Professor de Teoria Literária publica livro de ensaios

Na obra, Ariovaldo Vidal reúne textos sobre prosa de ficção; além da prosa brasileira pós-1930, há textos sobre Kafka e dois ensaios memorialísticos

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria


*Matéria revisada em 22/03/2021, às 17h37
 

Livro Atando as pontas da vida
O título do livro remete diretamente à famosa citação de Bento Santiago em Dom Casmurro, de Machado de Assis: “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência” e também une as diferentes épocas em que os 15 ensaios do livro foram escritos


O professor Ariovaldo José Vidal, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, lançou o livro Atando as Pontas da Vida (Ateliê Editorial), em fevereiro.   

A obra é formada por ensaios, que tratam da prosa de ficção, especialmente aquela feita em nossa literatura a partir da década de 1930, momento crucial de nossa modernidade literária. Numa segunda parte do livro, fazem uma jornada brevíssima pela prosa de Franz Kafka (1883-1924), terminando em dois textos memorialísticos. 

Segundo o docente, a ideia de publicar em livro esses ensaios tem a ver com o interesse dele "em procurar dar uma unidade para o trabalho e reunir o material que está disperso e já foi publicado em periódicos".

O título do livro remete diretamente à famosa citação de Bento Santiago em Dom Casmurro, de Machado de Assis: “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência” (capítulo 2). E une as diferentes épocas em que os 15 ensaios que compõem o livro foram escritos, com 32 anos de diferença entre o primeiro e o último texto.

O primeiro ensaio escrito, e que também inicia a obra, é "Atando as Pontas da Vida", de 1986, feito como trabalho de pós-graduação de Vidal. E o último é "Um Ensaio na Sala de Aula", escrito em 2018, por ocasião do centenário de nascimento do professor emérito da FFLCH e da USP Antonio Candido.

No título deste ensaio em homenagem ao professor emérito, Vidal faz referência ao livro Na sala de aula, publicado em 1985 por Candido. Mas, no texto, ele analisa outro ensaio do professor denominado "A personagem do romance", publicado no livro A personagem de ficção, no qual há análises de outros críticos também. 

De acordo com Vidal, ele trabalhou muito alguns textos de Candido em sala de aula e este, sobretudo, por uma razão importante: porque "quando ele analisa a personagem do romancemostra que a força da personagem depende de toda a estrutura da obra”, comenta o professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada.  

"Para a personagem passar a impressão de ter vida própria, toda a estrutura tem de estar voltada para este fim", explica o autor, baseado na análise de Candido, que no ensaio dá dois exemplos de como o todo da narrativa funciona para dar força à personagem usando os textos de José Lins do Rego, Fogo Morto, e de Clarice Lispector, no conto "Amor".

Figura paterna 

​​​​​​​O conjunto dos ensaios forma quase que naturalmente um movimento circular pela recorrência de alguns temas e motivos, sendo o principal deles a figura paterna, personagem que aparece no início dos textos, reaparece em vários outros, terminando por ser tematizado no ensaio-crônica que fecha o volume, mesmo escritos em épocas diferentes. ​​​​​​​​​​​​​​E, somente no processo de organização dos ensaios que viriam a compor o livro que o docente percebeu melhor isso. 

O último ensaio no sumário do livro é "Um Coração Simples", o qual foi escrito em 2016 por causa do falecimento do pai do professor. Mas, apesar de ser um dos dois textos memorialísticos da obra, o pai foi tratado como um personagem de uma história, no caso da vida de Vidal. O outro memorialístico é "Descoberta do Teatro", sobre uma experiência que o professor teve na época da graduação ainda, no final da década de 70 e início de 80, como participante de teatro amador no ABC paulista, escrito em 2011.

Parte dos 15 ensaios da obra já foram trabalhados em sala de aula por Vidal. Porém, o conteúdo deles pode despertar interesse tanto do leitor em geral quanto dos estudiosos da área de Letras. 

“Meu trabalho está muito ligado à sala de aula e, de fato, eu penso muito assim nos alunos como leitores do livro, apesar deles não apresentarem um perfil teórico, com exceção do ensaio sobre o [ensaio de autoria de] Antonio Candido. Em geral, são análises de obras e não discussões de teorias. [Pois,] Mais do que teorizar, são leituras práticas de obras", explica o docente.

​​​​​​​Vidal já está preparando outra obra, que será uma coletânea sobre poesia e a qual pretende publicar nos próximos anos.​​​​​​​
 

professor Ariovaldo José Vidal
Ariovaldo Vidal trabalha com a prosa brasileira moderna, a poesia brasileira do mesmo período, bem como com as relações entre literatura e cinema, procurando compreender a poética do autor em suas implicações com a tradição literária e a matéria social - Foto: Arquivo Pessoal 


​​​​​​​Carreira

Vidal tem graduação (bacharelado e licenciatura), mestrado em Literatura Brasileira e doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada todos pela FFLCH-USP. ​​​​​​​É docente da Faculdade desde 1989. Mas, na década de 80, atuou no magistério do Ensino Médio e na área de revisão e redação editorial, antes de ingressar na docência do Ensino Superior. 

Em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), escreveu sobre o romance policial enquanto gênero. Na dissertação de mestrado, falou dos contos de Rubem Fonseca, enquanto que na tese de doutorado abordou a obra de Marques Rebelo. Trabalha com a prosa brasileira moderna, a poesia brasileira do mesmo período, bem como com as relações entre literatura e cinema, procurando compreender a poética do autor em suas implicações com a tradição literária e a matéria social.

Este é o seu terceiro livro. Antes já tinha publicado os livros Roteiro para um narrador (Ateliê Editorial), em 2000, e Leniza & Elis. Duas cantoras, dois intérpretes (Ateliê Editorial) em 2002, em parceria com Joaquim Alves de Aguiar.