Título de professora emérita é entregue à linguista e semioticista

“O título de professora emérita de minha Universidade, de minha Faculdade, de meu Departamento me faz sentir que, em algum momento de minha vida nesta escola, eu soube, fiz a hora e não esperei acontecer”, declara Diana Luz Pessoa de Barros

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

 

 

 

Diana Luz Pessoa de Barros recebeu o título de professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em cerimônia realizada na tarde do dia 17 de agosto, quinta-feira, no Salão Nobre do Prédio da Administração da Unidade, assistida por professores, alunos, familiares e gestores universitários.

A abertura da cerimônia foi feita pela diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda.

“É com grande alegria que inicio esta cerimônia de outorga do título de professora emérita. Diana Luz Pessoa de Barros é a 56ª docente a receber esta distinção nos seus 83 anos de história da Faculdade, sendo a 15ª mulher. É uma docente marcante e decisiva para o prestígio conquistado pelo Departamento de Linguística. E, com esta homenagem, celebramos também a nossa Faculdade, alma mater da USP”, destacou.

Após a abertura, a homenageada entrou no Salão Nobre acompanhada do professor emérito da FFLCH, Sedi Hirano, que também foi diretor da Unidade (2002-05) e pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP (2005-07)

Em seguida, foi realizada a leitura e a assinatura do termo oficial de outorga do título de professora emérita. O secretário-geral da USP, Ignácio Maria Poveda Velasco, representando o reitor da USP, Marco Antonio Zago, fez os cumprimentos à docente Diana.

O secretário-geral também retomou parte da fala da diretora, falando do fato da Faculdade ser o berço da criação da USP, e comentou a importância desta honraria concedida pela Universidade.

A chefe do Departamento de Linguística da FFLCH, Evani de Carvalho Viotti, ressaltou que Diana é “uma das pioneiras [no Brasil] dos estudos de Semiótica da linha greimasiana”.

Saudação

A professora do Departamento de Linguística da FFLCH, Esmeralda Vailati Negrão, foi a responsável por fazer a saudação à homenageada, a convite da Congregação da Unidade. 

Durante sua saudação, Esmeralda citou trechos do texto Leçon – aula inaugural da cadeira de Semiologia Literária, lido por de Roland Barthes (1915-80) no Colégio de França, em 1977 – para falar sobre a linguagem, a língua e a importância de se comunicar.

Esmeralda destacou também a carreira acadêmica da docente Diana – a qual tem graduação em Letras pela Faculdade de Ciências e Letras de São José do Rio Preto, mestrado em Linguística pela Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3, França; e doutorado em Linguística pela USP. E, de 1973 a 2003 foi docente da FFLCH.

“Eu, como aluna do curso de Letras, com Linguística como uma de minhas habilitações, fui aluna da professora em 1974, na disciplina Semântica. Começou aí minha admiração por Diana, aquela jovem professora, que trazia para a disciplina a experiência bebida nos grandes centros e o entusiasmo que entusiasmava a todos os seus alunos. Entusiasmo pela busca de conhecimento, entusiasmo pela discussão acadêmica, eis um de seus traços marcantes”.

E, citou alguns projetos coletivos que a homenageada atuou e atua, como, por exemplo, Preconceito e intolerância em relação à linguagem, que coordena no âmbito do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da USP.

Segundo Esmeralda, a contribuição de Diana se deu e se dá no próprio desenvolvimento da teoria e também em suas pesquisas, podendo citar a sua tese de livre-docência A festa do discurso. Teoria do discurso e análise de redações de vestibulandos, apresentada e defendida em 1985.

Engajamento profissional

“Como parte do seu engajamento para destacar a imagem do Departamento de Linguística, foi chefe do mesmo por três vezes, de dezembro de 1992-1994, 1997-1999 e 2001-2002. Como chefe, foi decisiva na defesa das humanas dentro da USP”, destacou Esmeralda.

A docente também lembrou de outros cargos administrativos: presidente da Associação Brasileira de Linguística (Abralin), de 1991-1993. Além de secretária-geral da Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL), de 2008-2014, e representante da área de Linguística no Comitê de Letras e Linguística do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), nos anos de 1997-1998 e 2006-2009.

Quando aposentou-se na USP, em 2003, continuou sendo orientadora na Pós-Graduação da FFLCH, mas também dedicou-se a ser docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na qual assumiu a coordenação do curso de Pós-Graduação em Letras e o decanato de Pesquisa e Pós-Graduação.

