luisa explica que também é a primeira vez que o SimuLAI abriu inscrições para alunos do ensino médio e com isenção para escolas públicas. “Por mais que o foco ainda seja o ensino superior, essa abertura é importante para aproximar os alunos que ainda não estão na universidade desse meio. Além do contato com o ensino médio, o SimuLAI também proporciona trocas entre universitários de diferentes meios sociais e acadêmicos. Nas últimas edições estiveram presentes alunos de diversos cursos e universidades, algumas fora da cidade de São Paulo.”

Com a ampliação do número de participantes neste ano, a expectativa de Maria Luisa é de mais trocas de experiências. “E, assim, oportunidades de formar contatos e amizades através do evento.” 

Simulação de conferências reais

Maria Luísa Pimenta Amichi e Lara Belezia, estudantes de Relações Internacionais e secretárias de organização e acadêmica do SimuLAI – Fotos: Arquivo pessoal
Maria Luísa Pimenta Amichi e Lara Belezia, estudantes de Relações Internacionais e secretárias de organização e acadêmica do SimuLAI – Fotos: Arquivo pessoal

Lara Belezia, estudante de Relações Internacionais e secretária acadêmica do SimuLAI, explica como será a participação dos estudantes como delegados representando cada país no debate. “Uma simulação é uma experiência imersiva em que os participantes, incluindo delegados e Mesas, simulam conferências reais. As Mesas Diretoras são as pessoas, geralmente cinco por comitê, que moderam o debate, aplicando regras, exigindo decoro e educação e orientando os delegados, que, por sua vez, representam a delegação de seu país, defendendo os interesses daquela nação. Esse é o funcionamento geral dos comitês, mas a especificidade do funcionamento do debate depende do tipo de comitê: um comitê da Assembleia Geral das Nações Unidas tem procedimentos diferentes do Gabinete de Guerra ou do Tribunal Penal Internacional”, explica. “Todas as regras e procedimentos são explicados nos guias produzidos pela organização do evento e pelas Mesas. Também produzimos Guias de Estudo, em que há uma explicação sobre o tema do debate e de cada delegação representada, e um guia geral com dicas práticas de hospedagem, alimentação, transporte, cronograma e diversos potenciais pontos de dúvidas que os participantes possam enfrentar nos dias do evento.”

Importante destacar também o Comitê de Imprensa e Intervenção, em que os participantes simulam ser jornalistas, produzindo matérias sobre o que está sendo discutido em tempo real. Isso torna a simulação dinâmica, pois é possível que os jornalistas criem crises e veiculem matérias que podem até mesmo alterar o curso do debate, assim como acontece na realidade. “Logo, ser delegado de um país em uma simulação é uma experiência imersiva em temas e desafios globais de extrema importância, desenvolvendo não apenas o conhecimento sobre os assuntos em questão em cada comitê, como também habilidades de oratória, persuasão e negociação, necessárias em todas as áreas da vida.” E pontua: “Nos comitês que nós propusemos, os delegados não representam apenas países, mas também figuras históricas relevantes nos cenários geopolíticos dos temas propostos para este ano, tornando o ambiente ainda mais diversificado e imersivo”.

Embate político e econômico

O Jornal da USP questiona aos organizadores se haverá alguma abordagem sobre as relações internacionais diante do embate político e econômico do Brasil e de outros países com os Estados Unidos. Maria Luisa Amichi, estudante e secretária  de Organização do SimuLAI, esclarece: “O tema desta edição é Mudança na Ordem Mundial: a Instabilidade da Diplomacia e suas Contradições, o que é muito relacionado aos embates políticos internacionais atuais, incluindo a tensão entre Estados Unidos e Brasil.”

Maria Luisa ressalta: “Nós presenciamos hoje uma descredibilização dos princípios que guiavam o comportamento dos Estados desde o fim da Guerra Fria. O embate entre Brasil e Estados Unidos é um grande exemplo disso, pois evidencia o enfraquecimento do regime comercial estabelecido pós-Guerra Fria com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Assim, ao escolhermos esse tema para a edição deste ano, pensamos justamente em trazer para o evento discussões sobre as dificuldades da diplomacia atualmente e sobre a imprevisibilidade de um cenário internacional marcado por uma mudança na ordem mundial”.

A secretária de Organização do SimuLAI afirma que o debate será realizado por meio de diferentes abordagens. “No comitê sobre a Assembleia Geral da ONU, a modificação da ordem global será discutida a partir do impacto das tecnologias nas relações internacionais – o qual também explica em parte algumas das tensões entre EUA e Brasil. Já no comitê sobre a Guerra do Peloponeso, a intenção é abordar o tema da mudança da ordem mundial a partir de uma perspectiva histórica, pensando nas relações e alterações destas no contexto do conflito entre Atenas e Esparta. Por outro lado, a simulação da criação da ONU traz a questão pela origem: a criação da Organização das Nações Unidas pode ser encarada como um dos símbolos da ‘nova ordem mundial’ estabelecida no século 20 e enfraquecida nos últimos tempos. Na mesma linha, seguem os outros debates.”

Ao abordar as instabilidades e contradições do ambiente internacional por diferentes pontos de vista, o SimuLAI, segundo os estudantes organizadores, “incentiva um olhar crítico diante dos embates políticos e econômicos que o mundo vivencia”.

Para acompanhar as atividades do LAI Bertha Lutz da USP acesse a página do laboratório e o Instagram.

 

*Texto original: https://jornal.usp.br/universidade/debate-na-usp-mobiliza-estudantes-e-publico-externo-em-temas-da-diplomacia-e-nova-ordem-mundial/