Libertação da Coreia

O dia 15 de agosto marca a data em que a Coreia foi libertada do domínio japonês, em 1945, após a Segunda Guerra Mundial. A ocupação da península coreana pelo Império Japonês é um exemplo do neocolonialismo, dominação política e econômica sobre os continentes africano e asiático empreendida pelas potências capitalistas. Esse processo se intensifica a partir da segunda metade do século 19, como explica Yun Jung Im Park, professora do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

“No caso coreano, principalmente pela proximidade geográfica e também por uma certa proximidade cultural, a ocupação se deu de forma mais intensiva, com controle social e cultural muito rigoroso, num projeto de niponização da Coreia”, afirma. A professora cita que, dentre várias medidas que excluíam e segregavam o povo coreano, houve até mesmo a proibição do uso de sua língua em locais públicos e nas escolas.

Ao final da Segunda Guerra a libertação da Coreia ocorreu indiretamente, com a derrota do Japão e dos outros países do Eixo (aliança militar que incluía também Alemanha e Itália). “A reorganização coreana acabou absorvendo o momento histórico que o mundo vivia, da bipolarização em dois eixos”. A porção norte da península ficou sob influência russa (socialista) e a parte sul sob influência norte-americana (capitalista), divisão que provocaria, cinco anos depois, a Guerra da Coreia.

Atualmente, a Libertação da Coreia é feriado nacional celebrado na Coreia do Norte e na Coreia do Sul. Confira na íntegra a entrevista com a professora:

Serviço de Comunicação Social: Em que contexto ocorre a ocupação da Coreia pelo Império Japonês?

Yun Jung Im Park: A ocupação sobre a Coreia empreendido pelo Império Japonês ocorre no contexto do neocolonialismo, quando as potências capitalistas da Europa e os EUA buscam dominar, política e economicamente, os países do continente africano e asiático, um movimento que se acirrou na segunda metade do século 19. Boa parte dos países da Ásia foram colonizados nesse contexto, a exemplo Filipinas, Índia, Indonésia etc.

Serviço de Comunicação Social: Como foi o governo japonês na Coreia?

Yun Jung Im Park: É verdade que num certo momento durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão chegou a ter controle, ainda que brevemente, sobre várias outras regiões da Ásia, mas, no caso coreano, principalmente pela proximidade geográfica e também por uma certa proximidade cultural, a ocupação se deu de forma mais intensiva, com controle social e cultural muito rigoroso, num projeto de niponização da Coreia. No momento mais radical, o uso da língua coreana foi proibido em locais públicos e nas escolas, e houve também medidas para obrigar a adoção de nomes japoneses pelos coreanos. Ao mesmo tempo, porém, várias medidas excluíam e segregavam os coreanos, o que de certa forma resultou num reforço às atividades de resistência coreana.

Serviço de Comunicação Social: Após a retirada do Império Japonês, como a Coreia se reorganizou?

Yun Jung Im Park: A reorganização coreana acabou absorvendo o momento histórico que o mundo vivia, da bipolarização em dois eixos, principalmente devido à sua condição geopolítica, sendo uma península que projeta do continente chinês em direção ao Japão, e também tendo uma fronteira, ainda que pequena, com a Rússia. A dificuldade de uma reorganização própria se deu também pelo fato de que a Coreia foi libertada indiretamente, pela derrota japonesa na Guerra, dependendo de terceiros para tal. A divisão da península aconteceu nesse contexto, com a parte norte sob influência russa e a parte sul, [sob influência] norte-americana. Essa divisão acabaria por provocar a Guerra da Coreia em 1950.

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Yun Jung Im Park é professora e coordenadora do Curso de Língua e Literatura Coreana do Departamento de Letras Orientais (DLO) da FFLCH, onde ministra as disciplinas de Língua Coreana I e II, Cultura Coreana I e II, Literatura Moderna Coreana I e II. Possui mestrado em Literatura Coreana Moderna pela Yonsei University (1990) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (1995), na área de Tradução Literária.