Para finalizar, Esmeralda falou da importância da convivência com Diana. “Nesses anos todos de convivência como aluna, orientanda de mestrado, parceira, colega e, sobretudo, amiga, ter comigo armazenadas as lembranças desse longo e prazeroso caminho fazem parte do que sou”.

Diploma

Depois da saudação, a diretora da FFLCH entregou o diploma do título de professora emérita à Diana, outorgado pela Congregação da Unidade, em reunião realizada em 1º de junho.

Em seu discurso, a homenageada lembrou fez um que fez um breve resumo de sua história de vida e acadêmica nos últimos 45 anos, desde que começou a trabalhar na USP, ainda como monitora de Linguística, no ano de 1972.

“O meu agradecimento emocionado aos colegas, alunos e amigos do Departamento de Linguística, desta Faculdade e desta Universidade, que tanto me honram com a outorga deste título. Este reconhecimento, que vocês me fazem, tornou, enfim, possível que eu continue a dizer que se de muitas coisas me arrependo na vida universitária, não lamento ter-me empenhado com entusiasmo nos vários papéis que assumi”.

A nova professora emérita da FFLCH destacou que, apesar das decepções, das perdas, das tristezas e desencantos, ela continua a acreditar e, por isso, deu ao seu discurso o título Pra não dizer que não falei das rosas.

“O título de professora emérita de minha Universidade, de minha Faculdade, de meu Departamento me faz sentir que, em algum momento de minha vida nesta escola, eu soube, fiz a hora e não esperei acontecer”.

Estudiosos da linguagem

Ela lembrou também da infância na sua cidade de origem, Monte Aprazível, região de São José do Rio Preto. Citou sua mãe, que era professora de primeiro ano, “responsável pela alfabetização de quase toda a cidade”, e do professor de geografia do colégio estadual, o que ajudou a expandir nela o conceito de língua materna e hoje tem duas filhas professoras, uma linguista e outra pedagoga.

Diana recordou que lutou para dar visibilidade ao Departamento [de Linguística] e aos estudos de Semiótica e aos estudos desenvolvidos por ele. Ela ressaltou que, mesmo quando atuou em cargos administrativos, o seu foco era a parte acadêmica.

A docente também citou trechos de Barthes, de Mikhail Baktin (1895-1975) e de Mia Couto (1955 - ) para falar sobre o poder da língua e a linguagem.

“Cabe aos estudiosos da linguagem produzir conhecimentos sobre a língua e seus discursos. (...) uma forma de se conhecer a história, a cultura, a sociedade, o homem, enfim, e de abrir caminhos diretos ou indiretos para o desenvolvimento do ensino, da educação e para a organização e mudanças sociais”.

E, terminou dizendo que a homenagem que recebeu também é dos pesquisadores da área. “Com este título outorgado, pela primeira vez, a uma linguista semioticista, são os estudos de linguística e de semiótica que estão sendo reconhecidos”.

Maria Arminda encerrou a solenidade comentando sobre o significado desta homenagem à Diana. 

“A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas é a instituição da palavra. Ela é a instituição, portanto, que lida com os textos. Mas lida com a palavra, que é o princípio fundamental da humanização. É isso que nos alça à condição de superioridade. Em um momento que tanto precisamos da palavra, do diálogo, do entendimento, essa homenagem a uma linguista, a professora Diana Luz Pessoa de Barros, simboliza essa busca e traz a certeza de que isso seja possível”.

Presenças 

O evento foi prestigiado por muitos professores da FFLCH, das Unidades da USP e de outras universidades.

Destaque para os professores eméritos da FFLCH: José Pereira de Queiroz Neto e Sedi Hirano; da ex-diretora da FFLCH (2008-2012), Sandra Margarida Nitrini, e atual diretora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB); do vice-diretor da FFLCH (1990-94), Izidoro Blikstein.

O vice-diretor do Instiuto de Psicologia, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez; e o professor emérito da Escola de Comunicações e Artes (ECA), José Eduardo Vendramin;  da ECA.

Pela Universidade Presbiteriana Mackenzie: o reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto, o vice-reitor Marco Tullio de Castro Vasconcelos; e a professora emérita Maria Helena de Moura Neves, que também é docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp).  E, o diretor do Museu Lasar Segall, Jorge Schwartz. 

Confira, abaixo, algumas imagens da cerimônia. (Fotos: Fábio Nakamura / STI-FFLCH-USP)

https://www.flickr.com/photos/147779848@N03/sets/72157684248877292