Chamada – Revista Malala 10

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Peter Robert Demant
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Novo deadline para contribuições: 02 Dezembro 2018

Os Intelectuais e anti-intelectualismo: o debate e o papel dos intelectuais no Islã, Oriente Médio e Mundo Muçulmano e suas consequências

Intelectuais historicamente são figuras peculiares. Alguns escolhem uma vida quase herege fugindo dos centros de atenção, enquanto outros pensam indispensável o debate público e chegam a entrar na política, certos deles alcançando até mesmo cargos legislativos e executivos. Outros tantos dedicaram suas vidas às construções teóricas, não raramente legando uma obra cujo reconhecimento segue apenas muito mais tarde. No debate mais contemporâneo surge a figura do especialista que não só participa do debate público como também assessora governos influenciando políticas públicas - inclusive a externa. E com o crescimento também recente da polarização ideológica, surgem novos tipos de intelectuais que estão (conscientemente ou não) dispostos a “ganhar o debate”, como alertava Schopenhauer, usando e abusando de subterfúgios retóricos e de sofismos. Estes tentam manipular as emoções buscando apenas afirmar uma posição ideológica ou a defesa de sua posição. Debates do tipo “Pró vs. Contra” ou “Esquerda vs. Direita” se popularizaram em canais de TV, em universidades e em grandes jornais impressos, alimentando a sensação de descrédito, criando “narrativas alternativas”, e, finalmente, confundindo os fatos e minando a opinião pública.

As consequências deste processo levam à formação de “bolhas ideológicas” que, quando se chocam, produzem “guerras culturais” muitas vezes com consequências reais. Há desde “patrulhas ideológicas” dispostas a denunciar supostas doutrinações ideológicas[1] até casos nos quais o “politicamente correto” vence temas que muitos acreditavam superados como “censura”, “liberdade de expressão” e “objetividade científica”, que voltam ao centro do debate.

 A ascensão de figuras de perfil autoritário como o presidente dos EUA Donald J. Trump, o presidente russo Vladimir Putin, o turco Recep T. Erdoğan, o filipino Rodrigo Duterte ou Viktor Orbán na Hungria revelam que há – não só – uma crise intelectual, como se os intelectuais (principalmente liberais) estivessem falhado na defesa de suas ideias, como se fossem culpados pela decadência do Ocidente, ou da Grã-Bretanha, da Turquia, das Filipinas etc.

O anti-intelectualismo volta ao centro e manifesta-se como instrumento de mobilização política e de legitimação para forças anti-liberais e anti-democráticas. No mundo muçulmano e no Oriente Médio o debate é intenso, cobrindo desde intelectuais jurados de morte por suposta blasfêmia, como líderes políticos que manipulam o elemento religioso e culpam os intelectuais pelas desgraças e fracasso nacional. Salman Rushdie e Gilles Kepel[2] são há tempos jurados de morte, e muitos jornais e jornalistas, cartunistas, romancistas e cantores  precisam de escolta e vigilância policial para seguirem trabalhando, seja em Londres, Paris ou Cairo. Ao mesmo tempo crescem – como apontam relatórios de monitoramento da democracia e das liberdades democráticas do mundo[3] – as intervenções autoritárias por todo mundo. Desde a Venezuela onde ONGs ou Institutos de Pesquisas interdependentes são descredenciados e proibidos de trabalhar depois de apresentar algum resultado que desagrada ao governo[4], até a Polônia, onde está em trânsito um projeto que torna crime afirmar que o governo polonês em algum momento colaborou com o regime nazista, e no Reino Unido, onde a primeira ministra Teresa May afirmou aos que se vem como “cidadão do mundo” que na verdade são “cidadão de lugar nenhum”[5]. Estes fatos revelam um contexto político no qual as grandes utopias intelectuais parecem mortas.

