Nascimento de Francis Bacon

Autor de obras como "Ensaios", "Grande restauração" e "Novum organum", o legado deixado pelo filósofo permanece atual

Por
Alice Elias
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Nascimento de Francis Bacon
Segundo o professor Homero Silveira Santiago, "A ciência de Bacon, muitas vezes, aproxima-se daquilo que mais tarde se denominará tecnologia; uma ciência progressiva e cuja verdade deverá provar-se por meio da invenção de novas obras". (Arte: Renan Braz)

 

Em 22 de janeiro de 1561, nasceu o filósofo inglês Francis Bacon. Foi também advogado, historiador, político engajado e autor de obras como Ensaios, Instauratio magna (Grande restauração) e Novum organum. Grande parte de seus textos sugerem a elaboração de um projeto de reforma e reorganização do mundo do saber, tendo como base a ciência e a filosofia.

Francis Bacon deixou um legado, ainda presente, por levar adiante a ideia de que a ciência é progresso e um dos agentes de transformação social. “Todos os esforços do homem e da sociedade devem ser dirigidos ao progresso do saber; toda a ciência deve ser dirigida para a melhoria da vida humana sobre a terra”, explica Homero Silveira Santiago, professor de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Francis Bacon?

Homero Silveira Santiago: O inglês Francis Bacon (1561-1626) foi uma figura polivalente. Para começar, seu autor era um pensador de tipo especial, já por sua trajetória. Ao contrário da maioria dos filósofos medievais e modernos, mais que um filósofo, Bacon era também advogado, historiador e, sobretudo, um político envolvido desde muito cedo com os negócios públicos e que ainda chegaria aos mais altos cargos do governo de seu país.

No que se refere mais propriamente ao pensamento filosófico, ele sempre foi um “reformador”, no sentido mais forte da palavra. Praticamente todas as suas principais obras voltam-se para a elaboração de um projeto de reforma do mundo do saber que terá por decorrência um novo patamar para a vida humana. Ele não se limita a uma teoria acerca do que seja o conhecimento, mas propõe um verdadeiro programa de reorganização do saber da época, de forma que a ciência e a filosofia tornem-se agentes de transformação social. Todos os esforços do homem e da sociedade devem ser dirigidos ao progresso do saber; toda a ciência deve ser dirigida para a melhoria da vida humana sobre a terra. A esse projeto, ele dá o nome de “grande instauração”, e tem por objetivo final, declarado, restaurar a situação humana que teria sido perdida com Adão, ou seja, instaurar o paraíso graças ao trabalho da ciência humana.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Bacon?

Homero Silveira Santiago: Um grande filósofo, Bacon também é um grande escritor que inova em mais de um ponto. Para começar, ele escreve vários textos em inglês numa época em que o latim impera do orbe intelectual; depois, vários gêneros e estilos a fim de propor suas ideias sob uma nova roupagem, bastante diversa do estilo tradicional da filosofia escolástica, com a qual ele rompe. Ele escreve em primeira pessoa, em terceira, testa o estilo aforismático, a fábula, etc.

Muitos dos meios de expressão da filosofia posterior dependerão dessa experimentação estilística baconiana.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Filosofia? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Homero Silveira Santiago: Dá para dizer que poucos filósofos deixaram um legado tão presente entre nós quanto Bacon. Para o bem e para o mal. A ideia mesma de que a ciência é poder e de que podemos agir sobre a natureza, embora não seja de matriz baconiana, por ninguém foi levada tão adiante quanto por ele e pensada não só como um corpo teórico mas com um campo estruturado pelo trabalho coletivo do saber. A ciência de Bacon, muitas vezes, aproxima-se daquilo que mais tarde se denominará tecnologia; uma ciência progressiva e cuja verdade deverá provar-se por meio da invenção de novas obras; se não for abusado, eu diria que está aí, como nunca teorizado até o século 16, algo próximo do que hoje entendemos por ciência aplicada.

Homero Silveira Santiago é mestre e doutor em Filosofia pela FFLCH, e graduado em Letras pela mesma instituição. É professor de Filosofia na FFLCH, além de membro de corpo editorial da Revista Conatus, revisor de periódico da Cadernos de Ética e Filosofia Política (USP), revisor de periódico da Cadernos Espinosanos (USP), membro de corpo editorial da Revista Exagium, colaborador da Autêntica Editora, colaborador da Autêntica Editora, membro de corpo editorial da Giornale critico di storia delle idee e membro de corpo editorial da Humanitas. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: Servidão, Liberdade, Possível, Determinação.