O professor emérito da FFLCH Ataliba Teixeira de Castilho foi o personagem dessa semana do "Memória FFLCH".
Por Paulo Andrade
Com uma experiência nas três universidades estaduais paulistas (Unesp, Unicamp e USP) o professor emérito Ataliba Teixeira de Castilho falou ao "Memória FFLCH" sobre sua carreira, dos problemas e algumas sugestões para os desafios que a USP enfrenta.
Nascido em Araçatuba e criado em São José do Rio Preto, o professor conta que sua paixão pela língua portuguesa foi despertada ainda no Ensino Médio, por inspiração do professor Amauri de Assis Ferreira. Essa paixão o levou a cursar Letras Clássicas, na USP, “Estudávamos Latim, Grego e Português”, recorda, “era um curso difícil, no qual só se formaram 6 colegas dos 14 ingressantes”.
Após a graduação, Ataliba foi convidado a lecionar na Faculdade de Filosofia de Marília, em 1961. Ele conta que, na época, o governador Carvalho Pinto (1959-63) desenvolvia um programa de integração do ensino superior do interior do estado, implantando diversos institutos de ensino que futuramente viriam a ser a Unesp. Os professores eram nomeados logo como titulares, ainda por volta dos 20 e poucos anos de idade. E havia o compromisso de se doutorar em até cinco anos.
Após o período em Marília, na Unesp (1961-75), o professor foi convidado para trabalhar na Unicamp, onde ficou de 1975 a 1992, quando se aposentou. Então, realizou concurso para professor na USP, onde ficou de 1993 a 2006.
Experiências fundamentais
Segundo o professor, na Unesp e na Unicamp novos projetos e novas ideias eram colocados em prática de uma maneira relativamente fácil.
Na USP, o contraste era com a burocracia. "Eu estranhei um pouco o jeito desta 'velha senhora', como eu chamava carinhosamente a USP. Se você tinha uma ideia, teria que lutar muito para essa ideia funcionar", diz.
O professor avalia que a Universidade envelheceu antes da hora, pois, de certa forma, acaba se fechando em suas próprias tradições. Ataliba ressalta que uma experiência mais diversificada é importante para o perfil dos docentes e isso é um padrão de formação docente e de cientistas comum no mundo inteiro. "Eu acho que temos que meter a mão na massa e modificar muita coisa", diz.
O professor expressou em diversos momentos a ideia de que a Universidade sempre deve estar aberta à inovação e às novidades, sem ter medo de mudar e arriscar. Ele avalia que a pouca idade de Unesp e Unicamp ajudou em uma maior facilidade para propor e colocar em prática novos projetos e reformas estruturais nas áreas estudadas. “Não havia tradição. Nós estávamos criando uma tradição. Quando você trabalha em uma instituição nova, se uma boa ideia é discutida com decência e clareza, ela vai pra frente”, afirma.
Por exemplo, o professor diz que na Unesp fizeram trabalhos de referência na área de linguística pela facilidade de mobilizar os docentes e propor mudanças. “Uma pequena faculdade, de uma pequena cidade de 80 mil habitantes, porque pôs o dedo no lugar certo fez as coisas”, lembra.
Segundo Ataliba, a Unicamp também era nova, sem muitas tradições. O reitor visitava os professores e os departamentos sem muitas cerimônias, e essa postura também ajudava as coisas acontecerem.
Para o professor, a USP deve sair fora dos seus muros. Ele conta que a FFLCH foi central nas orientações e consultas para a criação do Museu da Língua Portuguesa, por exemplo. “Temos uma cara externa muito positiva. A Faculdade talvez tenha mais que dar e levar tapas, e enfrentar as mudanças sem medo”, avalia.