Aula aberta Universidade pública e democracia foi realizada no vão do prédio de Geografia e História

O evento teve o intuito de debater e reafirmar o papel da instituição na formação de políticas públicas

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Eliete Viana, com colaboração de Nilda Pais e Pedro Fuini
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*Matéria atualizada em 22/08/2022, às 18h55

 

​​​​​Na tarde do dia 15 de agosto, segunda-feira, foi realizada a aula aberta Universidade pública e democracia, no vão do prédio de Geografia e História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.


Promovido pelo coletivo USP Pela Democracia – formado por docentes, estudantes e servidores da Universidade –, o evento contou com a participação das professoras Marilena Chauí, Ermínia Maricato e Adriana Alves, respectivamente, da FFLCH, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Instituto de Geociências (IGc). 

A aula contou também com a participação de Fernando Haddad, professor do Departamento de Ciência Política da FFLCH, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil de 2003 a 2010. Ambos estiveram na USP como pré-candidatos ainda, respectivamente, ao governo do Estado de São Paulo e à presidência da República, visto que o dia 15 foi o último dia para o registro dos candidatos e dia 16 foi o início da propaganda eleitoral nas eleições deste ano.

Aula aberta

Assim como o coletivo é formado pelas três categorias da USP – docentes, estudantes e servidores –, a apresentação da aula teve a participação destes representantes: Sônia Portella Kruppa, docente da Faculdade de Educação; Ingred Merlin Batista de Souza, doutoranda da Faculdade de Medicina; e Moisés da Rocha, que está à frente do programa O Samba Pede Passagem, da Rádio USP.

Marilena Chauí foi a primeira a falar na aula aberta. Ela iniciou comentando sobre o número de mortos e infectados pela Covid-19 no Brasil. Depois, disse que estamos vivendo na crueldade e no cinismo. A docente enfatizou que temos a difícil tarefa de recuperar a imagem, a independência do judiciário, que foi destruída com a Lava Jato, que precisamos refazer o Brasil. E que a miséria financeira e moral da sociedade será a força para estimular a luta, é imprescindível usar a voz, a indignação para despertar as pessoas que ainda estão anestesiadas. Ela salientou ainda que diante da dimensão do estrago econômico e a extinção de direitos sociais, a recuperação será lenta e, é necessário que a população compreenda que o ritmo será demorado. 

"Nós vivemos também da necessidade de recuperar a República, de recuperar todas as áreas do executivo, de resgatar todo o campo dos direitos humanos. É preciso que haja uma reinstitucionalização que recupere o cargo de presidente...[e que] a nossa voz tem de ser ouvida, tem de ser espalhada por todo o Brasil", destacou a professora emérita do Departamento de Filosofia da FFLCH. Ela concluiu mencionando o filósofo Étienne de La Boétie [1530 - 1563], o qual questiona o poder que damos aos tiranos e a nossa aceitação da servidão voluntária.

Em sua fala, a docente da FAU Ermínia Maricato, afirmou que "é o nosso dever conquistar um novo ciclo democrático no país. Eu estou convicta de que nós professores temos um papel central na defesa da democracia". Ermínia lembrou ainda que "estamos em um país mais desigual do mundo", destacou a importância do SUS, falou sobre a política de cotas e que a questão da inclusão é um caminho sem volta: "a universidade passou a incluir parte da população que a sustentava".

Para terminar, ela citou os números da USP – que estão detalhados no anuário estatístico da universidade ou resumidamente na página inicial da USP –, que demonstram a grandiosidade da instituição: quase 100 mil estudantes de graduação e de pós-graduação; mais de 5 mil docentes; e mais de 13 mil servidores. "Somos um exército do bem, um exército da paz que pode mudar a história".

A professora do IGc Adriana Alves, que também é responsável pela diretoria de Gênero, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP, fez uma descrição física sua e também da sua trajetória para destacar a importância das questões de diversidade e de inclusão social, por exemplo. 

"Por favor, não nos peçam mais pra silenciar, não nos peçam mais para termos mais paciência, para nós é tudo urgente", falou com firmeza a docente alegando também que há a necessidade mais do que nunca de nos posicionar, de participar do processo de reconstrução do nosso país, e citando a preocupação com os cortes na educação e especialmente no ensino superior. "Estamos aqui juntos e juntas representando os valores democráticos", frisou.

Fernando Haddad, falou que apesar da USP ter sido criada pela elite, em 1934, hoje está tendo mais inclusão social na universidade. Ele lembrou que em sua graduação na Faculdade de Direito da USP não teve um colega negro e ressaltou também a abertura de vagas em universidades federais criadas durante o governo de Lula.

O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "tá na nossa responsabilidade que cultura a gente quer, que educação a gente quer, que trabalho queremos. Tá na hora da gente mapear o Brasil que queremos daqui pra frente. Porque se a gente se omitir no processo eleitoral pode ser pior do que o Brasil que a gente tem hoje".

Lula falou sobre o passado, presente e futuro das universidades, que "a USP é o berço da inteligência no Brasil", mas lamentou que no país as universidades tenham sido criadas somente no século XX, enquanto que na América do Sul, por exemplo, essas instituições sejam mais antigas, destacando a importância das universidades para a sociedade. "Pare de falar em gasto na universidade porque universidade é investimento". Além disso, ele falou sobre o contexto atual de desemprego, aumento dos preços e da desigualdade social.

Democracia

Mais de 100 pessoas, entre docentes, estudantes e servidores da USP, integram o coletivo USP Pela Democracia. A aula aberta é resultado de um processo que se iniciou em maio deste ano. 

Como os organizadores fizeram questão de frisar durante o evento, a realização do mesmo se deve ao momento histórico em que se faz necessário reafirmar os valores da democracia e o compromisso histórico que a universidade tem com a educação pública e laica.

Durante o ato, membros da comunidade USP perseguidos e mortos pela ditadura foram relembraram, como Alexandre Vannuchi, Helenira Resende, Ana Rosa Kucinski; e docentes da FFLCH também foram citados por causa de suas atuações voltadas à democracia: Alfredo Bosi, Antonio Candido, Emília Viotti e Milton Santos.

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