Nascimento de Luis Cernuda

Poeta meditativo e filosófico, Luis Cernuda é autor de 11 livros de poesia, reunidos em “La realidad y el deseo”

Por
Alice Elias
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Nascimento de Luis Cernuda
Segundo Ivan Martucci Forneron, "Luis Cernuda nos dá um tempo e um país para pensar. É um poeta incontornável". (Arte: Alice Elias)


O poeta espanhol Luis Cernuda nasceu em 21 de setembro de 1902 e pertenceu à chamada Geração de 27. Autor de 11 livros de poesia, foi também tradutor, crítico literário e professor. Contemporâneo de Pablo Picasso, Max Aub e Rafael Alberti, Luis Cernuda viveu 26 anos em exílio por conta da Guerra Civil Espanhola.

Sua obra trata de grandes temas como a finitude do indivíduo, questões existenciais,  experiências da guerra e do exílio, cuja leitura provoca questionamentos sobre a arte e a história da Espanha do século 20. “Do ponto de vista literário, ter incorporado outras tradições poéticas em sua obra ampliou um diálogo que exerce influência até os dias de hoje”, afirma Ivan Martucci Forneron, doutor em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Luis Cernuda?

Ivan Forneron: Luis Cernuda (1902-1963) é um poeta espanhol, pertencente à chamada Geração Republicana (ou Geração de 27). Foi contemporâneo de Federico García Lorca, Teresa León, Pablo Picasso, Rafael Alberti, Max Aub e tantos outros que padeceram as consequências trágicas da Guerra Civil Espanhola. No seu caso, e por conta desse evento, enfrentou um exílio desde 1937 até 1963, ano de sua morte. Desse modo, peregrinou pela Escócia, Inglaterra, França, Estados Unidos e México. Sua obra poética compreende 11 livros de poesia e foi por ele reunida sob o título La realidad y el deseo. Além de poeta, também foi tradutor, crítico literário e professor. 

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Cernuda?

Ivan Forneron: Como todo grande poeta, sua obra interroga a finitude do indivíduo e suas contradições existenciais. Dentre tantos aspectos, há três elementos muito fortes que ganham destaque na sua poética. São, na verdade, os três grandes temas do poeta sevilhano: o homoerotismo, a passagem do tempo e a história. Pelo homoerotismo é invocada a figura/símbolo do corpo jovem masculino que orienta toda discussão sobre beleza e desejo. Pela passagem do tempo é apresentada a criação da consciência que nos leva à ação e à construção da memória. Já pelo tema da história são invocadas a Espanha e a guerra, bem como suas consequências, com as quais o poeta faz, à maneira de Dante, a leitura e o julgamento de um mundo perdido. A perda, traço fundamental para quem vive no exílio, acaba sendo a alegoria do ato de criar em muitos de seus poemas.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Ivan Forneron: As viagens, a leitura, os estudos, as traduções, a interdição de um amor/desejo proibitivos e as terríveis experiências da guerra e do exílio percorrem toda a obra de Luis Cernuda. Do ponto de vista literário, ter incorporado outras tradições poéticas em sua obra ampliou um diálogo que exerce influência até os dias de hoje. O caráter meditativo e filosófico de seus poemas, principalmente após 1937, dá à literatura espanhola uma nova voz, um caminho inaudito, ainda que com estranhamento. É um poeta cuja leitura nos dá as mais fecundas interrogações sobre a arte e a história espanholas do século XX. Luis Cernuda nos dá um tempo e um país para pensar. É um poeta incontornável.


Ivan Martucci Forneron é mestre e doutor em Letras (Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana) pela FFLCH, instituição onde lecionou e na qual desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado (2018-2020) sobre ensaios literários e categorias discursivas da contracrítica histórica. Para quem se interessar sobre o tema, sua dissertação de mestrado e sua tese de doutorado estão disponíveis em Etopeyas de Luis Cernuda: presença e condução do mito em Desolación de la Quimera e Três poetas e três tempos do exílio espanhol de 1939: Luis Cernuda, Emilio Prados e Max Aub.