Em 27 de março de 1936 nascia Mario Vargas Llosa, escritor peruano ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 2010. Poeta de senso crítico, destacou os problemas de seu país e do mundo.
Em conversa, Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, docente aposentada do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH-USP, destaca as principais obras do autor, sua importância para a literatura e a grande conexão com Euclides da Cunha.
Veja abaixo a análise completa da professora:
"Em meio à extensa e variada obra de Mario Vargas Llosa, o grande intelectual e homem de cultura, também voltado para a política, não se pode deixar de lembrar A guerra do fim do mundo (1881) e O sonho do celta (2010) pelo fato de elas manterem conexão direta com criações de outro famoso escritor, o brasileiro Euclides da Cunha.
Quem quer que conheça a produção do peruano Mario Vargas Llosa pode dizer que o ilustre filho de Arequipa, ganhador do Nobel de 2010, esteve sempre lado a lado com Euclides da Cunha. Entre outros momentos, destaque-se, de início, A guerra do fim do mundo, livro apontado pela crítica como uma leitura elogiosa de Os sertões, uma homenagem a Euclides da Cunha, embora alguns, como Walnice Nogueira Galvão, não pensem exatamente assim.
Controvérsias à parte, o certo é que a denúncia, o nacionalismo, a ideia de justiça, a visão aguda da realidade perpassam as duas obras, que têm como cenário o nordeste brasileiro.
Vargas Llosa, porém, ao que tudo indica, não quis parar por aí na aproximação com o escritor brasileiro. Parece que leu e assimilou muito bem a produção euclidiana referente à Amazônia, a qual, segundo projeto referido por Euclides em carta ao amigo Coelho Neto, datada de 10 de março de 1905, seria reunida num livro a intitular-se Um paraíso perdido (“Acha bom o título Um paraíso perdido para o meu livro sobre a Amazônia?”). O empreendimento não se realizou, com certeza, por causa da morte prematura do escritor.
E por que falo de nova aproximação? Porque, em 3 de novembro de 2010, em Madri, logo após haver sido laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, Llosa lança a ficção histórica O sonho do celta, uma biografia romanceada – perto de um ensaio – do líder nacionalista irlandês Roger David Casement. E nela apresenta, ao lado do Congo e da Irlanda, a Amazônia peruana do início do século XX, com todos os problemas da Amazônia brasileira daquela época, justamente a Amazônia que Euclides visitou e sobre a qual se pronunciou.
Autor de inúmeras obras de ficção, ensaios, peças teatrais e memórias, Vargas Llosa é também jornalista (há tempo, colunista de O Estado de S. Paulo).
A intensa atividade literária, com títulos ricos e significativos, a discutir, com refinado senso crítico, problemas de seu país, da América Latina e do mundo, faz que Llosa tenha influenciado e continue influenciando muitos escritores, tanto peruanos quanto estrangeiros. A aura do Nobel, recebido aos 74 anos, contribuiu significativamente para que ficasse mais conhecido e inspirasse novos talentos. Alan Garcia, presidente do Peru à época, comentando a concessão do prêmio, declarou: "É um grande dia para o Peru e um reconhecimento a um peruano universal".
Principais obras:
Ficção
Os chefes (1959), A cidade e os cachorros (1963), A casa verde (1966), Conversa na catedral (1969), Pantaleão e as visitadoras (1973), Tia Júlia e o escrevinhador (1977), A Guerra do fim do Mundo (1981), Historia de Mayta (1984), Quem matou Palomino Molero? (1986), O falador (1987), Elogio da madrasta (1988), Lituma nos Andes (1993), Os cadernos de Dom Rigoberto (1997), A Festa do bode (2000), O paraíso na outra esquina (2003), Travessuras da menina má (2006), O sonho do celta (2010), O herói discreto (2013), Cinco esquinas (2016).
Teatro
Obra reunida (2005), A menina de Tacna (1981), Kathie e o hipopótamo (1983), La Chunga (1986), El loco de los balcones (1993), Olhos bonitos, quadros feios(1996), Odiseo y Penélope (2006 ), Al pie del Támesis (2008).
Ensaio
García Márquez: historia de un deicidio (1971), Historia secreta de una novela (1971), La orgía perpetua: Flaubert y Madame Bovary (1975), Contra viento y marea. Volúmen I [1962-1982] (1983), Contra viento y marea. Volumen II [1972-1983] (1986), Contra viento y marea. Volumen III [1964-1988] (1990), A verdade das mentiras: ensaios sobre o romance moderno (1990), Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991), Desafíos a la libertad (1994), La utopía arcaica. José María Arguedas Y las Ficciones del indigenismo (1996), Cartas a um jovem escritor (1997), El lenguaje de la pasión (2001), La tentación de lo imposible (2004), Israel/Palestina. Paz o guerra santa (2006), La civilización del espectáculo (2012).
Memórias
El pez en el agua (1993)."