Exposição no Museu do Futebol tem participação na curadoria de ex-doutorando da FFLCH

Marcel Diego Tonini, doutor em História Social, atuou como pesquisador na mostra que homenageia os goleiros e propõe uma reflexão sobre o racismo no Brasil a partir da história do jogador Barbosa, que faria 100 anos em 2021

Por
Eliete Viana
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Editoria

 

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​​​​​Quanto tempo o goleiro leva para iniciar o movimento de defesa após perceber o chute em direção ao gol? No esporte, esse é o tempo de reação. 
A exposição conecta a posição de goleiro, a trajetória de Barbosa e a causa antirracista - Foto: Divulgação


Está em cartaz, até o dia 21 de novembro, a exposição temporária Tempo de Reação - 100 anos do goleiro Barbosa no Museu do Futebol. Na ficha técnica que organizou e é responsável pela mostra está Marcel Diego Tonini, ex-aluno de pós-graduação, no mestrado e no doutorado, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que fez parte da equipe curatorial como pesquisador.​​​​​​​

Tempo de reação é o nome dado ao momento que o goleiro leva 
​​​​​​​para iniciar o movimento da defesa após perceber um ataque em direção ao gol. É um fundamento básico para o goleiro, posição que completa 150 anos de existência em 2021. Nesta exposição, a expressão ganha outra dimensão ao trazer o goleiro Moacyr Barbosa (1921-2000) para o centro do debate.

O nome Moacyr Barbosa sozinho, sem estar junto da função de goleiro, talvez não faça o público lembrar de imediato quem foi ele. Mas, t​​odo brasileiro que gosta de futebol (e provavelmente até aqueles que não gostam) já ouviu falar do jogador em reportagens que comentam a derrota do Brasil para o Uruguai na primeira Copa do Mundo de Futebol realizada aqui no País, em 1950.

O goleiro teve uma longa trajetória profissional, com grande sucesso nos times em que atuou, mas a memória sobre sua carreira é ainda aprisionada à aquela derrota. No ano em que completaria 100 anos, ele tem sua trajetória recontada sob outra perspectiva.

Com o auxílio das lembranças e do acervo preservados por Tereza Borba, sua filha adotiva, os curadores problematizam a narrativa hegemônica da responsabilização do goleiro pelo "Maracanazo". A partir daí, discutem-se também as consequências dessa narrativa para a história do futebol e para a trajetória do próprio Barbosa, evidências do racismo que estrutura o futebol e a sociedade brasileira.
 

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"Como Barbosa nos ensina sobre quem somos e quem queremos ser?", frase que acompanha imagens da exposição - Foto: Divulgação 


As reflexões e debates propostos pela mostra convidam o público a agir para mudar essa estrutura - pois o “tempo de reação” ao racismo é agora. Segundo o Museu do Futebol, a mostra é um ponto de inflexão na agenda antirracista assumida pelo órgão desde sua fundação, e que se aprofunda agora ante os acontecimentos de 2020, como o movimento Vidas Negras Importam

A exposição reúne extensa pesquisa feita a partir de entrevistas com especialistas, jornalistas, goleiros e biógrafos, conteúdo do Centro de Memória do Vasco. Também apresenta histórias e curiosidades sobre a posição do goleiro e sua evolução ao longo das décadas, além de defesas espetaculares; traz depoimentos de grandes goleiros e goleiras; e experiências interativas, como a oportunidade do público ter a sensação de se colocar sob uma trave de tamanho oficial.

Além da pesquisa que foi conduzida pelo historiador e ex-aluno de pós-graduação da FFLCH Marcel Diego Tonini, juntamente  com a  equipe  do  Centro  de  Referência  do  Futebol  Brasileiro, núcleo do museu responsável pelos acervos e pesquisas. A curadoria teve um processo participativo, envolvendo especialistas e representantes de diferentes setores do Museu do Futebol. Ao todo, cerca de 50 pessoas foram consultadas em seis meses de trabalho, que teve a coordenação da antropóloga Daniela  Alfonsi  e  a consultoria de Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, e do ex-atleta do taekwondo e membro da comissão de atletas do COB, Diogo Silva.
 

"Foi o trabalho mais importante e emocionante do qual já participei, tanto por ajudar a reescrever a história de Barbosa, quanto por levar a mensagem antirracista a milhares de pessoas durante os meses de exposição", destaca Tonini.


Pesquisas

Com mestrado e doutorado pela FFLCH-USP, Tonini também é bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Integra o Núcleo de Estudos em História Oral e o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas, vinculados à FFLCH. É um dos editores do site Ludopédio e integra o Conselho Editorial da Editora Ludopédio.

Ele tem experiência nas áreas de Ciências Sociais e História, com ênfase em Sociologia do Esporte, Relações Étnico-raciais, História Oral e História Sociocultural do Futebol, trabalhando principalmente com os seguintes temas: futebol, racismo, xenofobia, migração, memória e identidade.

Não só pelas áreas de interesse de Tonini, mas também pelos trabalhos realizados por ele pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH, que dá para perceber que a temática sobre a presença dos negros no futebol e o racismo não são novidades em suas pesquisas.

Com o título Além dos gramados: história oral de vida de negros no futebol brasileiro (1970-2010), Tonini propôs em sua dissertação de mestrado, defendida em 2010, um estudo sobre a questão racial no futebol brasileiro atual a partir das histórias orais de vida de alguns negros que atuaram entre 1970 e 2010. 

E na tese de doutorado, defendida em 2016, ele ampliou o assunto para fora do país indo analisar o "grande mercado" do futebol em Dentro e fora de outros gramados: histórias orais de vida de futebolistas brasileiros negros no continente europeu.

Ele pesquisou o fenômeno do racismo e da xenofobia na Europa através de levantamento bibliográfico, fontes diversas e, principalmente, histórias orais de vida de alguns futebolistas brasileiros negros que atuaram no continente europeu a partir da década de 1960. Tanto no mestrado quanto no doutorado, o pesquisador teve a orientação do professor José Carlos Sebe Bom Meihy, do Departamento de História.  


Serviço:
Exposição temporária Tempo de Reação - 100 anos do goleiro Barbosa
Museu do Futebol
Estádio do Pacaembu - Praça Charles Miller, s/n, São Paulo
De terça-feira a domingo, das 9h às 18h (entrada até 17h)
Ingressos: www.museudofutebol.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 20,00 Inteira | R$ 10,00 Meia
Acesso exclusivamente mediante compra antecipada com horário marcado.
Crianças até 7 anos não pagam.
Entrada gratuita para todos às terças-feiras (é obrigatória a emissão antecipada de ingresso pelo site)​​​​​