FFLCH outorga título de Professor Emérito a Leon Kossovitch

Interdisciplinaridade, autonomia do pensamento e resistência política marcaram as mais de cinco décadas de atividade acadêmica do professor

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Paulo Andrade e Alice Elias
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Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto) Cerimônia de outorga de título de Professor Emérito a Leon Kossovitch (Foto: Astral Souto)

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP outorgou o título de Professor Emérito a Leon Kossovitch, na última quarta-feira, 15 de março. A cerimônia foi realizada no Salão Nobre da FFLCH, repleto de amigos, estudantes, orientandos, professores e funcionários emocionados com a celebração das mais de cinco décadas de dedicação do professor à profissão e à Faculdade.

Kossovitch foi conduzido pelos padrinhos Professores Eméritos Marilena de Souza Chaui e João Adolfo Hansen à mesa de cerimônia, composta pelos professores: Paulo Martins, diretor da FFLCH; Ana Paula Torres Megiani, vice-diretora da FFLCH; Alex de Campos Moura, vice-chefe do Departamento de Filosofia; Ricardo Nascimento Fabbrini, do Departamento de Filosofia; Adma Fadul Muhana, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas; e Marie Márcia Pedroso, Assistente Acadêmica.

Alex de Campos Moura

O professor Alex de Campos Moura agradeceu, em nome do Departamento de Filosofia, os mais de 50 anos dedicados ao Departamento, à Universidade, ao campo das artes, ao pensamento e, sobretudo, à autonomia criativa intelectual.

Como ex-aluno, Moura destacou a produção interdisciplinar de Kossovitch: "A característica do seu trabalho sempre foi fazer as áreas conversarem, estabelecer diálogos e não ter uma fronteira rígida para o pensamento", disse. E lembrou da dinâmica de circular livros durante as aulas como uma forma de acesso ao conhecimento em uma construção autônoma do pensamento filosófico.

Ricardo Nascimento Fabbrini

Em seguida, o professor Ricardo Nascimento Fabbrini falou sobre a entrada de Kossovitch como docente na USP, em 1970, e fez um paralelo com acontecimentos históricos que o Brasil vivenciava no período, como a Batalha da Maria Antonia, que levou a FFLCH para a Cidade Universitária, e o AI-5, que aposentou compulsoriamente muitos docentes.

Diante de tal barbárie política, Fabbrini ressaltou a importância da resistência intelectual e política de Kossovitch e outros grandes nomes da Universidade, que continuaram com uma intensa atividade acadêmica. A partir de 1978, quando assumiu a disciplina de Estética para alunos da filosofia e de outros cursos, o professor cobriu um vasto campo de conhecimentos, como arte egípcia, arte persa, cultura greco-latina, o ano 1000, os renascimentos, além de inúmeros artistas e discursos.

Fabrinni também lembrou a grandeza de Kossovitch dentro da sala de aula. "Suas aulas sempre foram reflexões vivas, encarnadas, feitas de afetos e ideias, feitas de dúvidas produtivas, de tal modo, que os alunos, a dada altura, se sentiam totalmente concernidos. (...) O caráter acolhedor de suas aulas convive com um pensamento que não se aquieta ou se amansa jamais".

Fabbrini entende que a produção e a própria trajetória acadêmica de Kossovitch, desde aulas, pesquisas, orientações, seus prefácios, artigos em jornais e periódicos científicos, em tempos de instabilidade institucional por quais o Brasil passava, eram verdadeiros atos de resistência e representaram uma imensa contribuição para filosofia, artes, estética e humanidades.

Adma Fadul Muhana

Na sequência, a professora Adma Fadul Muhana também ressaltou a importância de Kossovitch em seus anos de atividade docente. “Ele dividiu sua atividade intelectual entre as aulas, orientações e a crítica das artes. Sempre afável, muitas vezes irônico, erudito, generoso, rigoroso, sempre”.

E continuou: “No que concerne às aulas, Leon exige nelas uma implicação política na mais ampla extensão do termo. É conhecido por fazer com que cada encontro docente, a modo de uma representação dramática, constitua um acontecimento. Momento de reflexão viva, de pensamento em conjunto, de dúvida produtiva, que imprime afetos e ideias para além do fim das aulas, e que permanecem soando até o desejado encontro seguinte. É assim que ele se imprime no pensamento, e na ação ética e política dos que frequentam os cursos que ministra, revertendo o conhecimento empilhado trazido das escolas”.

Paulo Martins

O professor Paulo Martins, também um ex-aluno de Kossovitch, também foi profundamente influenciado por seus ensinamentos. “Trabalho não só com a retórica e com a poética, como também com as imagens. É para mim um momento muito significativo, de ser diretor da Faculdade e ter a honra de presidir essa cerimônia de Professor Emérito àquele que muito me ensinou, e com quem tenho uma grande filia”, expressou.

Leon Kossovitch

Nascido na Alemanha, Kossovitch veio para o Brasil e iniciou sua primeira graduação aos 19 anos, na Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro, em Uberaba, Minas Gerais, onde cursou Engenharia entre 1961 e 1965.

Em seguida, já na Universidade de São Paulo, cursou Filosofia na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), entre 1966 e 1969.

Na USP, defendeu mestrado, em 1970, com a dissertação Força e Retorno em Nietzsche, e doutorado em 1982, com a tese Condilac Lúcido e Translúcido, ambos sob orientação da professora Marilena Chaui.

Nesse período, se interessou por estética e filosofia da arte, que seriam suas principais linhas de pesquisa em muitos trabalhos posteriores. Como docente, ingressou na USP em 1970, orientando ao longo dos anos mais de 40 pesquisas de mestrado e doutorado. E seu currículo também conta com mais de 80 participações em bancas de defesa de mestrado e doutorado.

É autor de diversos livros, além de contribuir em obras de outros autores, artigos de jornais e revistas científicas. Seu primeiro livro é Signos e Poderes em Nietzsche, publicado em 1979, pela Editora Ática. Também é autor de Hélio Cabral (1995, Edusp), Prefácio - Dezesseis anos depois, a dissertação de João Adolfo Hansen (Itaú Cultural, 2000), Gravura: Arte Brasileira no Século XX (Itaú Cultural, 2000), Signos e Poderes em Nietzsche (Azougue Editorial, 2004) e Condillac lúcido e translúcido (Ateliê Editorial, 2011).

Atualmente, Kossovitch segue atuando na graduação e na pós-graduação do Departamento de Filosofia da FFLCH como docente e pesquisador, desenvolvendo estudos próprios e orientando novos pesquisadores nas áreas de estética e filosofia da arte, além de pintura, artes plásticas, arte e filosofia.

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O evento pode ser assistido na íntegra no canal do youtube da FFLCH.