Professor Kabengele Munanga é homenageado em publicação

O livro reúne textos que abordam aspectos de sua vida e sua obra, e à sua atuação como intelectual e militante. E é composta por artigos escritos por parceiros próximos ao docente, como colegas de área, ex-orientadores ou familiares 

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria

livro Negritudes: diálogos com o pensamento de Kabengele Munanga
O Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, reforça a importância do debate contínuo sobre as questões relacionadas à vivência da população negra no país e sobre os impactos do racismo estrutural, que segue, ainda hoje, impregnado em nossa sociedade


Em homenagem à trajetória acadêmica, intelectual, social e política de Kabengele Munanga, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, foi lançado o livro Negritudes: diálogos com o pensamento de Kabengele Munanga (Autêntica Editora), organizado pelos professores Fabiana Lima, Fernanda Felisberto, Jadir Anunciação de Brito e Sergio Luiz Baptista da Silva, respectivamente, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), de Roraima (UFRR) e do Rio de Janeiro (UFRJ) – sendo os dois últimos da UFRJ.   

O lançamento foi realizado de forma virtual, no dia 11 de novembro, pelo canal do Grupo Autêntica no YouTube. O encontro contou com a presença de Nilma Lino Gomes, coordenadora da coleção Cultura negra e identidades, professora, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Brasil (2015-2016) e atualmente membro da equipe de transição do Governo Lula; Bukassa Kabengele, ator, produtor cultural e filho de Munanga; e o próprio professor.

Na sinopse do livro, é destacado que nas últimas décadas, o debate sobre a questão racial no Brasil transitou do elogio à miscigenação e da ideia do país como exemplo de harmonia racial a uma intensa disputa, em que reconhecemos o racismo como elemento constitutivo da nação brasileira. De povo “pacífico e homogêneo”, nos percebemos hoje como uma sociedade plural, em que diferentes grupos lutam para serem reconhecidos como agentes da própria história e merecedores de direitos e igualdade.

Sendo assim, a trajetória de Kabengele Munanga confunde-se com esse processo. Pois é referência sobre a questão racial e a importância das políticas de ações afirmativas, tendo sido um dos protagonistas intelectuais negros no debate nacional na defesa e implementação das cotas e destas políticas. 

"Este livro é uma homenagem ao professor, com textos emocionantes que abordam aspectos de sua vida e sua obra, e à sua atuação como intelectual e militante generoso, que agregou colegas, alunos e outros ativistas em aulas e conferências, inspirando-nos para a luta antirracista", ressaltam os organizadores da obra. 

Outras homenagens
 

Antropólogo Kabengele Munanga recebe o título de Doutor Honoris Causa na — Foto: Divulgação/UFRB
Kabengele Munanga durante cerimônia em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFRB - Foto: Divulgação/UFRB


Recentemente, no dia 8 de novembro, o professor recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na qual ele atuou como professor visitante sênior, em uma sessão solene do Conselho Universitário (CONSUNI), no Auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), do Campus da cidade de Cachoeira. Confira a cerimônia aqui.

O reconhecimento é dado a personalidades não pertencentes ao quadro de servidores efetivos da UFRB, que se tenham se destacado pelo saber e atuação em prol das ciências, artes, e cultura com contribuição relevante para o país ou humanidade. Kabengele Munanga é a sexta pessoa a receber a honraria concedida pela URFB.

A homenagem partiu do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologia Aplicada (CECULT), que destacou como mérito a trajetória pessoal e profissional pela sua contribuição aos estudos e divulgação da cultura pan-africana na Bahia, no Brasil e, também, em países africanos e no mundo.

No dia 27 de abril deste ano, o professor ministrou uma aula magna na Faculdade com o tema O papel da Universidade na luta contra o racismo e em defesa das políticas afirmativas – clique aqui para assistir a transmissão da aula magna 2022 da FFLCH.

Em dezembro de 2021, na 399ª sessão da Congregação da FFLCH, foi aprovada a concessão do título de professor emérito a Munanga. A data da cerimônia de outorga do título ainda não foi marcada, mas a previsão, até o momento, é que seja realizada no mês de maio de 2023.

Trajetória 

Kabengele Munanga nasceu na República Democrática do Congo (antigo Zaire), mas é brasileiro por naturalização desde 1985. Ele graduou-se em Antropologia Social e Cultural na Universidade Oficial do Congo (1969), na qual iniciou sua carreira acadêmica como professor assistente. Em 1969, iniciou seus estudos de pós-graduação na Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e foi pesquisador no Museu Real da África Central, em Tervuren (Bruxelas, também na Bélgica), onde se especializou em estudo das artes africanas tradicionais. Porém, por motivos relacionados à ditadura militar instalada em seu país, o doutorado só foi concluído em 1977, na USP.

Em 1980, ingressou na carreira docente na FFLCH e aposentou-se em 2012, como professor titular do Departamento de Antropologia. No entanto, ele continua atuante como professor sênior na Faculdade, em atividades do Centro de Estudos Africanos (CEA), do qual já foi diretor, e integra o Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Foi também professor visitante sênior da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Suas pesquisas são nas áreas de Antropologia da África e da População Afro-Brasileira, com ênfase em temas como o racismo, políticas e discursos antirracistas, negritude, identidade negra versus identidade nacional, multiculturalismo e educação das relações étnico-raciais.

Prêmios 

Ao longo de sua trajetória, o docente recebeu diversos prêmios e títulos:
-Em 2002, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura;
-No ano de 2008, recebeu homenagem como Decano em Estudos Antropológicos, pelo Departamento de Antropologia da FFLCH;
-Ganhou o Troféu Raça Negra 2011, pela Afrobras e pela Faculdade Zumbi dos Palmares;
-Em 2012, foi agraciado com o Prêmio Benedito Galvão, da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo (OAB-SP) e, no mesmo ano, foi homenageado pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp);
-Em 2013, recebeu o Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco, outorgada pelo Ministério das Relações Exteriores;
-Em setembro de 2016, foi homenageado com o título de cidadania baiana, pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia;
-No ano de 2018, recebeu o Prêmio USP de Direitos Humanos de 2017;
-Simpósio em Homenagem, pela Faculdade de Direito da USP, 2018;
-Medalha Roquette-Pinto de Contribuição a Antropologia Brasileira, pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em 2020;
-Título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2021;
-Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica Gilberto Velho, pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em 2021;
-Título de Pesquisador Emérito Ano 2022 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 


Com informações da Autêntica Editora