Dia da Independência da Bahia

Quase um ano depois da Independência do Brasil, em 2 de julho de 1823 se concretiza a Independência da Bahia

Por
Alice Elias
Data de Publicação

Independência da Bahia
O professor João Paulo Garrido Pimenta explica a relação entre a Independência da Bahia e a separação política de Brasil e Portugal, que "não foi um processo perfeitamente homogêneo ou uniforme". (Arte: Pedro Fuini)

A Independência da Bahia foi um movimento que se concretizou em 2 de julho de 1823, consolidando a Independência do Brasil quase um ano depois da proclamação às margens do rio Ipiranga.

De acordo com o professor João Paulo Garrido Pimenta, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a Independência da Bahia “foi particularmente longa e conflituosa, conhecendo até mesmo guerras entre partidários do Brasil e partidários de Portugal.” O professor nos explicou um pouco mais sobre o movimento, confiram: 

Serviço de Comunicação Social: O que foi a Independência da Bahia?

João Paulo Garrido Pimenta: A Independência do Brasil não foi um processo perfeitamente homogêneo ou uniforme. Ele ocorreu seguindo princípios históricos comuns, mas variou de acordo com as características específicas de cada região que até então compunha a América de colonização portuguesa. Na Bahia, a separação política entre Brasil e Portugal interagiu com conflitos locais pré-existentes e teve componentes próprios em função das estruturas sociais e econômicas daquela província. Ali, a Independência foi particularmente longa e conflituosa, conhecendo até mesmo guerras entre partidários do Brasil e partidários de Portugal.

Serviço de Comunicação Social: Por que ocorreu esse movimento se, cerca de um ano antes, a Independência do Brasil já havia sido declarada? Quais as diferenças entre esses dois processos?

João Paulo Garrido Pimenta: Embora naquela província vários conflitos já viessem ocorrendo desde 1821, envolvendo disputas por governos locais, foi só com os acontecimentos de 1822 que a Bahia se articulou ao restante do Brasil em termos de filiação à tendência geral de que esses conflitos se organizassem ao redor da grande questão que a Independência colocaria a todo o Brasil: as províncias do Brasil prestariam lealdade a D. Pedro I e passariam a integrar o Império do Brasil, ou continuariam a fazer parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves? E no caso da primeira alternativa, como se daria essa integração? Portanto, a despeito de suas particularidades, inclusive cronológicas, a Independência na Bahia não foi um processo separado do restante do Brasil.

Serviço de Comunicação Social: Qual o legado deixado por esse levante para a Bahia e para o Brasil?

João Paulo Garrido Pimenta: Atualmente, a Independência na Bahia é evocada de acordo com um calendário próprio, cuja data central é 02 de julho (de 1823), e não 07 de setembro (de 1822), pois foi naquele dia que se deu a adesão oficial de Salvador ao Império do Brasil. Também é festejada segundo tradições bastante originais, sendo um evento muito popular e com um grau de participação social que não se vê em outras partes do Brasil. Nele, estão presentes não apenas os símbolos e conteúdos oficiais e convencionais associados à Independência, mas também e principalmente elementos culturais e religiosos afro-brasileiros e indígenas.

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João Paulo Garrido Pimenta é doutor em História e professor do Departamento de História da FFLCH USP. Atua principalmente nos seguintes temas: América portuguesa, séculos XVIII e XIX; Independência do Brasil e da América espanhola; Império do Brasil; questão nacional e identidades políticas; história do tempo histórico. É autor de diversos livros, dentre eles Independência do Brasil (Editora Contexto, 2022), seu último lançamento.