Nascimento de Max Weber

Um dos fundadores da Sociedade Alemã de Sociologia, Max Weber foi o criador de uma nova abordagem sociológica, chamada de sociologia compreensiva

Por
Alice Elias
Data de Publicação

Nascimento de Max Weber
Segundo Daniel Fanta, "ao que tudo indica, Weber ainda continuará a ser um importante interlocutor intelectual para sociólogos, politólogos, historiadores e cientistas sociais por um bom tempo". (Arte: Renan Braz)

 

Em 21 de abril de 1864, nasceu o cientista social alemão Max Weber e um dos fundadores da Sociedade Alemã de Sociologia, em 1909, ao lado de Ferdinand Tönnies e de Georg Simmel. Autor de obras como Sobre Algumas Categorias da Sociologia Compreensiva e Conceitos Sociológicos Fundamentais, foi o criador de uma nova abordagem sociológica, chamada de sociologia compreensiva.

Weber contribuiu em áreas diversas a partir de sua preocupação em relacionar os fenômenos econômicos com outros componentes da realidade social, como a religião, as leis e a cultura em geral. Por conta disso, sua obra também é estudada por historiadores, filósofos, cientistas políticos, economistas, musicólogos e juristas.

“Os principais elementos expostos nos textos metodológicos de Weber são: a explicitação do uso de tipos ideais nas ciências sociais e o desenvolvimento de uma teoria empírica da ação, baseada na compreensão do sentido subjetivo que os agentes dão às suas ações”, afirma Daniel Fanta, doutor em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa: 

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Max Weber?

Daniel Fanta: Max Weber foi um cientista social alemão nascido na cidade de Erfurt em 21 de abril de 1864. Com formação em direito, economia política e história, tornou-se uma figura central para a nascente sociologia. Foi, ao lado de Ferdinand Tönnies e de Georg Simmel, um dos fundadores da Sociedade Alemã de Sociologia em 1909, e foi o criador de uma nova abordagem sociológica, chamada de sociologia compreensiva. Entretanto, em virtude do amplo leque de problemas tratados em suas pesquisas, a importância de Weber não se restringe à sociologia, área em que é considerado um dos autores clássicos, mas a sua obra também é estudada por historiadores, filósofos, cientistas políticos, economistas, musicólogos e juristas. 

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam o método de estudo sociológico de Weber

Daniel Fanta: Primeiramente, há em Weber uma certa orientação geral, herdada da tradição alemã da Economia Política Histórica, cuja principal característica (a despeito das diferenças entre os autores) era a preocupação em relacionar os fenômenos econômicos com outros componentes da realidade social, como a religião, as leis e a cultura em geral. No caso de Weber, o principal fenômeno econômico que buscava entender em sua especificidade histórica é o capitalismo moderno. Por esta razão, mesmo textos escritos por Weber antes de sua adesão à sociologia, têm, de um ponto de vista contemporâneo, um claro interesse sociológico. Para além dessa relevância sociológica geral, os principais elementos expostos nos textos metodológicos de Weber são: a explicitação do uso de tipos ideais nas ciências sociais e o desenvolvimento de uma teoria empírica da ação, baseada na compreensão do sentido subjetivo que os agentes dão às suas ações. 

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Sociologia? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Daniel Fanta: O próprio Weber considerou como a sua maior contribuição o desenvolvimento da sociologia compreensiva, nos textos Sobre Algumas Categorias da Sociologia Compreensiva de 1913 e na versão reelaborada após a I Guerra Mundial, os Conceitos Sociológicos Fundamentais, o capítulo inicial de Economia e Sociedade. Tanto a sociologia compreensiva, quanto os diversos textos metodológicos que fundamentam essa proposta, são essenciais para teoria sociológica e há um século influenciam diversos sociólogos, em especial aqueles preocupados em explicar a realidade social através de uma teoria da ação.

Contudo, as contribuições de Weber vão além dessas questões propriamente teórico-metodológicas e o cientista social alemão também é considerado clássico para diversos outros ramos da sociologia atual. Para citar alguns exemplos: os seus estudos sobre As Éticas Econômicas das Religiões Mundiais, iniciados com a Ética Prostestante e o Espírito do Capitalismo - sua obra mais lida e, para muitos, a mais importante - são textos essenciais da Sociologia da Religião. Também a sua descrição tipológica da “burocracia” o tornam um autor importante para a Sociologia das Organizações. A Sociologia Política e a Ciência Política incorporaram não só as suas definições de poder e dominação e a tipologia das formas de dominação legítima, como também trabalham com os textos em que Weber analisa os acontecimentos políticos de sua era, a Revolução Russa de 1905, a Primeira Guerra Mundial e suas consequências para a organização política da Alemanha, assim como a célebre palestra sobre a Política Como Vocação, que apresenta o desenvolvimento das formas de atividade política no ocidente. Tal como a Ciência Como Vocação expõe o desenvolvimento da Ciência e é um texto estudado pela Sociologia da Ciência. A Sociologia Urbana se interessa pelos estudos de Weber sobre a cidade medieval e a Sociologia da Música tem nos Fundamentos Racionais e Sociológicos da Música um estudo clássico sobre a racionalização da música ocidental, representada pelo temperamento igual e pela notação musical.

Além da importância para ramos específicos da Sociologia, os textos de Weber ainda despertam interesse e são valiosas ferramentas de análise para muitas questões novas nas ciências sociais. O capítulo intitulado Consideração intermediária (que leva esse título por estar no Estudos sobre as Éticas Econômicas das Religiões Mundiais, entre a parte dedicada à China e aquela dedicada às religiões da Índia) é lido como uma teoria weberiana da modernidade, assim como a sua caracterização da esfera erótica tem despertado o interesse de pesquisadores das relações sexuais.

Em suma, ao que tudo indica, Weber ainda continuará a ser um importante interlocutor intelectual para sociólogos, politólogos, historiadores e cientistas sociais por um bom tempo. Não apenas pelas suas contribuições teóricas e substantivas às diversas áreas de investigação institucionalizadas, mas também por sugerir interessantes pontos de vista para novos questionamentos que surgiram nesses mais de 100 anos que nos separam da sua morte.

Daniel Fanta é mestre e doutor em Sociologia pela FFLCH. Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. Tem experiência na área de Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Teoria Sociológica, Metodologia e Epistemologia das Ciências Sociais, Sociologia Clássica, Max Weber.