Em muitos países ricos, como Japão e Coreia do Sul, ou mesmo nos países do norte da Europa, há cortes, quando não se elimina totalmente, no ensino das chamadas “ciências humanas”, mantendo um currículo básico de língua, história e geografia, mas evitando debates sociológicos ou polêmicas identitárias, priorizando - como tem feito a China e Cingapura – o ensino da matemática e suas aplicações para as áreas de engenharia, computação e indústria. Priorizando assim, a formação mais técnica e voltada ao “mercado de trabalho” em detrimento de uma formação mais acadêmica e intelectual.  De certa forma, os resultados deste processo já são evidentes[6]. Neste sentido, quais são os grande intelectuais de nosso tempo? Quais são os grandes debates (para além de polêmicas sobre nomes de prédios ou manifestações contra um palestrante) que saem dos departamentos de humanas[7] das universidades mais renomadas?   

 O sonho de uma integração econômica que evitaria novas guerras mundiais, de um Europa Cosmopolita, de uma ordem liberal pós-Guerra Fria, são hoje motivo de piada em encontros promovidos não por Organizações Políticas Internacionais como as Nações Unidas ou União Europeia, mas sim, por regimes autoritários como China[8], Rússia e Venezuela que estão mais ricos, mais articulados e dispostos a derrotar seus inimigos[9] políticos, econômicos, mas também intelectuais.     

Em contrapartida, no Ocidente, vozes abertamente racistas ou que manipulam medos e preconceitos chegam cada vez mais próximo do centro do debate. De uma crítica ao “politicamente correto” para a volta do antissemitismo, dos nacionalismos identitários e de movimentos neofascistas à ideia de “choque de civilizações” de Samuel Huntington ou de uma nova[10] “era de extremos” de Eric Hobsbawm são desafios para entender nosso – conturbado – presente.

Convidamos neste número para contribuições sobre os efeitos, causas e consequências do Anti-Intelectualismo para e no Oriente Médio e Mundo Muçulmano, bem como em suas manifestações no Ocidente. Trabalhos que refletiam – ou que versem - sobre intelectuais (ou escolas intelectuais) em geral também serão bem vindos. 

         

Solicitamos contribuições em forma de artigos, ensaios, relatos de campo, resenhas e textos opinativos. Outros formatos são permitidos.

As propostas de publicação (em português, inglês ou espanhol) em formato Word devem ser submetidas online pelo site da Revista.  As normas de publicação deverão ser estritamente observadas pelos autores e colaboradores.

 

Notas

[1] Cf. < https://www.thisamericanlife.org/645/my-effing-first-amendment > Acessado em 24/06.

[2]Cf. < https://www.nytimes.com/2017/04/05/magazine/france-election-gilles-kepe… > Acessado em 26/06/2018.

[3]Cf. <http://bigthink.com/scotty-hendricks/a-new-report-shows-democracy-is-in… > Acessado em 24/06/2018.

[4] Cf. debate em < https://www.hrw.org/pt/world-report/2018/country-chapters/313461 > Acessado em 20/06/2018.

[5] Cf. debate em < https://www.independent.co.uk/news/uk/politics/theresa-may-mein-kampf-a… > Acessado em 24/06/2018.

[6]  Cf. debate em < https://thediplomat.com/2015/09/the-japanese-governments-attack-on-the-… > Acessado em 24/06/2018. E em < https://www.insidehighered.com/news/2017/01/19/finlands-universities-fe… > Acessado em 24/06/2018.

[7] Cf. debate em <https://www.theatlantic.com/education/archive/2013/12/the-real-reason-t… > Acessado em 24/06/2018.

[8] Cf. em < https://www.independent.co.uk/news/world/asia/putin-xi-jinping-china-ru… > Acessado em 22/062018.

[9] Cf. debate em < https://freedomhouse.org/report/special-reports/breaking-down-democracy… > Acessado em 22/06/2018.

[10] Cf. debate de Luis Fernando Ayerbe (2014) < http://www.ieei-unesp.com.br/portal/wp-content/uploads/2014/12/ENSAIO-D… > Debate mais amplo em e-book disponível em < http://www.culturaacademica.com.br/catalogo/sem-diplomacia/ > Acessado em 24/06/2018.

MALALA - Revista Grupo de Trabalho Oriente Médio e Mundo Muçulmano
Editor-Chefe: Prof. Peter Robert Demant
Editor associado: Prof. Rafael Duarte Villa
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