Pensador asiático tem ampla contribuição para a filosofia

Pouco conhecido no Brasil, Kōjin Karatani tece críticas ao marxismo contemporâneo

Por
Thais Morimoto
Data de Publicação
Editoria

Kojin Karatani
Filósofo Kōjin Karatani. Foto: Berggruen Institute

Pensadores que não são europeus e fogem do ponto de vista hegemônico do Ocidente nem sempre são propagados e conhecidos pelo público brasileiro. Um desses pensadores é o filósofo contemporâneo Kōjin Karatani, cujas obras o aluno da Graduação em Letras-Japonês Fábio Ledier de Viveiros estuda e demonstra interesse em traduzir algumas delas, com a orientação da professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Eliza Tashiro Perez.

Kōjin Karatani nasceu em 6 de agosto de 1941. O pensador é graduado em Literatura e, segundo Ledier, o filósofo começou a se interessar por política após ter feito parte do movimento estudantil na década de 60. Ele também fez pós-graduação voltada à área de economia. 

Segundo os pesquisadores, o filósofo é um dos mais influentes do Japão contemporâneo, e em 2022, Karatani se tornou o primeiro pensador asiático agraciado com o prêmio Berggruen, descrito como uma espécie de “Nobel da Filosofia”. Para mostrar suas contribuições e tornar o pesquisador mais conhecido no Brasil, Perez e Ledier escreveram um breve artigo sobre o filósofo. 

Obra de Karatani

Com mais de 40 obras publicadas, Karatani defende que não devemos privilegiar teorias em detrimento de outras, estudando a relação entre obras de pensadores como Karl Marx, Immanuel Kant e Hegel, de acordo com Ledier. 

Foto de perfil do aluno Fábio Ledier de Viveiros
Fábio Ledier de Viveiros. Foto: LinkedIn​​​​​

Na obra mais famosa de Karatani, Transcrítica: Sobre Kant e Marx (título traduzido a partir do inglês), há uma releitura do marxismo. “O marxismo moderno tem algumas interpretações que Karatani não concorda e ele faz o livro como uma forma de tentar recuperar alguns conceitos que ele acha que foram perdidos com o tempo”, explica o pesquisador. 

Uma das críticas sobre o marxismo contemporâneo é que existe um foco maior no momento da produção do que no momento da venda. “O trabalho gera valor, porque uma pessoa está transformando alguma coisa que não vale tanto em alguma coisa que vale mais. Porém esse valor só é realizado quando esse produto consegue ser vendido para alguém, então a criação do valor vem nesses dois momentos: no momento do trabalho e no momento da venda”, afirma Ledier. Karatani considera que os dois momentos devem ser considerados no pensamento, sem que um seja privilegiado em relação ao outro. 

Ainda segundo Ledier, Karatani considera que o marxismo dá muito mais importância à realização do trabalho do que a realização da venda, e atribui isso a um certo engessamento do pensamento derivado da filosofia de Hegel, uma das influências de Marx. Em Transcrítica, Karatani utiliza a filosofia de Kant  para lidar com a dualidade venda-trabalho de uma forma diferente, explicando o subtítulo do livro.

Pouco conhecido no Brasil

Apesar de sua ampla experiência e contribuição no pensamento contemporâneo, Karatani ainda é pouco estudado no Brasil e nenhuma de suas obras foi traduzida para o português. Ledier explica que essa falta poderia ser devido ao pouco contato dos brasileiros com a filosofia oriental e, no caso do Japão, o termo e o conceito de tetsugaku que é a tradução japonesa atual de “filosofia" ser ainda recente, do final do século 19, de modo que os termos tetsugaku e shisô (“pensamento”) são utilizados alternadamente.  

Foto de perfil da professora Eliza Tashiro Perez
Professora Eliza Tashiro Perez. Foto: YouTube

Mas é possível encontrar obras de filosofia oriental no Brasil. Porém, segundo o pesquisador, “as obras que a gente tem são ou muito antigas ou por exemplo O Livro dos Cinco Anéis, que é sobre os samurais, o que entra um pouco mais no místico, naquilo que a gente espera que vai ser o Japão”, diz Ledier. 

O pesquisador também explica que o conteúdo das obras de Karatani é denso. “Para traduzir, precisa ter uma formação em Filosofia também”. Então, de acordo com Ledier, além do desconhecimento do público em geral, é necessário encontrar uma pessoa que consiga fazer a tradução, preferencialmente a partir do original em língua japonesa. Mas, Ledier também vê como diferentes pontos de vista podem ser complementares e comparados para chegar a outras conclusões.

O artigo da professora Eliza Tashiro Perez e de Fábio Ledier de Viveiros pode ser conferido na íntegra no link