Assassinato de Carlos Marighella

Preso no Estado Novo e assassinado na Ditadura Militar, Marighella é um símbolo de resistência política

Por
Alice Elias
Data de Publicação

Assassinato de Carlos Marighella
Segundo o professor Lincoln Secco, "a Ditadura destruiu grande parte da nossa produção cultural, cassou, prendeu, torturou e assassinou parte dos melhores jovens daquela geração dos anos 60". (Arte: Alice Elias)

Em 4 de novembro de 1969, o político, revolucionário e poeta Carlos Marighella foi assassinado por agentes da repressão política. Preso e torturado mais de uma vez no Estado Novo, em 1946 elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano, mas teve seu mandato cassado pouco tempo depois.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.
Trecho de “Liberdade” (1939) , de Carlos Marighella

Dirigente do partido comunista e líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Marighella foi um dos líderes da resistência armada contra a Ditadura Militar, na qual a ação revolucionária era a forma mais importante de oposição.

O assassinato de Marghella é um exemplo do controle exercido pelos militares sob os meios de informação: executado por múltiplos tiros à queima-roupa em uma emboscada policial, jornais como o “Diário da Justiça” circularam a notícia de sua prisão preventiva “atualmente em lugar incerto e não sabido”, de acordo com a biografia Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães.

Conversamos com Lincoln Secco, professor de História Contemporânea na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, para entender mais sobre o guerrilheiro. Confira:

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Carlos Marighella, e qual o contexto de seu assassinato?

Lincoln Secco: Marighella foi um estudante baiano, dirigente do partido comunista, afrodescendente e líder da Aliança Libertadora Nacional. Devido à sua opção pela resistência armada à Ditadura Militar, ele foi assassinado em 1969 por agentes da repressão política.

Serviço de Comunicação Social: Como foi a repercussão e a resposta popular perante o assassinato de Marighella?

Lincoln Secco: Naquele momento, o controle dos meios de informação pela Ditadura era quase total. Não havia possibilidade de difundir o que hoje sabemos ser a verdade histórica: a de que Marighella se insurgiu contra um regime político ilegítimo. Ainda assim, ele deixou um legado político.

Serviço de Comunicação Social: Entre tantos casos de tortura e prisões políticas, por qual motivo o caso de Marighella causou tanta repercussão?

Lincoln Secco: Marighella tinha sido um dirigente comunista, deputado constituinte e até inspirou um personagem do livro Subterrâneos da Liberdade de Jorge Amado. Foi preso no Estado Novo e assassinado na Ditadura Militar. Tinha um grande apelo para a juventude militante de esquerda porque manteve o marxismo-leninismo como conteúdo de seu pensamento, mas rompeu com a forma do partido Leninista e criou uma organização com uma forma revolucionária em que a ação revolucionária era o mais importante.

Serviço de Comunicação Social: Em sua análise, as pautas levantadas pelos movimentos sociais na época se mantém atuais? Se sim, de que forma?

Lincoln Secco: O conteúdo sim. A Ditadura destruiu grande parte da nossa produção cultural, cassou, prendeu, torturou e assassinou parte dos melhores jovens daquela geração dos anos 60. A Ditadura interrompeu a construção de um Brasil desenvolvido, democrático e socialmente menos desigual. Não fez a reforma agrária, concentrou a renda e reforçou o racismo. Todas as demandas daquela época persistem. Mas, obviamente, a luta armada não faz parte mais do horizonte político da esquerda brasileira.

Lincoln Ferreira Secco é mestre e doutor em História Econômica pela FFLCH,  e professor livre docente de História Contemporânea na mesma instituição. É também coordenador do Grupo Fernand Braudel.