Nascimento de Jakobson

Um dos maiores linguistas do século 20, Jakobson desenvolveu pesquisas interdisciplinares entre a Linguística e a Poética

Por
Alice Elias
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Nascimento de Jakobson
Segundo Mario Domingues, "ao decompor analiticamente a estrutura de um poema, Jakobson via no poeta 'um artesão cujos procedimentos se quer dominar'." (Arte: Alice Elias)

Roman Jakobson, um dos maiores linguistas do século 20, nasceu em 11 de outubro de 1896 em Moscou. Junto de outros cientistas como Lévi-Strauss, Niels Bohr e Morris Hale, Jakobson desenvolveu pesquisas interdisciplinares entre a Linguística e a Poética e áreas como física acústica, fisiologia e psicologia.

No campo da Poética, Jakobson passou a pesquisar as relações entre som e significado na linguagem, e no campo da Linguística, contribuiu principalmente para a Fonologia (estudo dos fonemas). Além disso, suas pesquisas sobre as figuras de linguagem (metáfora e metonímia) contribuíram para a Fonoaudiologia, em relação ao problema de afasia infantil na aquisição da fala. Conversamos com Mario Domingues, mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sobre o legado do linguista. Confira:

Serviço de Comunicação Social:  Quem foi Roman Jakobson?

Mario Domingues: Roman Jakobson, nascido em 11 de outubro de 1896, em Moscou, foi sem dúvida um dos maiores lingüistas do século 20. Sua trajetória foi marcada por um sentido profundo da importância da interdisciplinaridade em vários níveis, desde a colaboração entre ciências distintas quanto a absorção mútua de descobertas de cada área. Outra marca é que sua atividade docente no exterior da Rússia o surpreendeu, pois estava na Tchecoslováquia durante a invasão nazista àquele país - Jakobson tinha origem judaica. Teve ainda que mudar-se para a Noruega, Dinamarca e Estados Unidos.

Ainda que em situações adversas, tal experiência permitiu-lhe participar da formação de “círculos” de estudos linguísticos em Praga e Nova Iorque, tal como tinha antes fundado o Círculo de Moscou. Juntamente com outros cientistas (tais como o antropólogo Lévi-Strauss, o físico Niels Bohr e o linguista Morris Hale), desenvolveu pesquisas interdisciplinares entre a Linguística e a Poética e as mais diversas áreas de conhecimento, tais como a física acústica, a fisiologia e a psicologia.

Mas talvez sua maior contribuição seja no campo da Poética, interesse precoce desde os tempos de leitor assíduo da poesia futurista de Khlébnikov e  Maiakovski. Ao decompor analiticamente a estrutura de um poema, Jakobson via no poeta “um artesão cujos procedimentos se quer dominar”. Dentre tais procedimentos, o instigava o aspecto simbólico do som na poesia, preocupação que resultará em um ponto de partida para suas pesquisas quanto às relações entre som e significado na linguagem. Seu espectro de autores analisados é vasto, de Shakespeare a Edgar Allan Poe, Holderlin até os poetas portugueses Martim Codax e Fernando Pessoa.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Linguística? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Mario Domingues: No âmbito estrito da Linguística, contribuiu principalmente para a Fonologia (o estudo dos fonemas, os “sons” da língua) e para a Poética, com reflexos em outros ramos de conhecimento. No estudo do fonema, Jakobson propunha uma espécie de física sub-atômica da linguagem. O linguista russo foi um dos que repeliu o conceito de fonema como elemento linguístico indivisível, concebendo-o como um conjunto de traços distintivos, levando em conta todo o espectro de pontos (dentes, lábios) e modos (oral, nasal) de articulação da fala. Tais traços correspondem metaforicamente às partículas subatômicas. Vale citar também suas pesquisas sobre as figuras de linguagem, a metáfora e a metonímia, que contribuíram para o campo da Fonoaudiologia quanto ao problema de afasia infantil na aquisição da fala.

Creio que suas contribuições em Poética, ainda que com as inevitáveis ressalvas, continuam sendo um instrumento de análise legítimo hoje e que sua teoria sobre a afasia infantil ainda é referência na Fonoaudiologia. Porém, uma contribuição mais sensível de Jakobson, no âmbito da educação brasileira, é sua tipologia sobre as funções da linguagem, já definitivamente assimilada como conteúdo de Língua Portuguesa no PNE – Plano Nacional de Educação. Tal classificação auxilia no processo de letramento, quando não se sabe apenas ler e escrever, mas se sabe as características principais de diversos gêneros textuais. Isto promove a formação de leitores e a formação de massa crítica.

Mario Domingues é mestre em Letras Clássicas pela FFLCH, e doutorando em Letras pela UFRJ. Professor, tradutor e poeta, é autor de Paisagem Transitória (Ed. Ciência do Acidente, SP - 2001) e Musga (Ed. Mirabilia, PR - 2010). Foi co-tradutor no livro O Tigre de Veludo – Alguns poemas de E. E. Cummings (Ed. da UNB, 2007), indicado ao Prêmio Jabuti de Literatura, como Melhor Tradução de Poesia. Recebeu Menção Honrosa no Concurso Cruz e Sousa de Literatura - Categoria Poesia Nacional (Fundação Catarinense de Cultura, 1998) e no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody (Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, 2005). Foi 2º colocado no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, Categoria Poesia Nacional (SEEC-PR, 2006). Foi o 1º colocado no Concurso Nacional de Clipoemas (Fundação Cultural de Curitiba, 2001).
Para quem se interessar sobre o tema, sua     dissertação de mestrado está disponível em O trovão, o relâmpago: tradução do Canto VI do poema de Lucrécio e análise de função poética de fragmentos.