Nascimento de Herbert Marcuse

Autor de obras como Eros e Civilização e O Homem Unidimensional, Marcuse é um dos principais representantes da "Escola de Frankfurt"

Por
Alice Elias
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Nascimento de Herbert Marcuse
Segundo Cibele Saraiva Kunz, "Marcuse entendia que a filosofia tinha a obrigação de se aliar à luta dos movimentos sociais, pois este é o grande papel da filosofia, ajudar a mudar o mundo." (Arte: Alice Elias)

 

Herbert Marcuse nasceu no dia 19 de julho de 1898, em Berlim, Alemanha. Foi um filósofo e sociólogo representante da Escola de Frankfurt, famoso por obras como Eros e Civilização e O Homem Unidimensional. Uma das características mais marcantes nos escritos de Marcuse é a tentativa de “vincular a filosofia à luta política”.

Conversamos com Cibele Saraiva Kunz, doutora em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sobre o legado do filósofo conhecido como um dos três Ms da Revolução de Maio de 68 na França. Confira:


Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Herbert Marcuse?
 

Cibele Kunz: Herbert Marcuse foi um filósofo alemão judeu representante da, como ficou conhecida, "Escola de Frankfurt", mas que realmente é uma corrente filosófica chamada Teoria crítica. Viveu durante o período da 2a Guerra Mundial e da Guerra Fria. Durante a 2a Guerra, se exilou nos EUA junto com os outros representantes da "Escola de Frankfurt", como Adorno e Horkheimer, mas diferente destes, não retornou para a Alemanha após a Guerra, permanecendo nos EUA até o fim da vida, em 1979. De influência hegeliana e marxista, suas duas obras mais famosas, entre tantas que escreveu, são: Eros e Civilização e O Homem Unidimensional.

Seus escritos são de uma envergadura filosófica descomunal, Marcuse é capaz de falar de absolutamente tudo e com profundidade, de ética à estética, de história da filosofia à filosofia contemporânea. Não há um tema que fosse atual (ou não) à época que Marcuse não tenha se debruçado sobre, por isso mesmo, é difícil comentar sobre um ou alguns somente, isso não faria jus ao seu tamanho, mas uma característica sempre foi comum em tudo que Marcuse escreveu: a tentativa de sempre vincular a filosofia à luta política. Por isso mesmo, ficou conhecido como um dos três Ms da revolução de Maio de 68 na França, são eles: Mao, Marx e Marcuse. Para Marcuse, os intelectuais deveriam estar na linha de frente das lutas e greves juntamente com os estudantes e os operários. Teve entre seus estudantes nomes hoje importantes da filosofia e dos movimentos políticos atuais, como Angela Davis. Aliás, quando Davis foi presa injustamente, acusada de terrorismo pelo governo dos EUA por ser integrante do "Partido Panteras Negras", Marcuse foi o único intelectual que se solidarizou com ela, escrevendo uma carta em sua defesa. Marcuse foi um intelectual que buscou unir teoria e prática, viveu a filosofia na práxis, e até o fim da vida acreditou na criação de uma sociedade mais justa, este foi Marcuse.

 

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Filosofia/Sociologia? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?
 

Cibele Kunz: Podemos dizer que a grande contribuição de Marcuse, não só para o ambiente restrito da filosofia, mas para a sociedade, foi aliar a filosofia à luta política. É característica da filosofia não se envolver, isto é, não costumamos ver filósofos tomando a frente de lutas políticas sociais, de movimentos sociais. Mas Marcuse entendia que a filosofia tinha a obrigação de se aliar à luta dos movimentos sociais, pois este é o grande papel da filosofia, ajudar a mudar o mundo. Todos os seus escritos são escritos que buscam os meios e as possibilidades de transformação social, de que forma é possível que se encontre um mundo mais justo, mais livre e belo para todas e todos. Marcuse, foi um pensador muito atento aos movimentos civis que estavam surgindo, especialmente os movimentos da década de 60 do século passado nos Estados Unidos: o movimento feminista, o movimento negro, para ficarmos em dois. Sob essa ótica, escreveu sobre quase tudo, mas especialmente escreveu sobre o "papel e o poder da arte na transformação social". Ele enxergava na arte e no contato com a obra de arte uma forma de emancipar os indivíduos das amarras que lhes são impostas pelo sistema capitalista que, para ele, era excludente e opressor. Para ele, a arte, mais que a própria filosofia, poderia mudar as mentes das mulheres e dos homens, pois a arte é da ordem do sensível, mais que do inteligível e, para Marcuse, mais do que tudo é preciso transformar a sensibilidade humana. Só uma transformação na sensibilidade é capaz de combater o fascismo. Nada mais atual em tempos do retorno do fascismo à mesa, não?

 

Cibele Saraiva Kunz é pós-doutoranda em Filosofia na FFLCH USP, e atua principalmente nos seguintes temas: Teoria crítica, Estética, Filosofia da Arte e Romantismo alemão. Para quem se interessar sobre o tema, sua tese de doutorado está disponível em “Arte e Utopia em Herbert Marcuse”.